Críticas

Legacy of Lies

Aquele que podia ser uma série

(Legacy of Lies, NED, GBR, POL, UKR, EUA, 2020)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: Adrian Bol
  • Roteiro: Adrian Bol
  • Elenco: Scott Adkins, Anna Butkevich, Yuliia Sobol, Honor Kneafsey, Martin McDougall, Leon Sua, Andrea Vasiliou, Victor Solé, Marco Robinson
  • Duração: 101 minutos

Martin Bexter é um agente que fez tudo errado em uma operação. Os espectadores o conhecem nesse dia e as coisas saem tão exageradamente errado que é quase difícil precisar se o filme é mesmo um exemplar de ação ou uma comédia que se baseia no gênero, mas é, sim, um filme de espionagem. Daí em diante, Legacy of Lies não tem vergonha de seguir a cartilha de outros filmes do gênero, com um personagem que vai seguindo os passos de outros espiões decepcionados que se afastam de suas agências por traumas do passado e precisam voltar à ativa por alguma situação de risco extremos que envolva alguém próximo, no caso, sua filha.

Outras semelhanças podem ser percebidas na qualidade das atuações, começando por Martin, vivido por Scott Adkins, que ficou famoso por seu papel de Boyka no filme de mesmo nome e se destaca como grandalhões inexpressivos que não precisam fazer muito mais do que lutar, atirar, fugir e fazer caretas. O resto do elenco até se esforça, mas não tem muitos elementos para trabalhar, caso da jovem Yuliia Sobol, uma aleatória parceira que surge do nada e até teria uma história  a ser desenvolvida, mas se resolve na pressa.

Legacy of Lies
Foto: Divulgação

Se tudo é muito óbvio, Adrian Bol consegue segurar a onda com um exagero que combina com o ritmo da trama. O mérito não é exatamente dele, mas do desenho de produção de Paul Burns e da direção de fotografia de Simon Rowling que alternam entre o calor e a opressão, e nos ambientes são bem explorados. Há um cuidado especial, mesmo que brega, com os delírios de Martin e do universo que circunda o mundo do ex-espião, e isso casa muito bem com o filme, que melhora muito quando assume que não precisa se levar a sério.

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Legacy of Lies tem outras coisas boas, como a personagem Lisa, a filha. A menina, embora tenha lá suas obviedades e nem sempre conte com o roteiro a seu favor, desperta interesse pela maturidade que desenvolve dada a patetice do pai. Muito Independente, ela encontra brechas para criar um caminho alternativo que, pelo menos pontualmente, em posturas discretas, a descola de uma trama permeada por clichês. A atriz Honor Kneafsey também não faz feio. Mas ela e todas as outras qualidades acabam perdidas em um filme que quer fazer demais.

Legacy of Lies
Foto: Divulgação

São muitos eventos, muitas pontas e muitos caminhos que se abrem para nem sempre conseguirem se fechar. Tem a operação do início e seu final atrapalhado, o trauma de Martin, a perseguição da MI-6, a revolução russa com os arquivos revelados, o sequestro, o assassinato do pai de Sasha, a história de Sophia, a trama com a máfia, o submundo da luta ilegal, o drama cotidiano de pai e filha, entre tantas outras coisas. É tanto acontecimento que, facilmente, Legacy of Lies poderia ser uma série, com episódios independentes, cada um dedicado a um dos eventos.

Muita correria e informação, muita ação executada, para o pouco que ficou fixado, e nada faz muito sentido, mas não deixa de ser um filme de ação que supre as questões mais elementares: um protagonista capaz de realizar boas coreografias de luta, boas sequências de perseguição, espaço para que dublês esbanjem seus dotes e um ritmo frenético. Porém, falta uma composição por trás de tudo e isso é sempre bom para que um filme exista. 

Um grande momento
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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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