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A Mulher da Luz Própria

(A Mulher da Luz Própria, BRA, 2019)
Nota  
  • Gênero: Documentário
  • Direção: Sinai Sganzerla
  • Roteiro: Helena Ignez
  • Duração: 81 minutos

Não existe maior prova de amor por parte de um cineasta do que a entrega de seu filme a alguém. Sinai Sganzerla não apenas realiza um documentário sobre sua mãe, a lendária Helena Ignez, como o oferece generosamente a ela, permitindo que conte sua história em primeira pessoa e à sua maneira. Um adorável “Oi” é a primeira coisa que a atriz, diretora e roteirista fala e, sinceramente, não precisaria de mais para ganhar imediatamente o espectador.

O clima é de conversa, a narração é de diário e as perguntas que Ignez propõe e o filme não quebra a cabeça para responder – Quem é Helena Ignez? O que é suficiente para entender uma pessoa? – ressaltam a plena consciência da impossibilidade da compressão de uma força da natureza como tal mulher num produto audiovisual de pouco além de 70 minutos. Ou 70 mil minutos que fossem.

A Mulher de Luz Própria
Divulgação

Isso não quer dizer que o documentário despreze informações biográficas padrão ou não relate a vida da atriz e sim que ele não se orienta por isso, estando a diretora mais focada em seguir os interesses de sua mãe do que recuperar detalhadamente passagens marcantes de sua trajetória ricamente documentada em imagens.

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Como era de se esperar, tendo em vista a relevância da retratada e até mesmo a quantidade de fotos, viagens, personagens, transições e recomeços, o longa é volumoso, e a decisão pelo uso de músicas quase que ininterruptamente – com abundância de Erik Satie ainda por cima; antes fosse overdose de tropicália ou algum gênero vanguardista como a protagonista –, sem silêncio, sem ambiente, sem descanso, não favorece a experiência.

A Mulher da Luz Própria
Divulgação

Irrestrito ao passado, o brilho da Mulher da Luz Própria aponta para o futuro e o filme acompanha Helena em andanças, projetos e desejos em progresso. Sem revelações ou reflexões técnicas a respeito de seu estilo personalíssimo de atuação, a filmografia é comentada pelo viés do afeto e do ativismo, e os amores famosos não atraem mais holofotes do que o estritamente necessário. Glauber enquanto parceria inicial desbravadora, Bressane importante virada de página, Sganzerla e o dueto definitivo, e principalmente as consequências de cada relacionamento na vida de Ignez.

Um corpo político feminino, a atriz traz em si não apenas a própria história, como a de sua terra. Da rejeição na sociedade baiana por ser artista desquitada à perda da guarda da filha, das dificuldades no exílio ao comentário sobre a participação dos Estados Unidos no golpe militar de 1964 em frente ao muro escrito “Lula Livre”, Helena sempre foi e segue sendo ação e reação, o que o presente de filha para mãe registra muito bem.

Um Grande Momento:
Sônia Silk

[Festival do Rio 2019]

Taiani Mendes

Crítica de cinema, escritora, poeta de quinta, roteirista e estudante de História da Arte. Também é carioca, tricolor e muito viciada em filmes e algumas séries dos anos 90/00.
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