Começou ontem (9), com a exibição do curta A Canga, de Marcus Vilar, e do longa A Viagem de Pedro, de Laís Bodanzky, o 16º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro. O evento, que vem crescendo a cada ano — e isso está muito evidente na potente seleção desta edição — é uma celebração da produção paraibana e nacional.
A coordenação geral do festival é assinada pelo pesquisador, professor e crítico de cinema Lúcio Vilar. Ele conversou com o Cenas sobre o festival e contou um pouco da história do Fest Aruanda, das atividades paralelas e falou aquilo que o público pode esperar dessa edição, que vai até o próximo dia 15 de dezembro.
A história do Fest Aruanda começa lá em 2005, como uma mostra da UFPB e agora é um festival grande, o maior da Paraíba, com filmes que representam o Brasil no mundo inteiro, além de apresentar mostras internacionais, como a da União Europeia e a portuguesa, e trazer vários convidados e homenageados. Como é olhar para trás, fazer essa retrospectiva?
Olha, nos 15 anos do festival, em 2020, recuperaram um vídeo feito no velho e charmoso VHS, de 2003, momento em que realizamos o que chamo de embrião do Fest Aruanda que foi uma mostra Rodrigo Rocha de vídeo universitário. E fiquei pasmo quando me vi falando através de fragmentos de uma entrevista, que aquele evento era um ‘piloto’ de algo maior que viria pela frente. O festival mesmo, com o nome de Aruanda só surgiria dois anos depois, em 2005, mas como jornalista havia entrevistado Vladimir Carvalho no Festival de Brasília quando ele esbravejou aos quatros ventos “que toda biboca desse país tem um festival, só a Paraíba que não tem o seu”. Creio que isso também ficou na minha cabeça e com meu ingresso como professor efetivo da UFPB, favoreceu, conspirou para a criação do festival que foi, claro, um processo paulatino, um trabalho de formiguinha até adquirir musculatura e chegar ao que é hoje.
Há dois pontos constantes nessa trajetória do festival que se destacam muito. O caráter de formação de público, com o Cine Aruandinha, e as atividades formativas, neste ano com a oficina de roteiro para animação e o laboratório de narrativas híbridas. Você pode me falar como funcionam essas iniciativas?
Desde sempre, nos pautamos por essa política de formação de público ou de plateia, assim como pelas ações formativas (oficinas, seminários etc), alternando reflexão teórica, até porque o evento nasceu na UFPB, e requalificação profissional. Desde o primeiro Fest Aruanda, já realizamos mesas temáticas sobre ‘cinema da retomada’, por exemplo, com Maria do Rosário Caetano, de modo que esse projeto de atividades paralelas cumpriu seu papel e, hoje, segue avançando em outros formatos como é o II Laboratório Narrativas Híbridas, com a diretora Susanna Lira. O critério balizador é sempre o de primar por contemplar demandas que estão na ordem do dia do audiovisual local.
Este é um momento de retomada, onde as coisas estão tentando voltar à normalidade e, ainda assim, sob a sombra de uma nova incerteza. Como estão os preparativos, os cuidados e quais são as expectativas para essa edição?
Realizaremos todas as sessões presenciais na rede Cinépolis, em João Pessoa, mas também em nossa plataforma AruandaPlay que será acessado a partir de nosso site. Entretanto, nossas atividades formativas e de debates dos filmes etc, serão realizadas através de nosso canal no YouTube. Já havíamos tomada essa decisão antes do anúncio da nova variante Ômicron, de modo que compreendemos ser necessário ainda algum grau de cautela. Será exigido o Passaporte Vacinal e o cinema disponibiliza álcool em gel e demais medidas sanitárias, como manda a legislação vigente.
Com a pandemia, o online se tornou a única possibilidade para a edição do ano passado acontecer e, nesse ano, o Fest Aruanda acontece novamente em formato híbrido. Você pode falar um pouco sobre o alcance do festival na 15ª edição? Esse é um formato que deve permanecer no futuro?
O alcance foi substancial, muitas pessoas que normalmente não vão ao festival, mesmo antes da pandemia, tiveram a oportunidade de conferir e assistir no aconchego e segurança do lar, foi excelente essa resposta do público, o que demonstrou que essas plataformas vieram pra ficar. Essa é especulação que tenho feito desde 2020 e que vem se confirmando na prática, ou seja, dentro da linha das convergências midiáticas, intuo que sejam instâncias que vão coexistir sem necessariamente uma sobreposição de uma em relação a outra. Isso nós percebemos no dia a dia das pessoas, como as plataformas já fazem parte e suprem necessidades profissionais, afetivas, familiares etc. Sem ser apocalítico, vejo isso de forma simpática, desde que possamos explorar ao máximo suas possibilidades.
Neste ano são 60 filmes, muitos gêneros, linguagens e narrativas diferentes. Realmente, uma seleção de peso. Sei que essa é uma pergunta quase impossível de responder, mas tem alguma coisa que você destacaria na programação?
Expansão é uma palavra que define bem o festival nesta edição de 16 anos, cujo enquadramento envolve e reúne em nossas telas durante sete dias, muitos personagens, tramas, linguagens, estéticas e, claro, temáticas urgentes que estão na ordem do dia desse Brasil em transe, adoecido, mas revigorado por filmes instigantes e pungentes que vão além da crítica, não se limitam à distopia desses dias infames. Entre curtas e longas das mostras competitivas, chamo a atenção também para o olhar de jovens diretores que estarão em trânsito com um grande diretor egresso dos anos 1960 que se chama Júlio Bressane, por exemplo. Creio ser o fluxo narrativo desses filmes, esse ano, um chamariz reluzente que vai mobilizar o público e a crítica, quero crer nisso, é a aposta da curadoria assinada pelo Amilton Pinheiro e pelo locutor que vos fala.