- Gênero: Comédia
- Direção: Homero Olivetto
- Roteiro: Pedro Neschiling, Jovane Nunes, Victor Leal
- Elenco: Welder Rodrigues, Adriana Nunes, Ricardo Pipo, Victor Leal, Jovane Nunes, Adriano Siri
- Duração: 84 minutos
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Existem muitas histórias teatrais contemporâneas de sucesso na comédia (Minha Mãe é uma Peça, Cócegas, Os Suburbanos, 5 x Comédia, entre outras), mas talvez nada seja mais longevo que Hermanoteu na Terra de Godah, que foi montada pela primeira vez em 1995, uma criação coletiva da companhia de comédia Os Melhores do Mundo, que se mantém unida até hoje ainda montando seu sucesso. Antes da pandemia eles rodaram essa adaptação, Hermanoteu na Terra de Godah: O Filme, que foi programado algumas vezes para estreia nos cinemas, e como alguns títulos acabou remanejado, sendo agora lançado com exclusividade para o Telecine, o veículo ideal para o lançamento do produto, mediante os resultados alcançados.
Homero Olivetto (de Reza a Lenda e Amigas de Sorte) dirigiu a produção, e em seu terceiro filme teve um trabalho extra; além de criar uma atmosfera propícia para um longa, também organizar ideias em cena para que um produto que cabia tão bem no teatro se transformasse em filme com características particulares cinematográficas. Por se tratar de uma obra cômica e com ideias que deram tão certo em outra plataforma, o filme teria uma outra “exigência”, que é motivar os inúmeros fãs da peça e causar a mesma sensação que os mais de 25 anos de sucesso provocaram em todos ao longo do tempo, ou seja, o filme teria que por todos os motivos ser muito engraçado, ainda que o riso seja subjetivo.
Não há qualquer dúvida sobre o talento dos atores da companhia, estão todos interpretando personagens que fazem parte de sua realidade a um quarto de século, ou seja, o grupo formado por Welder Rodrigues, Ricardo Pipo, Adriana Nunes, Adriano Siri, Jovane Nunes e Victor Leal está completamente entrosado em sua mecânica cênica. O que os atrapalha é o trabalho de montagem, do próprio ‘timing’ tão exigido no gênero, que destrói o que suas interpretações constroem. É como se toda a organização que eles conseguiram em todo esse tempo fosse desfeito porque suas reações não fossem bem recortadas pelo estado das coisas em cena.
O trabalho reunido de Sergio Mekler (montador premiado por Cazuza: O Tempo não Pára, Campo Grande, A Ostra e o Vento, entre muitos outros) com Olivetto não acerta na unidade coletiva nem no trabalho conjunto, sem valorizar o trabalho de seus profissionais e tirando da produção qualquer conceito de ritmo. O filme também não sustenta sua aura cômica porque tenta investir em uma produção conscientemente grandiosa, que tanto o dignifica quanto tira da obra seu caráter universal que as alegorias do teatro traziam. Um raro caso onde a evolução da produção fez com que se perdessem características cruciais para o abraço na obra.
Essa grandiosidade estética impressiona pelos espaços ocupados para representar as ações dos personagens, pelo figurino que os situa em sua época com precisão, mas que tira a naturalidade do que parecia improvisado e de onde provinha muito de seu humor. Quando a câmera passeia em gruas por sobre os atores, quando o corte precisa ajustar o ponto de onde o olhar do observador deve se mover, Hermanoteu na Terra de Godah parece perder fôlego, como outras pessoas já adaptadas anteriormente aos cinemas (um exemplo, Deus da Carnificina, de Roman Polanski). Quando as ações e reações precisam do corte da montagem ou da esfera agigantada de uma superprodução, o filme acaba por delimitar o que era naturalmente engraçado na fluidez do jogo cênico explícito.
Ao comprometer sua obra com a ambição de torná-la cinematográfica, a companhia de comédia Os Melhores do Mundo acabou refém da realização, e viu tolhida através dela a liberdade que os faz tão anárquicos no palco – a improvisação diária, a graça retirada das expressões encaradas por seus integrantes, isso se perdeu em troca de dinâmicas exclusivas do cinema, que são o corte, o plano/contraplano, a cadência de sua execução. Uma pena que um projeto tão acalentado e que nunca deixou de dar tão certo no palco tenha perdido tanto para a transposição, e logo onde não deveria: o humor e a espontaneidade.
Um grande momento
Ave, César!