Drama
Direção: Frederico Machado
Elenco: Buda Lira, Vera Leite, Antonio Saboia
Roteiro: Frederico Machado
Duração: 74 min.
Nota: 7
Um sentimento que paralisa, estagna. O silêncio, o prolongamento do tempo morto e a ausência de movimento estão em todos os cantos de Lamparina da Aurora, novo longa-metragem de Frederico Machado. Mais uma vez tratando das relações, há aqui uma dor latente, a percepção de algo que não pode ser substituído e, mais, desintegra o que ainda vive.
Ao flertar com o fantástico, o filme transfigura essa ausência em uma dor que aterroriza e perturba os que vivem aquele luto e os que o acompanham em frente à tela. Mesmo que pouco se saiba daquelas três pessoas, um casal de idosos e um homem que surge misteriosamente, há toda uma confirmação estética da impossibilidade daquela existência em conjunto. Tormentos atuais podem ou não refletir um passado, nunca mostrado, mas é o presente ausente e a incomunicabilidade daqueles corpos que se destaca.
Tudo o que é visto acompanha a cadência poética dos belos versos do poeta maranhense Nauro Machado, pai do diretor, que também é quem os declama. A conjunção texto-imagem, ao contrário do tradicional, confirma a intenção do diretor de apresentar um filme que se realize de maneira diferente para cada espectador. Envolvidos pelo mistério e terror por trás de toda dor e insociabilidade, há diversas leituras e uma possibilidade de inferências vinculadas a experiências particulares que transformam o todo. Embora assuma uma linguagem muito própria, de hermético não há quase nada no que se vê.
Embora ainda muito próximo ao cinema do realizador dos longas O Exercício do Caos e O Signo das Tetas, percebe-se no filme uma tentativa de distanciamento dos títulos anteriores, seja na preocupação com a composição estética de todo o ambiente no casarão, dos corpos em cena, das cores; ou mesmo pelo abandono do aleatório. É como se houvesse um rigor e um controle maior daquilo que está sendo mostrado. Até mesmo as inserções mais arriscadas estão bem casadas com o conjunto e funcionam dentro de uma certa organicidade.
Mais maduro e ainda ousado, Lamparina da Aurora chega como uma espécie de encerramento para a trilogia da ausência do diretor e é uma experiência interessante deixar-se guiar pelos vários caminhos oferecidos, tendo como guia a própria intuição.
Um Grande Momento:
Dando as mãos.
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