Crítica | Streaming e VoD

Sem Pressão

O sol já nasceu na fazendinha...

(Nic na sile, POL, 2024)
Nota  
  • Gênero: Comédia romântica
  • Direção: Bartosz Prokopowicz
  • Roteiro: Karolina Frankowska, Katarzyna Golenia
  • Elenco: Anna Szymańczyk, Anna Seniuk, Mateusz Janicki, Artur Barcis
  • Duração: 107 minutos

Jamais pensei que veria uma produção dessas polonesas da Netflix com esse teor de narrativa. Durante muito tempo, Sem Pressão, outro sucesso surpresa do streaming de maneira quase surreal, lembra os piores momentos das piores novelas de Walcyr Carrasco, com direito a bichinhos na fazendinha, patos que atacam a protagonista, um amor desses de novelas das seis (as ruins) entre tipos que se odeiam, e muita piada sobre criação de animais. Acredito que exista um público que aprecie isso, vide que Carrasco é um dos autores de telenovelas contemporâneas com o maior número de sucessos. Nada disso impede seus trabalhos de serem horríveis; encontrar um filme com características que me lembrem dele, foi uma tortura particular. 

Não sabemos como o espectador descobriu esse “opus”, mais um caso parecido com o que tenho citado ultimamente de produtos da Netflix que são pouco divulgados, a despeito de interessar ao público. A incógnita seria somente quanto a descoberta mesmo, porque admirar algo assim é o que vimos acontecer quando produções como Alma Gêmea e Êta Mundo Bom! alcançaram o público. Mas na telinha global, tudo é muito bem divulgado, e o grande público gosta desse festival de ingenuidade mesmo. Sem Pressão tem os mesmos predicados, e o sucesso dele mostra que, se há crise na audiência das telenovelas, não é por falta de interesse o público, que está em massa assistindo essa versão ainda mais pobre de A Megera Domada – sendo que a intenção aqui é de tal forma tão ingênua, que seus personagens não fazem nem farão mal nenhum a ninguém. 

Outro fenômeno interessante, que também já apontei aqui anteriormente, e o farei de novo. Sem Pressão é produzido por duas mulheres, escrito por duas mulheres, protagonizado por uma mulher, cujo alicerce da trama fala sobre empoderamento (de alguma forma)… e porque o filme é dirigido por um homem? Não importa se o resultado seria o mesmo, não importa que, apesar disso tudo, o filme ainda termine da maneira mais machista possível – e que é tradicional dessas narrativas horrorosas… fico me perguntando se ninguém percebe o quanto é problemático isso. E o quanto, apenas talvez, mais uma mulher no comando não teria vergonha de colocar no ar esse desfecho absurdo, que remete ao início dos tempos no cinema. 

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A verdade é que não existem muitos motivos para ficar feliz pelo sucesso de Sem Pressão, a não ser o sonho de que o espectador esteja ouvindo uma língua diferente à predominante no mundo, porque entre esse filme e Pedido Irlandês, por exemplo, não tem muita diferença. As coisas de sempre estão aqui: o amor que nasce da implicância, a mentira infantil e desnecessária que só vai trazer problema, os coadjuvantes “pitorescos” que surgem a cada esquina – e são bem pouco desenvolvidos. Ainda que o interesse principal seja no romance entre a chef de cozinha renomada e o fazendeiro pouco bronco, o roteiro apresenta muitos personagens ao seu redor, e infelizmente eles são apenas ‘escadas’ para fortalecer o tempo da história principal.

O que soa interessante em Sem Pressão é acompanhar alguns campo de acesso à narrativa que mostrem a sociedade rural polonesa, e seus costumes tradicionais. O desfecho do filme acontece em uma festa de venda agropecuária local, com danças típicas e um interesse que parece genuíno pelo que é mostrado. Até que em determinado momento uma briga entre mulheres começa no meio dessa festa, com personagens puxando os cabelos uns dos outros, e nos lembramos que Walcyr Carrasco encontrou uma versão nórdica sua, escrevendo da mesma maneira estereotipada para fazer com que o tempo do espectador passe o mais rápido possível. É por esses e outros filmes que eu não consigo ficar com raiva do sucesso de nossas produções, como Os Farofeiros 2. Mil pontos pra nós.

Aqui, estamos diante do mesmo desfecho de sempre: alguém precisa ceder ao outro na busca pela felicidade. E adivinha se não é a mulher que faz isso, declarando que “finalmente estava voltando às suas raízes”? Bom, como não vejo Sem Pressão em nenhum momento declarando que aquela personagem estava em busca de algo que não a realização de seus sonhos (que são abandonados pelo “amor”), nada disso faz muito sentido. Nem isso, nem o fato de que existe uma personagem escondida na narrativa, citada durante todo o filme e nunca mostrada nem em foto. Olha… deixa pra lá viu…

Um grande momento

O reencontro entre as amigas

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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