- Gênero: Drama
- Direção: Marizele Garcia
- Roteiro: Endryck Renan, Lauany Fernandes, Monique Gabrielle, Marizele Garcia, Guilherme Amado, João Werlang
- Elenco: Endryck Renan, Lauany Fernandes, Monique Gabrielle
- Duração: 13 minutos
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Ao largo das provocações formadas por esse ‘cinema do eu’ muito amplificadas em Tiradentes 2025, existe um cinema de construção geográfica também correndo em paralelo a isso. Um grupo de filmes, de preocupação primordial entre curtas, que se comunicam através do percurso que seus personagens elaboram em cena, no que constitui esses inúmeros caminhares e em como a narrativa é também uma expansão desse olhar. Marizele Garcia encontra nesse caminho metafórico uma maneira de situar seu Entre Aulas em uma zona de contínuo desconhecimento, como se cada nova curva fosse uma descoberta para um novo horizonte de ideias. Literalmente.
Entre Aulas é um ato de delicadeza forte porque o filme não se molda ao que o espectador está em perspectiva prévia, e sim amplia nosso olhar em busca de novas saídas para suas encruzilhadas. Sem excluir o outro de sua visão, o filme convida o espectador a uma jornada dita simples mas de profunda conexão com o misterioso, isso difundido para além do roteiro. O relevo que Garcia entabula sugere um recorte menos imaginativo do que vemos; como se trata de curta-metragem, antes que consigamos nos acostumar com o jogo da diretora, o filme se encerra, e com ele vai junto o fascínio naquele último plano que segue um dos protagonistas, parado. Como a dizer que paramos de acompanhar, mas o mistério ainda está ali.
A diretora tem a complexa missão de sempre apontar um encaminhamento, nos moldar para tal, e no momento seguinte concluir com novo jogo espacial. E com isso, Entre Aulas acaba promovendo um jogo que vai muito além da difusão da ironia com seu título; porque existe muito mais entre essas aulas do que o filme sequer ameaça dizer. São três protagonistas em um momento que pode se repetir algumas outras vezes, ou não – porque é uma espécie de infância/adolescência, um daqueles períodos onde nada mais será igual. E onde todos os diálogos têm o máximo em importância momentânea.
Com as micro regras estabelecidas, Entre Aulas começa a confrontar suas ideias com novos signos de imagem. Ao enquadrar seu trio em janelas abandonadas, e com isso promover uma espécie de apagamento para tais criaturas em 150 anos antes, para legar a eles um futuro de fantasmagoria, para encontrar vestígios de horror tanto em seu passado como em uma possibilidade de futuro. O que eles tem então? Um presente onde a fábuĺa é o principal motor de entendimento, e onde através dela relações podem ser construídas e desenvolvidas. É um processo que cobre suas personagens por uma estrada rumo ao amadurecimento, no que ele tem de mais singelo e também em seu lado mais sombrio.
Com um trio de crianças (pré-adolescentes?) muito especial, que sabem olhar uns para os outros, e comunicar-se dentro do vazio – que é complicado de realizar inclusive entre adultos – Entre Aulas joga o tempo todo com o espectador, em uma lógica que parece muito simples e sutil. Não há nada menos sutil, do que a tentativa de mínimo, mas sua diretora consegue o feito de nunca soar forçado em suas intenções. O resultado é uma pérola que nasce pedindo para ser notada.
Um grande momento
História de fantasma