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Meio Irmão

(Meio Irmão, BRA, 2018)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Eliane Coster
  • Roteiro: Eliane Coster
  • Elenco: Natália Molina, Diego Avelino, Francisco Gomes, Dico Oliveira, André Andrade, Eduarda Andrade, Cris Lopes
  • Duração: 98 minutos

É com o trabalhar o tempo que a angústia e a solidão de Sandra se estabelecem. Não há pressa no observar acontecimentos, por mais triviais que sejam, e nem dilatações de ações mais interativas, onde a resposta é fácil e mais cativante. O interesse de Eliane Coster em Meio Irmão é estabelecer de tal forma o ambiente daquela adolescente para que seja possível determinar sua personalidade, como aquilo que a cerca a afeta.

Em um primeiro momento, a dedicação a Sandra é obviamente maior do que a dedicação a Jorge, embora ele tenha o seu tempo de tela garantido. A ansiedade e a naturalidade com que as ações da jovem são retratadas se sobressaem às conversas ensaiadas sobre questões sociais mais graves e importantes. Nesta primeira parte, a única “presença” que faz frente à de Sandra é a de Sílvia, em sua ausência absurda e monumental. Ela está no vazio da casa, na louça na pia, na falta de comida e de água, na caixa postal do telefone e na falta de resposta constante.

Meio Irmão

É nesse abandono injustificado e na solidão, e com todos os fatos que se seguem, que a relação entre os dois jovens se estabelece. E tudo ocorre de um jeito muito natural, em uma relação que, embora em nada se afaste da relação entre irmãos, encontra uma proximidade que as próprias existências necessitavam naquelas realidades.

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Coster tem muita vontade de experimentar, o que é bom, mas nem sempre funciona. Alguns excessos estéticos estão aqui e ali, assim como alguns desacertos em tempos de cena e cortes. Mas há ótimas passagens justamente por esse frescor que só mesmo a experimentação pode trazer, como a cena de reconhecimento de corpo no IML, com uma coreografia e movimento de câmera muito elaborados.

Meio Irmão é um filme que traz muita coisa em si, tanto em forma quanto em conteúdo, mas que não deixa hora nenhuma de ser extremamente simples e isso é um dos grandes méritos do filme. Com sua simplicidade, consegue tratar de temas muito sensíveis que vão desde questões muito próprias da adolescência a problemas sociais, como a homofobia e o racismo.

Um longa que se preocupa com o tempo, que dá esse tempo a seus personagens e espera que se desenvolvam, deixando que a relação entre eles e o público se estabeleça de maneira natural e efetiva. Assim, a história segue mais forte e não se ressente de qualquer desvio que haja pelo caminho, até porque há mesmo muito mais coisa positiva para prestar atenção.

Um Grande Momento:
No IML.

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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