Estações do Amor

Ah, as comédias românticas e suas fórmulas que influenciam e referenciam filmes pelo mundo todo. Não faltam exemplos de variações das histórias já tantas vezes vistas, em modelos, formas e línguas, e agora, cada vez com mais diversidade e adequação a realidades sociais e culturais, ainda bem. Ao mesmo tempo, são histórias que alimentam a fantasia, uma vez que toda essa repetição – e isso vem de muito antes do cinema – cristaliza esse imaginário como uma referência de felicidade e completude. Moto-contínuo das influências, o sucesso e as produções não param. E vem das Filipinas esse pequeno Estações do Amor, repleto de repetições, mas com suas particularidades.

O filme de Easy Ferrer volta ao velho tema do amor entre amigos. Aquelas duas pessoas que se identificam tanto, às vezes até têm algum interesse uma pela outra, mas têm medo de tentar algo para não estragar a amizade. Nesse caso, eles são Charlie e Kurt, e sua história é contada a partir do último encontro, num enorme flashback entrecortado por muitos outros que trarão o background dos personagens, daqueles com quem convivem, e toda a trama. Ou seja, tudo o que encontramos pela frente é extremamente familiar. Não é a primeira vez que vemos uma mulher contando algo assim e nem dessa maneira, ainda que os lugares, as pessoas e o grafismo sejam diferentes.

Porém, há coisas ali em Estações do Amor que fazem dele um filme bem diferente. Se de pronto o roteiro de Dwein Baltazar e Lovi Poe transborda obviedade, à medida que o filme vai passando, aquilo que parecia tão evidente vai se transformando em outra coisa. Além de toda a interpretação da narrativa se guiar pelo ponto de vista da protagonista, há uma expectativa histórica que não permite ver outra coisa além daquela que Charlie enxerga. O mito da reciprocidade, da impossibilidade da relação não-romântica entre gêneros e outros vão caindo por terra.

Às vezes, o que é realmente é aquilo que está ali, e o resto foi ilusão criada por uma vida toda ou numa noite de bebedeira. O filme, mesmo que seja simples e bobinho em sua apresentação, é duro na quebra de expectativa. Principalmente se o que sempre se viu foi o caminho contrário em tramas de encontro, desencontro, afastamento e reconciliação. É estranho acompanhar um final que sempre pode chegar em um lugar desejado, mas não chega, e sem ser desonesto com o caminho que está tomando.

Estações do Amor é um longa despretensioso, uma comédia romântica que chega na esteira de tantas outras que se veem transformadas pelas realidades dos novos tempos. É diferente na percepção das relações, dos indivíduos e dos sentimentos, mas mantém muito da forma e do estilo. Não é um grande filme e nem vai ficar na cabeça depois dos créditos, mas tem lá o seu valor.

Um grande momento
Contando da criatividade alcoólica