Crítica | Catálogo

Esquema de Risco – Operação Fortune

Rindo do conhecido

(Operation Fortune: Ruse de guerre, EUA, CHI, TUR, 2023)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: Guy Ritchie
  • Roteiro: Ivan Atkinson, Marn Davies, Guy Ritchie
  • Elenco: Jason Statham, Aubrey Plaza, Cary Elwes, Hugh Grant, Josh Hartnett, Bugzy Malone, Eddie Marsan
  • Duração: 114 minutos

Orson Fortune. É um nome sexy. Quem diz isso é Greg Simmonds, personagem de Hugh Grant, ao igualmente sedutor agente especial cheio de firulas vivido por Jason Statham em Esquema de Risco – Operação Fortune, novo longa de Guy Ritchie que acaba de chegar aos cinemas. São detalhes como esse que tornam o filme, mais um na seara das produções de espionagem e ação que estamos acostumados a ver aos montes por aí, um programa especial.

A história é aquela: um artefato de grande poder ofensivo é roubado, não pode cair em mãos erradas e o governo precisa chamar o seu melhor agente, com um time de primeira linha, para solucionar a questão. Nada que o mínimo de intimidade com Ian Flemming, Tom Clancy, Bruce Geller ou qualquer outra coisa parecida já não tenha mostrado antes. O diretor britânico parte justamente dessa intimidade com o gênero para divertir. Só que ninguém sabe o que se está procurando e muito menos para o que serve, seu espião é um cara cheio de não-me-toques e fobias e a equipe é toda de substitutos.

Esquema de Risco - Operação Fortune
Diamond Films

Mas Esquema de Risco longe de ser só uma comédia, embora faça rir com essas idiossicrasias e mais o afetado vilão que abre o texto, é ação de primeira. Ritchie, portanto, está confortável em um ambiente que já mostrou ter habilidade para controlar. Assim como Jason Statham, seu parceiro de longa data, que estreou no cinema no aclamado Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, em 1998, e esteve em mais dois filmes do realizador, Snatch: Porcos e Diamantes e Infiltrado. Depois deste último drama, o reencontro de ambos demonstra como eles funcionam bem nassa mescla entre adrenalina e humor, e aqui a parceria se aperfeiçoa com a chegada de Aubrey Plaza (Emily The Criminal) como a hacker poderosa, ou, digamos, uma Bond girl mais moderna.

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Há estilo no modo como as coisas se organizam na trama. Da onipresença blasé do chefe que acompanha de longe as ações e do subordinado que vai a campo quando precisa até a sequência final, onde o cara que dá nome ao filme (ou subtítulo, no caso do Brasil) tem que mostrar todas as suas habilidades, o caminho é bem trilhado. O roteiro, assinado pelo próprio Ritchie, ao lado de Ivan Atkinson e Marn Davies vai se aproveitando do conhecido e costurando seus improváveis personagens em novas situações, e o nada leva ao caos, num envolvimento crescente.

Esquema de Risco - Operação Fortune
Diamond Films

Atento àquilo que provoca no espectador, Esquema de Risco tem suas ousadias. O modo como o filme começa, na longa caminhada do agente Nathan, vivido por Cary Elwes (Jogos Mortais), até a sala do chefe pontilhada por cortes mudos da ação do roubo do dispositivo, enquanto só se escuta o som de passos que se transformam em trilha é um deleite. Porém, é um filme que também funciona no modo como trata o trivial, em especial as frenéticas cenas de ação.

Obviamente, nem tudo são flores. Podemos falar aqui dos problemas de representação bem graves e antiquados e que parecem não ter sido superados pelo diretor e roteirista, em especial quando olhamos para as personagens Sarah, JJ e Emília. Ainda que a primeira tenha um resquício de desenvolvimento, os outros dois não passam de meros elementos funcionais à trama. A terceira, então, nem se fala. 

Apesar dos pesares, enquanto peça de entretenimento, Esquema de Risco – Operação Fortuna é certeiro. Abrindo brechas para outras missões e fazendo troça do que se tornou mais clássico no cinema de espionagem, com suas versões de agências, espiões, contraespiões e até mesmo vilões com direito a exposição malévola, é daqueles filmes que assumem sua função e não têm a menor intenção – ou pudor – de fazer pensar. É para sentar, pegar a pipoca e se divertir, pura e simplesmente. 

Um grande momento
A vergonha de Greg

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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