- Gênero: Drama
- Direção: Pedro Diógenes
- Roteiro: Pedro Diógenes
- Elenco: Fernando Catatau, Bruno Kunk, Jaene Mariá
- Duração: 80 minutos
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Pedro Diógenes está implicando sua filmografia em um campo cada vez mais afetivo dentro do margeamento que pretende fazer da sua Fortaleza, das maneiras em que consegue apreender acerca dos espaços geográficos que ele apresenta, e de como essa estrutura está criando uma voz para si, praticamente única hoje. Definitivamente, Centro Ilusão é um filme do mesmo diretor de A Filha do Palhaço e Pajeú, um autor que, na ânsia de mapear os becos e as perdas do lugar que o pariu, acaba por comunicar sobre a vida nos grandes centros, suas perambulações e em como nada é para sempre; efetivamente tudo acabará. É delicioso observar que Diógenes quer mais do Cinema que contar uma história através da narrativa; aqui, há o registro de um encontro maior do que uma convenção de roteiro.
Pelas ruas da cidade, o diretor de Inferninho tem criado uma gama de personagens e motivações para questionar essa ocupação do espaço público. Seja através do afeto ou do olhar político acerca do que é possível fazer com tal geografia urbana, Centro Ilusão parece finalmente abraçar com força as duas vertentes. O espaço para o debate é construído a partir de um encontro inédito entre duas pessoas que não se esbarravam, mas que são filhas desse animal geográfico, e precisam lidar com esse pai que repele mais que aproxima. De alguma forma, o filme é uma espécie de resposta ao Retratos Fantasmas de Kleber Mendonça Filho, quando mostra a sede de continuar resistindo naquele espaço abandonado chamado centro da cidade; centro de qualquer cidade.
Diógenes conhece aquelas esquinas, e por isso consegue não apenas perambular com sua dupla de protagonistas ali, mas também ir aos lugares certos, como os terraços dos prédios. Esse é um detalhamento que costuma vir do olhar desse autor, mas que aqui é ainda mais rigoroso na maneira como consegue codificar os caminhos de seus personagens, e transformá-los mais do que críveis. Com a integração entre esses corpos dissidentes e a estrutura nada convencional desse espaço de transição – para a maioria, os centros das cidades são ambientes onde a insegurança está conectada a esse já citado abandono – o filme consegue unir a imagem de seus objetos de leitura visual. Muito rapidamente, pela maquinação do qual seu autor é capaz, Centro Ilusão monta uma espécie de parábola para a arte do encontro, independente do lugar-cenário.
O título do filme ser auto explicativo é uma maneira de encontrar uma conexão entre passado e presente, novo e velho, antiguidades e novidades. Mas cabe também nessa análise o contraponto em cena: Se Tuca parece em clima de despedida em relação aos seus sonhos, Kaio é a certeza da renovação, o novo caminho mostrado por alguma vã esperança caída pelo caminho. Do encontro entre eles, não nasce parceria, mas uma crescente inspiração e moeda de troca; o que um tem, o outro precisa – basta entender o que esse escambo poderá representar para ambos. Centro Ilusão é muito maduro ao não enxergar saídas milagrosas para qualquer que seja a melancolia denunciada. Cada dia é um novo dia, e precisa ser vivido com a expectativa prestes a ser contemplada… ou não.
Não encontramos no cinema de Diógenes outra resposta ao que é a mais pura constatação – através de uma troca sincera, podemos entender o que se apresenta para nós, parecendo mutável ou de resolução concretizada. O que ele realiza ao redor de seu roteiro é atestar credibilidade ao plano, desenvolvendo uma textura endurecida de cores e linhas, que vão se tornando cada vez mais maleáveis a cada novo passo na direção do entendimento mútuo e da compreensão do lugar do outro. As cores principalmente vão perdendo o tom de tragédia melancólica para abraçar esse tentativa de novo, sem perder as características já existentes. Tecnicamente despojado sem qualquer simplicidade, Centro Ilusão ainda conta com um trabalho de som impecável, com uma resposta acerca da captação local de recursos na base do espanto.
Centro Ilusão não é uma quimera para a realização emocional de seus personagens, e sim um campo de entendimento de parte a parte que serve para forjar um novo capítulo para o coletivo. Através de como aquela parceria é alimentada pelo inusitado e pelo acaso, as reservas que existiam vão perdendo a função, até que sobre apenas a única coisa que finalmente pode ser feita. Música, e uma promessa de futuro que pode significar uma renovação para todos os envolvidos.
Um grande momento
A última música