Crítica | Catálogo

La Situación

Três atrizes numa fria

(La Situación, BRA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Tomás Portella
  • Roteiro: Natália Klein, Carolina Castro
  • Elenco: Natália Lage, Julia Rabello, Thati Lopes, Dudu Azevedo, Marcelo Gonçalves
  • Duração: 85 minutos

Vindo de 4×100, um filme que mostrava sua carreira indo para um outro lado, Tomás Portella recua 115 casas essa semana, com La Situación. Não trata-se de uma represália por ter voltado às comédias, porque o filme protagonizado por Thalita Carauta em grande momento não era bom por ser um drama, mas por ser dirigido com competência, com decupagem elaborada e um senso estético mais apurado, que anteriormente não eram vistos. Pois o diretor retorna à personalidade do diretor de Isolados, que não tinha muito entendimento de profundidade de câmera, posicionamento das marcações de set e concluía seus arranjos de maneira desleixada; está tudo de volta aqui, infelizmente. 

A trama deslancha a partir das cólicas menstruais de Ana, e isso faz sentido, tendo em vista que a ‘situación’ gira em torno de pacotes de absorventes usados para transportar drogas. Nenhum problema em sua narrativa, comédias grosseiras não me incomodam (e nem deveriam a ninguém, é da natureza da comédia transgredir), o que incomoda é a falta de manejo com o material cinematográfico. É incompreensível que o filme em cerca de 15 minutos já demonstre ininterruptamente como o super close deveria ser abolido, se não do cinema, ao menos de La Situación, tendo em vista que ele é parte integrante da construção imagética da produção. Daí pra frente o todo vai se tornando cada vez mais difícil de sequer encontrar um motivo banal qualquer para a defesa. 

La situación
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Não há nenhuma alegria em escrever esse texto, tendo em vista que eu vinha de uma boa experiência com Portella, que admiro muito o trabalho de Natália Klein (que assina o argumento e o roteiro, ao lado de Carolina Castro), e que considero Natália Lage, Julia Rabello e Thati Lopes grandes, imensas atrizes. São as três últimas que mantém algum interesse no desenrolar de tudo que vemos – e que se torna cada vez mais inacreditável, e por motivos alheios ao roteiro. Ainda assim, se o trabalho delas não chega a elevar a produção, é o talento do trio que impede o desinteresse por completo. Ainda que o texto não esbanje qualidade, é graças a embocadura que elas dão a ele que o material completo não se anula. 

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O trabalho de Lage é mais ingrato que o de Rabello e Lopes, porque ela tem a personagem que mais se leva a sério, então não tem como despirocar como as outras duas fazem com intensidade, e que é a praia delas. Lage precisa segurar um rojão que o texto não a prepara para tal, e ela acaba prejudicada, embora nunca passe a culpa por ela. Já Lopes e Rabello sabem que nada daquilo é minimamente qualitativo, então largam fundo nas caras e bocas, nas frases de efeito (muitas frases ali devem ser ‘cacos’, e tais improvisos as ajudam), construindo um filme que é tanto a parte de La Situación, como também integrante do caos geral. Da união das três depende a respiração de um filme assolado de más ideias e realização desastrada. 

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La Situación poderia ser uma comédia de erros anárquica, cheia de absurdos inacreditáveis e render um título acima da média; o cinema nacional já fez coisas assim, e mesmo algo como Muita Calma nessa Hora se sobressai. Aqui, residem escolhas equivocadas, com histeria de planos, cortes sem capricho e enquadramentos feios, despropositadamente arcaicos. Não existem muitas justificativas que expliquem o quanto a produção parece ter sido pensada por profissionais que nunca estiveram antes em um set, rendendo resultados quase amadores na condução do ritmo e das soluções de plano. Algumas cenas estapafúrdias ainda traem o que compreendemos dos tipos; o que justifica Ana cantar em um karaokê, mesmo que bêbada, e ainda a cena ser tão longa?

É uma pena que profissionais que já tenham demonstrado tanto talento anteriormente, estejam em La Situación a serviço de um produto parecido com uma encomenda ordinária. Na ânsia de termos conteúdo brasileiro disponível em streamings ou em lançamentos cinematográficos, não deveria valer tudo e qualquer coisa para cumprir metas e tabelas. É exatamente isso que parece aqui, ao contrário do lançamento anterior da Star Productions, Fervo, repleto de boas ideias e soluções; aqui, tudo isso falta. O que sobra é o empenho de suas protagonistas, praticamente sozinhas, pra dar conta desse gigantesco piano que precisam carregar. 

Um grande momento

No posto policial

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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