- Gênero: Suspense
- Direção: Park Chan-wook
- Roteiro: Park Chan-wook, Jeong Seo-kyeong
- Elenco: Park Hae-il, Tang Wei, Lee Jung-hyun, Jeong-ahn, Go Kyung-Pyo, Shin-Young Kim
- Duração: 139 minutos
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Se a paixão correspondida já é capaz de transformar a realidade e trazer tanto um objeto de desejo quanto um ser amante irreais, o amor não realizado é ainda mais potente na criação de fantasias. Ele é capaz de imaginariamente transportar o corpo para perto do ser amado, de criar seus pensamentos e deduzir suas vontades, crenças e desejos. É nesse misto de fantasia e realidade que se encontram Jang Hae-joon e Song Seo-rae, um policial caxias e uma recém-viúva suspeita de ter assassinado seu marido. A história dos dois nasce em meio a essa investigação e é recheada por não ditos e incompletudes, espaços que são preenchidos pelo imaginário encantado de um e de outro, em tempos diferentes.
Decisão de Partir é, ao mesmo tempo, apaixonado e apaixonante. Seu diretor, Park Chan-wook (A Criada), encontra esse tom de confusão que o estado emocional confere aos que o experimentam, transformando aquilo que não existe em presença e ação, indo e voltando no tempo e intercalando eventos particulares com episódios paralelos que, assim como na vida, não deixam de acontecer porque alguém se encantou. Com a precisão técnica que lhe é caracterítica.
Por trás de tudo, a investigação do assassinato, aquilo que afasta e aproxima num suspense elaborado e cheio de reviravoltas, com direito a tocaias, longos depoimentos, mural de suspeitos e passagem de tempo. Pela estrutura, desenvolvimento e até por muitos detalhes da trama, Hitchcock vem à mente muitas vezes, em especial Um Corpo Que Cai, mas o que se vê é Chan-wook em toda sua originalidade e ousadia. Só pelo modo como ele trabalha os sentimentos e até a interação daqueles dois corpos é impossível não identificar o cinema do sul-coreano.
Com muita atenção ao desenvolvimento dos personagens, em especial dos complexos protagonistas e de sua difícil interação, seja pela situação em que se deu o encontro, pelo fato dele ser casado ou pela incomunicabilidade com a diferença da língua, pequenos detalhes tornam Decisão de Partir um exemplar diverso do gênero. É só ver o modo como torna concretas as sensações, e aqui indo além das desconfianças do detetive e misturando-as com os sentimentos do homem apaixonado, ou no tempo alongado de passagens, como numa “perseguição” que se dá pelas setas dos carros.
O interessante é que os eventos acontecem de modo a nunca deixar o espectador ter certeza do que virá a seguir. Novos movimentos confundem, assim como novos personagens surgem para deixar a trama mais confusa. Há uma linha lógica, mas ela é trabalhada sempre nessa chave da improbalidade, da ilusão, como se a realidade estivesse longe demais. É uma história de suspense, de detetive, mas Chan-wook está filmando e dando corpo à paixão, em seu começo, encantamento, atordoamento, confusão e fim. Uma paixão impossível, lembre-se, então ainda mais vigorosa e fantástica. E mais triste também.
Um grande momento
Na praia.