- Gênero: True crime
- Criador: Eliza Capai
- Canal: Netflix
- Temporadas: 1
- Duração: 50 minutos
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Em 2012, um crime chocou o Brasil. Pedaços de um corpo foram encontrados à beira de uma estrada. Depois de alguns dias descobriu-se que o cadáver era do empresário Marcos Yoki, herdeiro bilionário de uma das maiores empresas do ramo alimentício no Brasil. A esposa, Elize Matsunaga, assumiu ser assassina, a responsável pelo esquartejamento e pela ocultação do corpo. A história, macabra assim na sinopse, tinha uma quantidade de outras minúcias que iam aparecendo à medida que a investigação se encaminhava e o julgamento se aproximava.
Agora, nove anos depois do assassinato, cinco após o julgamento, o caso volta aos holofotes novamente com o seriado Elize Matsunaga: Era uma vez um crime. Dirigida por Eliza Capai, a série documental de 4 episódios faz uma cronologia dos fatos, escuta advogados, legistas, policiais e jornalistas, além de parentes de Elize e amigos de Marcos e conta com a única entrevista da ré confessa. Esta é a primeira e única vez que ela se dispõe a falar com alguém sobre o que aconteceu na noite do crime e possíveis motivadores do crime.
Independentemente de crenças e certezas pessoais, Capai abre margem para muitas reflexões com o modo como ela arranja sua investigação da personagem. Do “Pour Élise” na caixa de música ao momento em que revela o vídeo da cobra de estimação, a série demonstra que está interessada em ir além da imagem óbvia. Embora se utilize de elementos básicos de acessos, a diretora quer saber quem é aquela que está diante dela por ela mesma e quer saber também o que se enxerga dela.
Questões sociais e de gênero são inevitáveis, principalmente em um crime onde a configuração parece estar completamente ao avesso do que se tem como “normal”. Mas o simples fato de ter uma mulher no centro, e aqui não justificando ou minimizando qualquer conduta dela, já é o suficiente para que o machismo chegue em golpes baixos e violentos. “Você sabe a origem dela, né?” Porque existe uma coisa de subjugação da mulher que independe do lugar onde ela esteja e da posição que desempenhe em algo: vítima, ré, testemunha. O simples fato de ser mulher coloca a pessoa num lugar de pronta perseguição e minimização diante do outro.
E se a desclassificação da pessoa torna-se a linha mais forte da defesa por ser a mais natural e a mais fácil para a opinião pública (“a minha mãe me ligou”), Capai mostra como ela vai se infiltrando por todo o processo e, arma usual para todAs, servindo também para o outro lado. A complexidade das reviravoltas do caso, detalhes que ficaram esquecidos no meio de tantas outras coisas, posicionamentos forçados e as opiniões de hoje daqueles que participaram da situação à época seguem girando em torno de uma figura que alterna entre o desconhecido e o conhecido, entre o verdadeiro e o falso.
Elize Matsunaga: Era uma vez um crime não consegue chegar à compreensão do ato em si. Não soluciona muitas das questões que restaram pouco claras do assassinato, mas a intenção nunca fora essa mesmo. O interesse do seriado era olhar todo o circo armado, era observar as pessoas por trás de seus sobrenomes e das cifras, entender essa lógica do valor da justiça.
Um grande momento
A revitimização de Marcus