Crítica | Streaming e VoD

HollyBlood

Sangue falso

(HollyBlood, ESP, 2022)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Jesús Font
  • Roteiro: José Pérez Quintero
  • Elenco: Óscar Casas, Isa Montálban, Carlos Suarez, Jordi Sánchez, Piero Mendez, Lara Boedo, Amparo Fernandez, Ferran Gadea
  • Duração: 85 minutos

Poucas coisas conseguem ser piores do que uma comédia que não te faz rir. Talvez um terror que não te deixe tenso ou impressionado. Ou homenagens a títulos que não fazem muito sentido hoje em dia. Imaginem isso tudo junto, e chegaremos perto de HollyBlood, estreia da Netflix que, em tese, seria divertida. Produção espanhola que, tardiamente, vem comentar (nas entrelinhas) sobre o excesso de estímulo que nos ligue excessivamente a produções de terror, em especial às com elementos vampirescos. Anos depois do sucesso de Crepúsculo e suas continuações, partir para uma metalinguagem da paródia soa quase anacrônico, quando a vida de todos os envolvidos por lá seguiu. Jesús Font discorda, provavelmente, e entrega um filme aquém. 

Font já está na função há 30 anos e sua produção televisiva é em quantidade muito maior que a do cinema. São inúmeras séries de tv espanholas, que a partir dessa demonstração, não devem ter acrescentado qualidade ao quadro geral de sua carreira. Aqui, o que é visto provoca diversos estímulos, de tensão e morte principalmente, mas essa pulsão não está dentro do filme, mas sim fora. O desejo de matar e morrer materializa-se no público que der o play no streaming, e que não percebe aos poucos que a armadilha aqui é generalizada. Não há escapatória para HollyBlood, que erra em quantidades generosas até o momento em que paramos de esperar algo positivo acontecer; só virá, cena a cena, comprovações diferenciadas a respeito da perda de tempo. 

HolyBlood
Filmax

Assim como em Grease, raros são aqui os atores que parecem realmente ter a idade que dizem ter; diferente de Grease, isso não representa qualquer charme à produção, e sim erros contínuos de escalação. Esses erros não se limitam à faixa etária apenas, mas também à incapacidade evidente que a grande maioria do elenco tem em ao menos tentar demonstrar algum talento, que seja. O casal protagonista não tem qualquer química, muito menos carisma, e os coadjuvantes que os rodeiam não são exatamente o que se espera de um ator ou atriz. Ou seja, junta-se ao problema de escalação, um conflito a respeito da ausência de qualquer talento do grupo, salvo por Carlos Suarez (de A Casa de Papel) e Jordi Sánchez, que se destacam do todo, e nem deveriam se expor a isso. 

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Além da falta de qualidade, faltam também sentido e lógica na maior parte do que visto. Porque um adolescente (e não uma criança!) se faz passar por vampiro para conquistar a garota por quem é apaixonado, é uma das questões; timidez nenhuma justifica isso. Mais adiante, as questões estapafúrdias são resolvidas de maneiras igualmente esdrúxulas. Outro exemplo é o vampiro do filme mentir a respeito de sua verdadeira identidade, ainda mais porque as intenções dele não eram ruins; porque deixar os personagens imaginarem o pior? Escrito por José Pérez Quintero, o roteiro não é só enrolado na hora de desenvolver sua trama, ele também não consegue desenhar bem qualquer detalhe mínimo ou mesmo criar personagens minimamente críveis, originais ou interessantes. 

HolyBlood
FiImax

Eu nem vou citar o trabalho estético de HollyBlood porque ele verdadeiramente inexiste. Nada chama a atenção, alguns efeitos especiais parecem apenas toscos, e mesmo a maquiagem nunca funciona. Quando nos “melhores momentos”, o filme parece feio e antiquado; quando a coisa desmorona de vez, o espectador fica refém de uma realização mal montada, onde alguns segmentos parecem acontecer fora da ordem acertada. Do ponto de vista da direção e da qualidade da produção, sobram motivos para esquecer qualquer passagem posterior de Jesús Font pelo cinema, e ainda desconfiar de quem se associar a ele no futuro.

Soa tudo como um pastiche mal feito, um grupo de adolescentes aficcionados por vampiros, apaixonados ou horrorizados, mas que não tem pais (apenas Javi tem pai, exatamente o personagem de Sánchez), o que tem sido um erro constante em títulos da Netflix. Como podem ver, HollyBlood é um amontoado de problemas, quase nenhum resolvido minimamente, que reverberam na cadência da produção. Fica a certeza de que sacrifício nenhum é suficiente para que valha a pena chegar ao final aqui, porque até o que se vislumbra com algum interesse – a amiga da protagonista, que é um arsenal de promessas não cumpridas – é deixado pelo caminho. O melhor a fazer com essa nova produção é simplesmente animar para conferir filmes de Mel Brooks bem mais interessantes sobre o mesmo universo, ou simplesmente passar para algum título melhor do próprio streaming. 

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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