Next in Fashion

“Não vivemos o fim das ideologias, é chegado o tempo de sua reciclagem na órbita da moda”, Lipovetsky ajuda a entender a importância da moda como não apenas expressão ideológica ou de momento de vida, mas também como ferramenta de constituição ou ruptura. Com este olhar é que sugiro dropar a deliciosa Next in Fashion da Netflix que traz um reality preocupado com a técnica, com a harmonia e, sobretudo, com a identidade.

A competição conta inicialmente com nove duplas formadas por pessoas de toda parte do mundo. Cada episódio tem um tema e as duplas precisam criar looks que são julgados por júris bastantes especiais, como Adriana Lima e Tommy Hilfiger. Os resultados são apaixonantes e nos conduz a uma variedade de linguagens e propostas de narrativas que até mesmo que não entende nada do universo Fashion fica de queixo caído. A sofisticação ultrapassou apenas a técnica, fica evidente que é um ponto de vista.

Como todo reality tem a parte do julgamento e as falas enquanto acontecem os desfiles, a diferença está que a proposta é bem diferente: as críticas são bem delicadas e, em vários casos, dá para perceber que é muito mais uma questão de gosto ou contexto cultural. Os apresentadores, Alexa Chung e Tan France completam o espetáculo pelo carisma e pela doçura, com certeza uma das melhores químicas.

As provas de Next in Fashion são alucinantes, em geral, são de 1 a 3 dias para criar roupas complexas do zero, ou seja, do desenho, passando pela escolha do material, até a costura e colocar nos modelos para irem na passarela. Se você já sentou em frente a uma máquina de costura deve saber que isto é muito complicado. Os temas vão de estampa (quando o pessoal teve que criar sua própria estampa no pano e depois fazer duas roupas com ele) a jeans (quando tiveram que criar apenas com este material).

A velocidade com que se muda a proposta de expressão conduzida pelo mercado da moda, criando este gigante Império do Efêmero que sempre tende a ditar a visão hegemônica para manutenção da roda girando, nos faz esquecer que não existe melhor lugar de fala que a própria vestimenta exaustivamente usada para este fim, em geral como contracultura como na Primavera de 1968 ou nos movimentos Punk e tals. A pluralidade (mesmo que sem qualquer intenção ideológica) na passarela do Next in Fashion me fez pensar tanto nisso: por mais que exista um jeito certo de se fazer e uma forma mais vendável para se construir, o estilo é a voz e a particularidade.

Reflexões em busca de mais alguma coisa à parte, se jogue nessa delícia que vai ser consumida rapidinho, com pessoas legais, roupas bonitas, competições emocionantes e tudo na maior alto-astral possível, além de se apaixonar pela Minju.

O melhor episódio
T01E08 – Grande Final…

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