- Gênero: Ficção Científica
- Direção: Shawn Levy
- Roteiro: Zak Penn, Matt Lieberman
- Elenco: Ryan Reynolds, Jodie Comer, Lil Rel Howery, Joe Keery, Utkarsh Ambudkar, Taika Waititi
- Duração: 115 minutos
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Em Jogador Número 1, de Steven Spielberg, Tye Sheridan é um jovem nerd que precisa abandonar o mundo virtual e experimentar a realidade a partir do amor que surge por outra jogadora para zerar o jogo e salvar o mundo. Acaba que o filme engaja mais pelas referências que traz, uma profusão de easter eggs sobre o mundo dos games e a cultura pop do que propriamente por seu enredo, gestado pelo roteirista Zak Penn a partir de um livro de relativo sucesso comercial. Em Free Guy: Assumindo o Controle, Penn se une a Matt Lieberman e o resultado que se vê na tela é realmente uma evolução a partir de uma premissa meio que parecida com a do filme de 2018, mas que, enquanto produto fílmico, traz uma possibilidade de imersão real — e que seria ainda mais exuberante se exibido em salas com tecnologia 4D.
É de Lieberman o argumento de Free Guy: Assumindo o Controle, uma produção da Fox que ainda pertence a leva pré-aquisição pela Disney, mas coaduna bem demais com os valores da gigante do cinema: um herói carismático e bobo mudando o mundo. Ele é ninguém mais, ninguém menos que Ryan Reynolds, que se não é o “amigão da confiança” se tornou, desde o sucesso estrondoso de Deadpool, um astro confiável pela sua versatilidade. Some-se a ele no elenco nomes fortes como Jodie Comer, Lil Rel Howery, Joe Keery, Utkarsh Ambudkar e Taika Waititi e a festa estará completa.
![Free Guy: Assumindo o Controle](https://cenasdecinema.com/wp-content/uploads/2021/08/Free-guy-assumindo-o-controle_interno3.jpg)
E é num clima de celebração que se desenrola boa parte da trama de Free Guy, mesmo que este siga a formulaica estrutura da jornada do monomito, o faz com graça e sem todas as obviedades convenientes. Guy (Reynolds) é um cidadão pacato que todo o santo dia veste a mesma blusa azul pálida, toma seu desjejum sem graça, passa na cafeteria do bairro e segue até a agência bancária onde trabalha como atendente. A grande diferença é que ele é um NPC (non playable characther, personagem não jogável) do jogo de tiro, porrada e bomba Free City – uma cruza de Gran Theft Auto e Fortnite. Guy vive e morre todo o santo dia, pelo menos até dar de cara com a MolotvGirl.
O ponto de inflexão e virada da história — o seu mundo não existe ou você mesmo é um construto, não uma pessoa tangível — já foi explorado em filmes, como Show de Truman e Walter Mitty com bons e maus resultados. Sem extrapolar nas expectativas, mas também evitando fazer mais um blockbuster com gosto de fast food que provoca aquela breve sensação de satisfação, Levy e a dupla de roteiristas conseguem fazer perdurar o efeito gerando uma experiência emocional, divertida e recheada de truques bacanas.
![Free Guy: Assumindo o Controle](https://cenasdecinema.com/wp-content/uploads/2021/08/Free-guy-assumindo-o-controle_interno1.jpg)
A tecnologia de imersão total no mundo da virtualidade dos games já vinha sendo explorado em produtos como o mangá que depois originou o anime Sword Art Online e é intitulada Isenkai. Mas especialmente Lieberman e Levy trazem para o ocidente esse conceito o trabalhando em uma fábula moderna recheada de efeitos visuais incríveis sobre descobrir o sentido da existência e achar um propósito para si. Quando Guy vai aos poucos extrapolando sua programação original e sendo um algoritmo, uma inteligência artificial que vai seguindo um caminho totalmente novo ele altera o mundo de Free City definitivamente. Logo os outros NPC também começam a sair do script e os jogadores do mundo real ficam intrigados e se perguntando se é alguma jogada da fabricante ou bug do jogo.
A trama principal, a história de Guy, vai sendo embrenhada de forma orgânica pela subtrama dos programadores Millie (Jodie Comer) e Keys (Joe Keery) que tentam sabotar os planos de Antoine (Taika Waititi) e reaver o jogo que eles criaram, Life Itself. Waititi inclusive está histriônico como o Mark Zuckenberg dessa história, um tipo ambicioso e sem talentos que rouba a ideia da IA super avançada e que desenvolve livre arbítrio lançada pelos programadores Millie e Keys para tornar melhor a jogabilidade de Free City.
E evidente que quanto mais Guy vai se desenvolvendo no jogo, colocando óculos escuro e invertendo a lógica de praticar atos bondosos ao invés de criminosos pela cidade para “upar” – ganhar mais itens, dinheiro e se tornar mais forte no jogo – gera desconforto e medo no melhor amigo Buddy (o sempre engraçadíssimo Lil Rel Howery). A química de Reynolds e Lil Rel é ótima, assim como a com Comer, que parece se divertir um bocado em uma produção mais leve, distante do que costuma fazer em Killing Eve ou em dramas de época como White Princess.
![Free Guy: Assumindo o Controle](https://cenasdecinema.com/wp-content/uploads/2021/08/Free-guy-assumindo-o-controle_interno2.jpg)
Com Free Guy, Shawn Levy (que dirigiu a franquia Uma Noite no Museu e episódios de Stranger Things) realiza seu melhor filme em muito tempo, usando de metáforas da infância para humanizar os personagens não humanos como sorvetes de chiclete, embalos nos balanços ou a música “Fantasy” da Mariah Carey. Ainda houve um acerto bacana em chamar YouTubers famosos para comentarem o jogo e as mudanças que vão ocorrendo por conta da participação cada vez mais chamativa de Guy. Channing Tatum surge hilário numa pequena mas importante ponta como a skin, o avatar usado por um jogador que mora na casa da mãe. E outros personagens do jogo são dublados por nomes como Dwayne Johnson e John Krasinski.
Coeso, dificilmente Free Guy abre brecha para continuações, pelo menos não com a mesma dinâmica e personagens. Mas que Ryan Reynolds pode, com o time certo de colaboradores, estar originando mais uma franquia, disso não há como duvidar. Com uma direção segura e sem arroubos como a de Shawn Levy, sustentada por um bom roteiro que não traz só fan service ou referências a todo sem conectar numa história empolgante com personagens bem delineado, é até um alivio pensar que possam vir mais famigeradas continuações que tenham algo mais do que um vazio acachapante de ação sem substância como munição. Free Guy e o novo O Esquadrão Suicida são exemplos satisfatórios de filmes arrasa-quarteirão com coração, cada um equilibrando um pouco mais o grande confronto midiático desse momento na indústria do cinema entre Disney e Warner Bros.
Um grande momento
Com o escudo do capitão América e o sabre de luz
Nota: 8