Crítica | Streaming e VoD

O Amor Move Ondas

Breves sombras na areia

(Pod wiatr, POL, 2022)
  • Gênero: Romance
  • Direção: Kristoffer Rus
  • Roteiro: Julian Kijowski
  • Elenco: Sonia Mietielica, Jakub Sasak, Bitamina, Sonia Bohosiewicz, Jakub Czachor, Sebastian Dela, Karol Dziuba, Wojciech Gassowski
  • Duração: 107 minutos

O anúncio dessas produções originais Netflix estão cada vez mais desavergonhadas em sua tentativa de criar uma aura qualitativa para produtos que nem tentam fazê-lo. A estreia de hoje, O Amor Move Ondas, tem um pouco mais de densidade – uma colher, não mais que isso – que esse típico produto geralmente apresenta. Então não se engane, você já viu esse filme antes e ele não é “inspirador, uma tentativa de renovar”, como a chamada e a sinopse apresentada pelo streaming apresentam. É como se o produto fosse mais honesto que a distribuidora, que percebeu que seu filme é mais um descartável lançamento que fará sucesso por no máximo duas semanas, e dará vez em seguida ao próximo lançamento.

A produção polonesa é dirigida por Kristoffer Rus, e se tratando de uma produção de lá, o que chama a atenção é justamente o país priorizar na Netflix um título tão solar, daqueles romances de verão no melhor estilo Dirty Dancing: Ritmo Quente, com a parte musical abreviada. O tom do filme é menos alarmista que o tradicional também, onde a moça rica se apaixona pelo rapaz pobre que trabalha no resort de verão que ela frequenta. Mas a produção é alinhavada para outros lados após a apresentação dessa premissa óbvia, porque os personagens são dotados de camadas e não tem apenas um problema para resolver, cada. Todo tipo que pinta na tela e tem mais de 5 minutos pra si, carrega um fardo a ser resolvido.

Nada é muito escalafobético, mas é interessante perceber que o filme dá vida aos amigos do pai da protagonista, ao concierge do hotel, a outros jovens que não apenas os protagonistas, e com isso o filme ganha algum estofo diferenciado. Além dessa toada, o filme também utiliza da seriedade para dar valor ao que cada um em cena pensa, sem abrir mão da leveza e até de uma certa sensualidade (até desnecessária, e descabida dentro da produção). É um filme com seus momentos de acerto de contas, entre alguns personagens, e segue interessando ao público mesmo que ele saiba que esse roteiro não é fora do comum, e está tudo bem.

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Por trás da candura de um filme feito para a Sessão da Tarde, existe uma protagonista depressiva, um homem lutando contra os próprios demônios, uma mãe fantasma que assombra pai e filho, uma mulher apagada em seu papel do feminino, uma jovem adotada, enfim… não há refresco em O Amor Move Ondas, ao menos no papel. O filme consegue equilibrar esses temas com certo distanciamento entre um e outro para não pesar o resultado, e o filme segue entretendo sem parecer alienado do exterior. Talvez esse equilíbrio entre os tons que se apresentam seja o grande diferencial dele para seus congêneres, que são muitos.

O elenco é todo competente, e acaba dando ao filme, junto ao roteiro de Julian Kijowski, esse diferencial necessário que coloque O Amor Move Ondas em um lugar menos genérico. Marcin Perchuc, o pai da protagonista, e Wojciech Gassowski, o sr. Minor, são exemplos de que um produto não precisa ser mal interpretado por ser “menor”; o trabalho de ambos ultrapassa a dignidade, e em determinado momento passamos a acompanhar suas histórias com interesse genuíno por causa de suas entregas apaixonadas. Perchuc tem mais cenas e consegue desenvolver ainda mais um personagem que surpreende por não fazer as escolhas óbvias.

Isso tudo promove o longa de maneira positiva, mesmo que ele não perca suas características como um todo: trata-se de uma produção rotineira para passar o tempo, ainda que o faça com certa categoria, além de focar seu palco no kitesurf, uma modalidade esportiva que não está todos os dias em todos os filmes. Mesmo que os gestos mais radicais tenham sido utilizados eficientes efeitos visuais para colocar o protagonista em situações de um campeão da categoria, o filme apresenta esse esporte para um público que não o acompanha com frequência. É uma salada refrescante temperada com algum esmero diferenciado.

Um grande momento
Acerto entre pai e filha

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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