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Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu

O cinema que ri do cinema

(Airplane!, EUA, 1980)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Jim Abrahams, David Zucker, Jerry Zucker
  • Roteiro: Jim Abrahams, David Zucker, Jerry Zucker
  • Elenco: Robert Hays, Julie Hagerty, Leslie Nielsen, Robert Stack, Lloyd Bridges, Peter Graves, Kareem Abdul-Jabbar, Lorna Patterson
  • Duração: 88 minutos

Em 1980, chegava às telas um longa-metragem que viria mudar o modo de se fazer paródia no cinema. Dirigido e roteirizado pelo trio Jim Abrahams, David Zucker e Jerry Zucker, Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu foi buscar nos filmes de desastre dos anos 1970 sua maior inspiração e, ao apostar no roteiro nonsense e em interpretações próximas às dos filmes parodiados, abriu as portas para uma série de outros sucessos de bilheteria, como Top Secret – Ultra Secreto e até os mais recentes Todo Mundo em Pânico.

Muito do que se vê no longa-metragem vem do filme Entre a Vida e a Morte (1957), dirigido por Hall Bartlett, com a mesma premissa: com os pilotos contaminados por uma infecção alimentar, um dos passageiros, um ex-combatente da Segunda Guerra, precisa assumir o controle do avião e pousá-lo.

Partindo do mesmo ponto e usando até mesmo alguns diálogos do filme de Bartlett, Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu encontra um lugar para subverter filmes-catástrofe que faziam sucesso à época, como Inferno na Torre, O Destino de Poseidon e, claro, a franquia Aeroporto, com cinco filmes lançados. Tudo o que existe dentro da aeronave e nos mais diversos lugares do aeroporto – seja na torre de controle, no estacionamento, nos portões de embarque ou no saguão – motiva uma nova piada.

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Referências a outros filmes, que não os de desastre, também estão espalhadas por todo longa, seja na recriação de cenas icônicas de títulos como A um Passo da Eternidade ou Os Embalos de Sábado à Noite, ou na citação textual de falas de outras obras, como O Mágico de Oz. Tudo sempre revestido da aura de humor que domina o filme.

Se a quantidade de gags e piadas é grande, não é de se estranhar também o enorme número de personagens. Entre frequentadores habituais daqueles lugares, tem de tudo no filme: freira, Hare Krishna, médico, jogador de basquete, criança doente, entre tantos outros. A profusão de pessoas abre espaço para situações inusitadas, de mulheres desconfiadas pelo comportamento do marido a entediados que não suportam ouvir as histórias de um apaixonado, justamente o piloto traumatizado que será o responsável pelo pouso da aeronave. É como se fosse possível encontrar o humor em qualquer lugar.

Obviamente que, como em toda comédia, o tempo fez com que muito do que existe em Apertem os Cintos… não sobrevivesse bem, pois evoluímos e a falta de empatia e consciência dos anos 1980 ficou para trás. Há piadas pedófilas, racistas e machistas em excesso, algo que jamais aconteceria nos dias de hoje. Mas, ainda assim, há uma habilidade genuína no humor paródico e no modo como os roteiristas conseguem integrar todas as referências de maneira orgânica. Além de piadas mais voltadas à vida cotidiana que seguem funcionando.

Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu

Algo que chega diferente em Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu é a chave interpretativa. Embora os diálogos fossem de um completo besteirol, há uma postura de seriedade por quase todo elenco, com destaque para as participações de Lloyd Bridges, Peter Graves, Leslie Nielsen ou Robert Stack, que poderiam estar escalados para qualquer um dos filmes da franquia “séria”, que mais se parece com a paródia em questão.

Um marco nas comédias do cinema, por levar esse humor rápido e aproveitador das revistas às telas, e por rir de um jeito original da própria produção cinematográfica do período, Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu diverte e agrada não apenas aqueles que tiveram contato com ele no início dos anos 1980, mas também toda uma nova geração que, embora balance a cabeça em algumas piadas, rola de rir com outras.

Um Grande Momento
“Pedi para me beliscarem”

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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