- Gênero: Comédia
- Direção: Tomás Portella
- Roteiro: Natália Klein, Carolina Castro
- Elenco: Natália Lage, Julia Rabello, Thati Lopes, Dudu Azevedo, Marcelo Gonçalves
- Duração: 85 minutos
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Vindo de 4×100, um filme que mostrava sua carreira indo para um outro lado, Tomás Portella recua 115 casas essa semana, com La Situación. Não trata-se de uma represália por ter voltado às comédias, porque o filme protagonizado por Thalita Carauta em grande momento não era bom por ser um drama, mas por ser dirigido com competência, com decupagem elaborada e um senso estético mais apurado, que anteriormente não eram vistos. Pois o diretor retorna à personalidade do diretor de Isolados, que não tinha muito entendimento de profundidade de câmera, posicionamento das marcações de set e concluía seus arranjos de maneira desleixada; está tudo de volta aqui, infelizmente.
A trama deslancha a partir das cólicas menstruais de Ana, e isso faz sentido, tendo em vista que a ‘situación’ gira em torno de pacotes de absorventes usados para transportar drogas. Nenhum problema em sua narrativa, comédias grosseiras não me incomodam (e nem deveriam a ninguém, é da natureza da comédia transgredir), o que incomoda é a falta de manejo com o material cinematográfico. É incompreensível que o filme em cerca de 15 minutos já demonstre ininterruptamente como o super close deveria ser abolido, se não do cinema, ao menos de La Situación, tendo em vista que ele é parte integrante da construção imagética da produção. Daí pra frente o todo vai se tornando cada vez mais difícil de sequer encontrar um motivo banal qualquer para a defesa.
Não há nenhuma alegria em escrever esse texto, tendo em vista que eu vinha de uma boa experiência com Portella, que admiro muito o trabalho de Natália Klein (que assina o argumento e o roteiro, ao lado de Carolina Castro), e que considero Natália Lage, Julia Rabello e Thati Lopes grandes, imensas atrizes. São as três últimas que mantém algum interesse no desenrolar de tudo que vemos – e que se torna cada vez mais inacreditável, e por motivos alheios ao roteiro. Ainda assim, se o trabalho delas não chega a elevar a produção, é o talento do trio que impede o desinteresse por completo. Ainda que o texto não esbanje qualidade, é graças a embocadura que elas dão a ele que o material completo não se anula.
O trabalho de Lage é mais ingrato que o de Rabello e Lopes, porque ela tem a personagem que mais se leva a sério, então não tem como despirocar como as outras duas fazem com intensidade, e que é a praia delas. Lage precisa segurar um rojão que o texto não a prepara para tal, e ela acaba prejudicada, embora nunca passe a culpa por ela. Já Lopes e Rabello sabem que nada daquilo é minimamente qualitativo, então largam fundo nas caras e bocas, nas frases de efeito (muitas frases ali devem ser ‘cacos’, e tais improvisos as ajudam), construindo um filme que é tanto a parte de La Situación, como também integrante do caos geral. Da união das três depende a respiração de um filme assolado de más ideias e realização desastrada.
La Situación poderia ser uma comédia de erros anárquica, cheia de absurdos inacreditáveis e render um título acima da média; o cinema nacional já fez coisas assim, e mesmo algo como Muita Calma nessa Hora se sobressai. Aqui, residem escolhas equivocadas, com histeria de planos, cortes sem capricho e enquadramentos feios, despropositadamente arcaicos. Não existem muitas justificativas que expliquem o quanto a produção parece ter sido pensada por profissionais que nunca estiveram antes em um set, rendendo resultados quase amadores na condução do ritmo e das soluções de plano. Algumas cenas estapafúrdias ainda traem o que compreendemos dos tipos; o que justifica Ana cantar em um karaokê, mesmo que bêbada, e ainda a cena ser tão longa?
É uma pena que profissionais que já tenham demonstrado tanto talento anteriormente, estejam em La Situación a serviço de um produto parecido com uma encomenda ordinária. Na ânsia de termos conteúdo brasileiro disponível em streamings ou em lançamentos cinematográficos, não deveria valer tudo e qualquer coisa para cumprir metas e tabelas. É exatamente isso que parece aqui, ao contrário do lançamento anterior da Star Productions, Fervo, repleto de boas ideias e soluções; aqui, tudo isso falta. O que sobra é o empenho de suas protagonistas, praticamente sozinhas, pra dar conta desse gigantesco piano que precisam carregar.
Um grande momento
No posto policial