Críticas

Minha Família Perfeita

Tinha tudo para ser bom

(Minha Família Perfeita , BRA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Felipe Joffily
  • Roteiro: Leandro Matos, Saulo Aride
  • Elenco: Rafael Infante, Isabelle Drummond, Antônio Calloni, Bianca Byington, Zezé Polessa, Otávio Augusto, David Lucas, Verônica Debom, Evelyn Castro, Guga Coelho, Leonardo Franco, Antônia Frering, Julia Dalavia, Bruno Jablonski, Victor Lamoglia
  • Duração: 95 minutos

Não se deve olhar com o preconceito que é atribuído pela classe média metida a intelectual para o produto blockbuster nacional. Nem a chamada “comédia Globo Filmes” merece um olhar enviesado, porque dentro desse lugar que convencionou-se estereotipar nasceram não apenas grandes sucessos – ou seja, de aprovação popular – como também ótimos filmes, tais como Loucas pra Casar e Vai que Dá Certo. Essa alcunha foi utilizada não necessariamente tendo a produtora carioca como empresa por trás de todos os títulos, mas para definir filmes de humor popular com elencos estrelados, muitos ligados ao universo televisivo. Nesse sentido, Minha Família Perfeita se encaixa à perfeição no modelo que se apresenta ao público. 

Felipe Joffily tem muita experiência no ramo da comédia popular de sucesso, emendou quatro delas. Mas o jovem cineasta não começou neste lugar, e sim sendo bastante premiado pelo criminal Ódiquê?, um olhar para a juventude que deliberadamente mergulha na marginalidade. Depois vieram em sequência Muita Calma nessa Hora 1 e 2, E Aí… Comeu? e Os Caras de Pau e o Misterioso Roubo do Anel, todos muito bem sucedidos de público e não tanto de crítica. Ele tenta repetir esse feito aqui, nesse momento de muita insegurança dos longas nacionais, porque o público desse tipo de produção parece ainda não ter voltado aos cinemas. São títulos de apelo muito popular, e com os preços dos ingressos nas alturas, imagina-se que esse seja o principal fator da retração. 

Aqui, parece enfim ter atingido um lugar ambíguo. A escolha para comandar esse projeto, com essa premissa e roteiro, é madura e avança por uma comédia que até tem um conceito familiar, mas que ambiciona um olhar mais aprofundado a seus personagens e ações. Por outro lado, Minha Família Perfeita em nada se parece uma produção distribuída por uma ‘major’ norte-americana, porque procuramos um certo padrão de qualidade imagético e ele não surge com frequência. Com a experiência atrás das câmeras de Joffily, imaginava-se que muitos dos planos apresentados na produção não deveriam aparecer por aqui, e nossa surpresa é perceber que um certo descaso com a imagem e os enquadramentos são constantemente repetidos. 

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Minha Família Perfeita
Divulgação

A despeito do roteiro assinado por Leandro Matos e Saulo Aride apresentar muito bem cada personagem, nos preparar para momentos de verdadeiro humor (Evelyn Castro, de Tô Ryka! 2, e Verônica Debom, de Tudo Acaba em Festa, são impecáveis em seus solos), e criar uma trama bem azeitada sem muita enrolação, Joffily não estava em seus melhores dias e cria momentos inexplicáveis com as imagens. Tudo leva a crer que momentos foram perdidos na montagem, mas independente do que tenha sido, nada justifica alguns planos de super close em partes do corpo dos atores absolutamente absurdos, que sujam as cenas e desvalorizam o trabalho dos intérpretes. A fotografia de Felipe Reinheimer (de O Silêncio da Chuva) contribui para que fiquemos com o queixo ainda mais caído, com sua luz atabalhoada, que não ilumina bem, não enquadra bem e não resolve bem os conflitos. 

Outro estranhamento é o fato de um elenco tão extraordinário ter tantos atores com pouco ou nada a fazer em cena. Talvez fosse a ideia de não exatamente ter um elenco tão numeroso, ou o problema que verdadeiramente deve ter ocorrido. Rodado há quase sete anos, naquela época artistas como a própria Evelyn, ou Victor Lamoglia (de Como Hackear seu Chefe), ou Julia Dalavia (de Até que a Sorte nos Separe) ainda não tinham se tornado astros; vê-los em cena quase à toa, é bastante constrangedor. Porém tanto eles quanto veteranos como Antônio Calloni, Zezé Polessa, Otávio Augusto e Bianca Byington estão excelentes, deixando o nível do filme sempre em cima quando exigidos. O casal protagonista Rafael Infante e Isabelle Drummond esbanjam graça e carisma. 

O que então dá errado em Minha Família Perfeita? Toda a culpa pelos desacertos do filme podem ser colocados na conta de Joffily, ou do atraso da conclusão da produção. Provavelmente uma coisa levou a outra, e muitas vezes temos a impressão de que algumas cenas se perderam durante os muitos anos, e a montagem não teve o que fazer a não ser encaixar enxertos nos locais devidos. Aqui nem dá pra culpar a pandemia, já que a estreia do filme é prometida há pelo menos seis anos. O filme parece ter sido achado em algum baú antigo, com o resultado do que foram filmagens que pouca gente lembra, pelo passado já remoto. Salve o elenco numeroso, que mesmo quando não tem texto e só precisa olhar uns aos outros, conseguem deixar a produção divertida e agradável. Definitivamente uma experiência frustrante, porque um bom filme do gênero estava no ponto para ser feito. 

Um grande momento

Cantando e tocando após o término do namoro

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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