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Din e o Dragão Genial

A exuberância de ter amigos

(Wish Dragon, CHI, EUA, CAN, 2021)
Nota  
  • Gênero: Animação
  • Direção: Chris Appelhans
  • Roteiro: Chris Appelhans, Xiaocao Liu
  • Duração: 98 minutos

Após lançar o especial A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, a Netflix coloca hoje no ar nova compra da Sony Animation Studios, que nos leva a um outro lugar de sensibilidade, que só uma animação nos pode arremessar. Din e o Dragão Genial é uma produção passada na chinesa com inspiração absoluta da cultura milenar que o Oriente nos apresenta através do cinema desde sempre. Dessa vez, a novidade é o respeito não apenas por essa cultura, mas especialmente pelos valores igualmente ancestrais que sua sociedade nos lega, abdicando de malícia e esperteza para se concentrar na pureza de ideais que cada um de nós pode cultivar, se somos dotados de bons exemplos durante a vida. Sendo uma produção destinada a uma faixa etária mais ampla, sua mensagem é assimilada com facilidade mas sem didatismo, exatamente como deve ser.

Escrito e dirigido por Chris Appelhans, o estreante que anteriormente trabalhou nas equipes de filmes como A Casa Monstro, A Princesa e o Sapo e O Fantástico Senhor Raposo, o filme é de uma delicadeza visual acachapante. Nem espalhafatoso demais, nem discreto em excesso, o filme chama a atenção pela forma como lida com as cores, principalmente se levarmos em consideração que teremos em cena um personagem rosado durante quase em sua totalidade. A partir dessa certeza, o filme busca seu colorido através de uma paleta menos extravagante – já que um de seus protagonistas é a imagem da exuberância. Com isso, tanto o universo humilde quanto o abastado são dotados de sobriedade, cada um em sua área. Com esse equilíbrio delicado de fatores, sua proposta visual nunca cansa os adultos nem deixa de impressionar os menores.

Din e o Dragão Genial

Além disso, há um detalhamento gráfico em especial observado na direção de arte que encanta olhares mais exigentes. Toda a ambientação do universo de Din, sua casa, vizinhança e a colocação de sua mãe, tem requinte em seus acabamentos e realismo no aperfeiçoamento de seus objetos e do seu arsenal de elementos. A forma como dispõe a direção de arte da minúscula moradia do protagonista, sua subdivisão com a mãe e a maneira como integra a maior quantidade de personagens em cena nessas passagens entre ele e seus vizinhos salta aos olhos, e coloca o filme em lugar de minúcia. Sem ostentar técnicas suntuosas mas sempre buscando impressionar ainda que pela sutileza, o filme conquista os olhos em conjunto com sua narrativa, de equilíbrio harmônico.

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O roteiro de Din e o Dragão Genial não tenta inventar uma nova forma de contar histórias, se aventurar por lugares nunca antes listados por animações ou com originalidade a olhos vistos. Não, trata-se de replicar fórmulas e clichês de maneira convincente e delicada. Acima de tudo, o que observamos na produção é a sua genuína capacidade de acreditar no que está contando, na força dramática da sua simplicidade, e na eficiência de atingir o público com sua construção de personagens, nos sonhos dos mesmos, na veracidade de seus sentimentos. Ou seja, temos forma e conteúdo unidos para atingir o máximo em sua simplicidade, e isso é conseguido através desse sensível relato sobre a amizade e a força motivadora capaz de mudar planos, e mover… planos.

O toque essencial para o envolvimento do espectador é o carisma de cada um dos personagens em cena, desde o protagonista obstinado na pureza de sua busca até sua mãe, amorosa e dedicada, uma típica mãe-coragem. Também o núcleo de Lina é dotado de singeleza, principalmente o pai da jovem, um personagem cheio de camadas. Além desses mocinhos, o trio de vilões garante o bom humor necessário à produção e o grupo de vizinhos de Din, embora sempre existam em conjunto, é dotado de personalidade estética e muita graciosidade. Dotado da maior complexidade estética, o dragão dos desejos rapidamente é comparado ao gênio do Aladdin, ambos em suas personas espaçosas, visual feérico e humor contagiante. Ou seja, é um trabalho primordial em juntar tantos elementos complementares entre seu grupo de tipos, dentro do que se espera de uma produção tão bem sucedida.

O filme ainda correlaciona as relações entre os amigos Din e Lina, retratando os diferentes níveis de sacrifícios feitos pelos seus respectivos pais e a forma como ambos encaram a existência, refletindo ou negando as criações que receberam. De maneira especial, cada um deles acaba por ainda reverberar “mantras” ultrapassados, como aquela máxima bobíssima do dinheiro não trazer felicidade (mas precisamos achar bacana e engrandecedor abrir mão dele?). Mas são dessas tradições – e da manutenção delas – que também é feita a matéria prima de Din e o Dragão Genial, dessas obras que nos fazem tanto nos encantam quanto nos fazem rir, com suas modestas e por isso mesmo deliciosas intenções.

Um grande momento
Briga de dragões

Fotos: @CTMG, Inc.

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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