- Gênero: Ação
- Direção: André Øvredal
- Roteiro: André Øvredal, Norman Lesperance, Geoff Bussetil
- Elenco: Nat Wolff, Iben Akerlie, Per Frisch, Per Egil Aske, Priyanka Bose
- Duração: 104 minutos
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“O que é imortal não morre no final”
Sandy
É muito fácil encontrar elementos na mitologia para criar novas narrativas. A humanidade em sua sede de explicar a origem da vida e do mundo criou milhares de histórias fantásticas, cheias de signos e significados próprios. Cada civilização tem suas divindades, seres sobrenaturais, crenças e heróis, e André Øvredal vai buscar nos mitos nórdicos a inspiração para seu Mortal. Dentre todos os poderosos do Odinismo, pega o mais conhecido e já famoso nos cinemas: o deus dos trovões e das batalhas, mas nada dá muito certo em seu filme.
Indeciso quanto à dedicação que deve dar aos muitos caminhos que pode trilhar, não sabe se o que merece mais atenção é a tentativa de criar a jornada do homem surpreendido por poderes com os quais não sabe lidar; a descoberta da divindade e todo o peso pessoal, afetivo e social que dela decorre; a busca por uma explicação pela origem e a genealogia divina de Eric; ou tramas secundárias que envolvem relações que podem ou não ter a ver com aquilo que seu protagonista pode fazer.
Além de ser um filme confuso, Mortal tem um ritmo inconstante e que sente cada desacerto de sua execução e de seu roteiro. A inexpressividade de Iben Akerlie, como a psicóloga que não se apavora com a demonstração de poder que faria qualquer pessoa sair correndo sem olhar para trás, e de Per Frisch, como o policial que segue o fluxo com justificativas pouco críveis, é desanimadora. E, por mais que se esforce, a confusão do texto de Øvredal, Norman Lesperance e Geoff Bussetil não facilita o trabalho de Nat Wolff (Cidades de Papel). Menos magnético que o irmão, o também ator Alex, de filmes como Hereditário e Tempo, ele até tenta criar um Thor mais humano, mas não tem material e nem retorno em cena.
Outra grande questão é a trama paralela e descolada que traz a preocupação de uma personagem inserida à força na trama para gerar um conflito extra, já que todos apresentados até então não pareciam suficientes. Nada que seja inédito em filmes, uma vez que a existência de um vilão palpável seja sempre muito bem-vinda em roteiros inseguros como o de Mortal. Hathaway, vivida por Priyanka Bose, é essa que surge para fazer o papel da pessoa do mal que vai perseguir o protagonista até o fim, mesmo que seja a única que não pode — e há um motivo bem delimitado para contrariar seus atos. Ela seria a representação da força e da suposta manutenção de uma estabilidade monoteísta.
A tentativa de encontrar questões religiosas, dramas pessoais complexos de identificação e pertencimento e de tratar do preconceito se mistura com o desejo de explorar a capacidade dos efeitos visuais e as possibilidades narrativas de histórias ancestrais. O que se realiza, porém, é uma colagem de isolamento, com tendas em florestas; romance inusitado, com beijos na não-chuva e o amor que controla; drama policial, com muitas cenas em delegacias; filme pobre de herói, com descoberta das armas mágicas acompanhada de trilha crescente e efeitos envergonhantes; e grandes perseguições governamentais, com helicópteros, atiradores de elite e cercos militares, além de muitas outras coisas.
Tudo isto misturado e alinhavado com relações nada convincentes entre personagens que seguem saltando entre realidades e tentam se encontrar junto com a trama. Mortal, no final das contas é um filme que faz tanto sentido quanto sua cartela de abertura, que define o sentido da palavra “mortal”, ou quanto o verso da letra de Sandy que abre esse texto. E é isso.
Um grande momento
Na delegacia