Crítica | Outras metragens

Desvirtude

(Desvirtude, BRA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Gautier Lee
  • Roteiro: Gautier Lee
  • Elenco: Évellyn Santos, Ana Spohr, Adriana Gucca, Roberta Rangel, Fernando Pine, Ingrid Camboim
  • Duração: 15 minutos

“Essas coisas são como pisar no pé de alguém. Você pede desculpas e segue em frente”

Injúria racial, que passou a ser tipificada como crime de racismo previsto na lei 7716/2012 é ofender alguém com base em sua raça, cor, etnia, religião, idade ou deficiência. No artigo 140 do código penal esse ato ou conduta ofensiva e que fere a dignidade humana prevê reclusão de 1 a 6 meses ou multa. Lembrando que o código é da década de 40 do século passado e que custa muito para a vítima levar a frente e fazer a denúncia já que essa injúria foi durante muito tempo normatizada e considerada exagero. Foi ou segue sendo?

Inspirada pela canção “En Tu Mira” de Baço Exu do Blues Gautier Lee desenvolveu o enredo de Desvirtude sobre uma universitária que é vitimada pelo racismo, tendo como algoz uma professora – aparentemente “muito querida”. Logo ela, mesmo sendo aquela que precisava ser apoiada e validada, passa a ser encarada com desconfiança pelos colegas de curso e até intimidada pela diretora da faculdade.

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Cronologicamente, Desvirtude aborda desde o ato até os seus desdobramentos e como a personagem se isola a partir da denúncia. Um pedido de socorro aplaudido, tido como “lacre” faz a história ir num crescendo com a estudante sendo largada e odiada pelos seus – ao ponto de em uma cena particular, ouvir da colega que o que houve na sala de aula não teve nada a ver com a raça dela – gritando e cobrando por justiça. Quando ela nota que a formatura chegou e a justiça não veio e no lugar, a raiva a consome ela sucumbe.

Natural de Angra dos Reis, foi porém no audiovisual gaúcho que Gautier Lee veio desenhando sua trajetória. A diretora e roteirista luta pela racialização do mercado, por mais e melhores oportunidades por isso também fundou o Macumba Lab, que reúne profissionais negros e negras do cinema no Rio Grande do Sul. Marcante a atuação e histórias como a de Desvirtude que vão rompendo a resistência à diversidade de narrativas no audiovisual gaúcho, tão dominantemente ainda feito da Casa Grande.

Desvirtude tem um propósito forte a atingir e destoa o formalismo na maneira com que a narrativa é contada assim como as atuações pouco naturais – especialmente do elenco jovem/universitários. Ainda que estes não comprometam o resultado final também não o elevam a um patamar mais alto.

Um momento marcante
“Vocês estão me matando”

[49º Festival de Cinema de Gramado]

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Lorenna Montenegro

Lorenna Montenegro é crítica de cinema, roteirista, jornalista cultural e produtora de conteúdo. É uma Elvira, o Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema e membro da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). Cursou Produção Audiovisual e ministra oficinas e cursos sobre crítica, história e estética do cinema.
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