- Gênero: Documentário
- Direção: Lina Chamie
- Roteiro: Lina Chamie
- Duração: 83 minutos
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Até em meios supostamente democráticos, no caso em questão, a Arte, existe a supervalorização e diminuição das obras de acordo com sua origem e público. No caso da arte de rua, em especial o grafite, a marginalização é uma realidade constante e o reconhecimento, um desafio. No documentário de Lina Chamie, Kobra Auto Retrato, o espectador é levado à dura realidade da jornada do artista Eduardo Kobra rumo à consagração como um dos maiores nomes da street art internacional.
Embora o filme seja preenchido com entrevistas, relatos e voice over de Kobra, o formato é inovador no que tange à montagem, principalmente na sonoplastia. As escolhas na composição imagem e som, dão ao espectador a sensação imagética dos relatos do artista sobre os momentos de glória, mas em destaque especial às adversidades que ele sofreu desde o início da sua paixão pela pintura.
O grafite apesar de ter o senso comum quanto arte de periferia e na maioria dos casos nascer através da rebeldia e questionamento do poder por meio do xarpi (a pixação), é um forma genuína de expressão de linguagem. É através dessa linguagem que comunidades e artistas invibilizados conseguem encontrar seu lugar de existência em uma sociedade amplamente desigual e dura com jovens pobres e periféricos.
Por ser uma obra com temática de arte e desconstrução de conceitos e arquétipos, a linguagem fílmica amplia o espectro das possibilidades na narrativa. A câmera acoplada na bicicleta que roda em São Paulo como meio de apresentar através de um tour em uma galeria urbana é outra forma concreta de inovação. Apesar dos grandes planos aéreos, dignos dos murais gigantes nas fachadas dos prédios, o artista em cima da bicicleta é colocado como apenas um ser no meio da multidão. Onde a rua é seu grande ateliê de criação e, por mais que o resultado final sejam pinturas impactantes e em muitos casos gigantes, os temas de sua arte estão acoplados no asfalto e nas ruas da metrópole.
A obra de Lina Chamie vai além do auto retrato do Kobra como artista consagrado. É um filme sobre o cidadão comum, vindo da periferia. Sem privilégios, com muitos desafios e tendo sido por muitas vezes instigado a ser silenciado. O longa-metragem fala muito sobre o direito de sonhar, mas permanecer com os pés no chão. Atingir o ápice, mas levando a origem junto aos grandes momentos. É crescer, sem se esquecer da jornada.
Um grande momento
Kobra pinta o muro de sua antiga escola junto dos atuais alunos.