Crítica | Streaming e VoD

Amizade de Férias

Amigos previsíveis

(Vacation Friends, EUA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Clay Tarver
  • Roteiro: Tom Mullen, Tim Mullen, Clay Tarver, Jonathan Goldstein, John Francis Daley
  • Elenco: Lil Rel Howery, Yvonne Orji, John Cena, Meredith Hagner, Robert Wisdom, Lynn Whitfield, Andrew Bachelor, Tawny Newsome, Barry Rothbart, Kamal Bolden
  • Duração: 103 minutos

Todos nós já demos de cara com isso, na prática ou em memes da internet: um argumento base tão pálido que, dependendo de qualquer desenvolvimento, poderia ganhar tintas de comédia, de suspense, de terror, de drama, de thriller, até de ficção científica. O filme que abre o catálogo original da Star+ é dessa exata frequência; Amizade de Férias poderia se arvorar para o lado que fosse, inclusive brincando com isso na própria argamassa, movimentando os gêneros de tempos em tempos com uma piscadinha para o público. Trata-se de uma comédia produzida pela 20th Century Studios que acabou ganhando esse tratamento de gala do streaming, mesmo que seu resultado não seja lá muito inspirado.

Dirigido pelo estreante no cinema Clay Tarver, o cara escreveu há 20 anos o roteiro de um suspense que “o vento levou”, Perseguição (alguém ainda se lembra desse genérico de Encurralado, com Paul Walker e Leelee Sobieski?), episódios de Silicon Valley e… bem, é isso. Com um roteiro escrito oficialmente há 10 mãos – embora no imdb constem só três cabeças – o filme é aquela típica comédia que passará eternamente nas sessões da tarde globais sem qualquer contra indicação da audiência, o que não significa que seus intentos produzem efeito. É um material de consumo rápido e automático, essa é a verdade.

Amizade de Férias
20th Century Studios © Walt Disney Company

Encabeçam o elenco dois homens que não poderiam ser mais diferentes, e esse é um dos pilares da sua construção de humor, ou seja, nem isso é original. John Cena (recém saído de O Esquadrão Suicida) e Lil Rel Howery (recém saído de Free Guy) são opostos o suficientes para que o espectador entenda a disparidade de uma amizade nascida entre ambos, que é ainda mais sublinhada pelo roteiro, que os coloca como um doidão inconsequente de um lado e um tímido e comportado cidadão do outro, respectivamente. De naturezas conflitantes, eles e suas namoradas se conhecem durante férias no México e sua relação se aprofunda – bem, ao menos para um dos casais essa é a impressão.

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O que se segue, com a insistência dessa amizade que é absolutamente genuína de uma parte e completamente impensável da outra, é uma sucessão de momentos de humor físico na maior parte das vezes, apelando sempre para o carisma do quarteto protagonista e das visíveis diferenças entre o gigante Cena e o baixinho Rowery. O filme enxerta umas possibilidades de tom que quebram nossa percepção, e vão tentando dar um charme a uma produção tão direta que impressiona. O problema é que um cinéfilo experimentado sabe exatamente que botões o filme vai apertar, que tentativas ele fará, quais brincadeiras ele irá sugerir e até o que acontecerá cena a cena.

Amizade de Férias
20th Century Studios © Walt Disney Company

Não é um simples caso de clichê apenas, uma reutilização de fórmula frequente que o cinema costuma apresentar com uma repaginada eventual. É quase como se o filme tivesse a personalidade de Ron, o personagem de Cena no filme. Sempre disposto a fazer brincadeiras nas horas mais inconvenientes, Marcus cai em cada uma das armadilhas do novo amigo; já o público, percebe com facilidade quais as gracinhas propostas pelo roteiro e pela direção, e aos poucos o filme parece assumir que não irá mais surpreender ninguém, e literalmente abraça o desenvolvimento mais chapado possível. A avó da protagonista, a relação de Marcus com o sogro, as formas com que Ron consegue dominar as ações, tudo é planejado como se fosse uma enorme novidade, quando não é.

Quanto a se dobrar ao humor apresentado em Amizade de Férias, existe a subjetividade para com esse produto. Dependendo do dia, do seu astral e da companhia, pode provocar desde incontestáveis gargalhadas até um sorriso tímido de cumplicidade – esse foi o meu caso. A estreia no Brasil dessa produção que abre os trabalhos no mais novo streaming do país não irrita nem incomoda particularmente, e seu quarteto é uma delícia de acompanhar, mas suas imagens e sua narrativa não durarão muito mais que alguns dias.

Um grande momento
As alianças

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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