- Gênero: Drama
- Direção: Djin Sganzerla
- Roteiro: Vana Medeiros, Djin Sganzerla
- Elenco: Djin Sganzerla, Kentaro Suyama, Stênio Garcia, Lucélia Santos, Gustavo Falcão, Rafael Zulu, Jandir Ferrari
- Duração: 99 minutos
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O mar é mãe. Abraça, acalenta, refugia. E personagem. A sinestesia contida em sua densidade dramática e simbolismo perene é a alma de Mulher Oceano, filme de Djin Sganzerla, a irmã da também cineasta Sinai; filhas de Rogério e da grandiosa Helena Ignez.
“O Mundo nos precede em tanto/O Mar nos precede em tudo”. Escrito por Djin e Vana Medeiros, o roteiro de Mulher Oceano conduz duas mulheres, Ana e Hannah (que não deixa de ser uma aliteração de Ana), que cruzam caminhos por água e por terra, para influirem uma na dinâmica da outra. A primeira é nadadora filha de Odoyá, rainha do mar. Quase uma sereia, não consegue se imaginar longe do oceano e hesita em aceitar uma promoção no emprego que a levará para uma cidade sem praias. Ela permeia os pensamentos, sonhos e divagações criativas da outra mulher – uma escritora em franca crise autoral e pessoal.
Traçando sua poética com o corpo que performa, coberto por projeções de ondas ou desnudo na areia, em planos bem compostos, azulados ou com um paleta mais fria vai Djin fazendo o mesmo por detrás das câmeras, sendo essa a sua estreia na direção de longas metragens com um quê de promessa de que em breve alcançará uma solidez estilística.
Peixe subiu das entranhas verdes do mar
Viu o que viu, inventou as patas, sumiu
Dia seguiu, conquistou as matas de rio
Quis descansar, aprendeu andar
Olhou pro céu, se ajoelhou, se orientou, ficou de pé
Amanheceu, voltou pro mar, quando entendeu o que a morte é
Vamos chamar o vento
A letra de Jards Macalé embala mergulhos no filme, a metamorfose de ambas. A banda sonora ainda é perfurada pelos sons das ondas quebrando, das “amas” (mulheres japonesas mergulhadoras) gritando, do vento assoviando. Como que em deslocamentos temporais, a história vai se texturizando fluida em dois universos paralelos, ainda que entre eles haja colisões metafóricas; são as jornadas de duas mulheres vividas pela atriz-diretora, que querem respostas para as buscas que ali estão postas. Que buscam a felicidade tão indelével, líquida em tempos onde nada é feito para durar ou se solidificar – apenas se esvair.
Regidas pelas marés, ciclos lunares e menstruais, as mulheres sabem bem o que é fluir, profundamente conectadas com a energia das águas. Hannah e Ana não podem, não querem parar de produzir ondas. Pois se, como diz o poeta e fotógrafo japonês amigo de Hannah “publicar é como morrer, escrever é mais como viver – constantemente em movimento, dançando na beira do abismo” o balé sensorial traduzido em planos e cenas de Mulher Oceano transmite a força interior da proposta criativa de Djin. A vontade de Iemanjá e de um corpo que é 60% água é sempre se liquefazer em júbilo. Sumir nas profundezas do oceano, ser uma com ele – ele é você e você, é ele. Encantados, caudalosos. Apenas sendo. Vivendo em sua imensidão.
Um grande momento
Sonhos evocativos, o chamado do mar