- Gênero: Drama
- Direção: Sam Levinson
- Roteiro: Sam Levinson
- Elenco: John David Washington, Zendaya
- Duração: 106 minutos
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Casais que discutem a relação não são novidade em cena. São várias as representações teatrais e cinematográficas e Malcolm & Marie, recém lançado na Netflix, é mais uma delas. Dirigido e roteirizado por Sam Levinson, o longa foi filmado durante a pandemia Covid-19, observando o confinamento, e traz em si a aura de intimidade e enclausuramento que facilitam o mergulho na relação, mas acaba se excedendo na própria criação.
A partida é a mesma de outros já conhecidos exemplares do gênero. Há a fissura prévia do relacionamento, ainda desconhecida do espectador e há euforia seja por eventos — também externos e não conhecidos — ou pelo álcool, e o gatilho para o rompimento. Levinson monta com elegância esse trajeto. Observa de longe a chegada do casal que dá nome ao filme à casa e deixa que eles nela se estabeleçam para nela entrar, mantendo o observar da varanda por um tempo.
O que se vê é elaborado. Por todo o filme, o diretor de fotografia Marcell Rév, parceiro de Levinson em País da Violência e na série Euphoria faz um trabalho meticuloso e impressiona com seus longos planos e quadros perfeitos. E o roteiro de Malcolm & Marie segue a mesma elaboração, mas com acertos nem sempre tão eficientes. É um texto ousado, sem dúvida, principalmente quando aposta no desequilíbrio para embasar seu principal conflito: de dois personagens desenvolve apenas um background. Um personagem tem conteúdo, consistência, enquanto outro não existe por si mesmo, o que justifica toda a narrativa determinada.
Se por trás de toda a história está a criação artística — o longa fala da relação entre um diretor que acabara de estrear um filme e de uma atriz frustrada –, o fato do vazio precedente é fundamental para essa realização do papel do artista, e não só daquele artista, mas do próprio Levinson. É um jogo interessantíssimo de camadas que se sobrepõem além da tela. Para além de backgrounds, criação e histórias usurpadas, o texto tenta se embrenhar em questões como o papel político da arte, a objetificação da mulher, a determinação do discurso, feminismo, negritude, e é aí que se perde.
Enquanto relação de casal, há um tom melancólico e desgastado, enquanto discussão artística, há um tom eufórico e desproporcional que incomoda por sua quase histeria. A intenção não deixa de ser clara, mostrar toda a incongruência de Malcolm e evidenciar suas prioridades, exaltando o modo de se relacionar com os lados de sua vida, mas o ir do 8 ao 80, faz com que o conjunto se torne sacal: de um lado a pretensão, de outro a repetição. Os 106 minutos de duração também não ajudam.
Embora tenha seus tropeços, Malcolm & Marie tem pontos muito positivos, entre eles, as atuações. Foco maior das atenções, John David Washington e Zendaya conseguem alternar entre esses dois registros que o diretor define e se saem muito bem. Zendaya, em uma atuação mais delicada e introspectiva que Washington, se destaca ainda mais, num trabalho construído em detalhes.
Em um trabalho que se coloca entre outros, com uma temática tantas vezes encenada, dois são os objetos a serem observados: o texto e o elenco. É uma pena que Malcolm & Marie seja um conjunto incompleto, que tem a metade do primeiro, com a boa ideia e a segurança de parte de sua história, e a completude do segundo.
Um grande momento
Por que não eu?