Crítica | Festival

A Hora da Mudança

(L’ora legale, ITA, 2017)
Comédia
Direção: Ficarra, Picone
Elenco: Ficarra, Picone, Vincenzo Amato, Eleonora De Luca, Leo Gullotta, Antonio Catania, Sergio Friscia, Tony Sperandeo, Ersilia Lombardo, Alessia D’Anna
Roteiro: Ficarra, Picone
Duração: 92 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Sempre se diz que o Brasil e a Itália são países muito parecidos. Com a mesma origem e uma influência grande daqueles que vieram para cá, principalmente por conta das guerras, a semelhança pode começar a ser percebida nas pequenas coisas cotidianas. Porém, por mais que se fale, por mais que se diga ou avise, o reconhecimento sempre chega de forma surpreendente quando se assiste a um filme de lá, principalmente aqueles que falem de política, como A Hora da Mudança.

Na Sicília, ilha ao sul da Itália, os muitos anos de máfia deixaram um rastro de insegurança jurídico-legal e corrupção. Como numa terra sem qualquer lei, as pessoas fazem aquilo que bem entendem. O prefeito rouba, dá-se um jeito de não trabalhar, impostos não são pagos, ninguém se preocupa com o lixo ou com qualquer outra coisa pública, que seja social. A pequena cidade vai sobrevivendo, até que a bolha explode e o local, literalmente, para.

É o que faz com que haja a mudança no status quo, mas será que aquele povo sabe e quer viver de outra maneira? Com muito humor, o longa-metragem faz um retrato daquele grupo que não aceita mais a corrupção, desde que isso não interfira em suas regalias prévias. Assim como no Brasil, a mudança ansiada tem que alcançar e ser dos outros, nunca do próprio.

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Com o país em frangalhos e esquemas de corrupção sempre presentes em todos os noticiários nacionais, além de uma sistemática usurpação de direitos e cada vez mais a concessão de benefícios a uma classe já privilegiada, é impossível não haver o reconhecimento com aquilo que se vê na tela.

A revolta inadequada da população, a máfia acompanhando tudo à distância e o pequeno núcleo que resiste na tentativa de manter a mudança vão construindo a trilha do filme, que diverte genuinamente, mas não se priva de criticar a ausência de honestidade que impera na atualidade. Não é de se estranhar que, mesmo após boas gargalhadas, o que se sinta com o desfecho de A Hora da Mudança não seja nada agradável.

E o gosto amargo que se anda sentindo ultimamente fica ainda mais forte e permanece na boca por algum tempo após a projeção. Frente a tudo o que se vê, na vida real ou na obra, é difícil manter a esperança.

Um Grande Momento:
A fila de pedidos.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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