Crítica | CatálogoCríticas

Chocolate City

Remake meio amargo

(Chocolate City, EUA, 2015)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Jean-Claude La Marre
  • Roteiro: Jean-Claude La Marre
  • Elenco: Robert Ri'Chard, DeRay Davis, Vivica A. Fox, Michael Jai White, Imani Hakim, Tyson Beckford, Darrin DeWitt Henson, Jean-Claude La Marre, Carmen Electra
  • Duração: 88 minutos

Uma das (únicas) qualidades de Chocolate City é sua honestidade. O filme abre com uma fala do personagem Princeton: “vocês já viram Magic Mike, certo? Então vamos colocar um pouco de chocolate”. E esse resumo não poderia ser mais perfeito e conciso, que resume muito bem quais eram as intenções desse projeto caça-níqueis. Três anos depois de Steve Soderbergh ter feito o sucesso que fez com o requebrado de Channing Tatum, um tal de Jean-Claude La Marre resolveu ele mesmo copiar e colar tudo que tinha sido já feito na outra produção, com a adição de agora tratar-se de uma produção com atores negros, como o próprio – e que também tem um papel no filme, como um pastor. Isso significa que o título se objetifica como conservador? Olhando para a filmografia do moço, poucas dúvidas restarão. 

E a verdade é que, se a amarração de Chocolate City soa ambígua, com as margens entre o conservadorismo e a liberdade de expressão sendo borradas, até lá tudo mostra o oposto. Então sim, nós já vimos esse filme três vezes antes (e La Marre também tratou de criar uma franquia aqui, com duas continuações), mas apesar de filmar com alguns graus de ousadia, a mensagem subliminar passa longe do título que trouxe um quê de anos 90 aos cinemas de 10 anos atrás. Não são poucas as vezes onde o filme deixa claro que o correto, o melhor e o acertado a seu protagonista fazer, é se reconduzir de volta ao rebanho, e apagar essa vida de trevas que insiste em lhe tentar. Causa alguma estranheza ver homens sacudindo seus genitais para em seguida o protagonista levar uma surra por fazer o mesmo escondido, mas essa é a dinâmica da produção. 

O moralismo pouco discreto avança paralelo ao espanto que vamos tendo ao perceber que sim, o protagonista aqui também se chama Mike. Mas não se deixem iludir pela volúpia que os corpos dos atores virão a provocar, apenas a vontade de parecer uma grande produção que vendeu muitos ingressos é o que resta. O filme tem muito pouco dinheiro investido, os cenários e a textura fotográfica da imagem remete a algo bem simplório, o que casa com o roteiro e a direção de Chocolate City, que mais parece uma tentativa de homenagear Soderbergh, que um filme. Sem compromisso a não ser com a admiração que parece ter por sua matriz (incluindo citação a Matthew McCounaghey, o ator que recebeu muitos prêmios pelo original), o filme naufraga lentamente rumo a coisas já vistas. 

Apoie o Cenas

Não vou entrar no mérito de comentar sobre o elenco porque, em uma produção como essa, onde nada ajuda um processo de composição, ter um grupo de pessoas que ao menos não envergonhe, já é uma vitória. No afã de entreter uma fatia do público e entregar a um grupo poderoso de espectadores algo com que se identificar, Chocolate City esquece de manter um nível mínimo para uma produção ser vista sem provocar estranhamento. Isso advém do fato de que nada em cena deveria provocar interesse no público, que não fosse apenas ‘vamos rever um remake daquele filme de 2012’, que já não era um grande filme. Ou seja, existiam condições de evoluir com o que foi feito, mas é impressionante como não há interesse ou capacidade de crescer diante de algo que já era bem básico. 

Como chegamos até o final de um filme cujo maior atrativo é ficar olhando o tórax desnudo dos atores que interpretam os strippers – e que, diferente de Magic Mike, não têm traço de personalidade definida? O jeito é encarar da maneira como o filme se vende – escapismo sem compromisso, daqueles que você esquece ainda durante a sessão, mas que não conseguimos deixar de olhar. Longe de ser um ‘prazer culpado’, mas ainda assim fornecendo material para que nos mantenhamos na frente da tela até o fim. E que aí vamos descobrir que o tempo foi perdido, que nada nos foi acrescido, e que ainda já vimos outra produção idêntica anos antes, mais bem produzida e com o acréscimo de estarmos de frente para aquela atmosfera pela primeira vez. 

Um grande momento

Mike conta para a mãe 

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
Assinar
Notificar
guest

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver comentário
Botão Voltar ao topo