Crítica | Streaming e VoD

Jobs

(Jobs, EUA, 2013)

Drama
Direção: Joshua Michael Stern
Elenco: Ashton Kutcher, Dermot Mulroney, Josh Gad, Lukas Haas, Matthew Modine, J.K. Simmons, Lesley Ann Warren, Ron Eldard, Victor Rasuk, John Getz, Kevin Dunn, James Woods
Roteiro: Matt Whiteley
Duração: 128 min.
Nota: 5 ★★★★★☆☆☆☆☆

Que Steve Jobs foi um gênio, ninguém duvida. Visionário e persistente, ele foi o responsável por mudanças significativas na ligação das pessoas com bugigangas eletrônicas, sempre priorizando o design e a usabilidade no resultado de seus projetos.

Fundador da Apple e criador do iPod, iPhone e outros, seu nome tornou-se um dos mais conhecidos da atualidade. Sua popularidade, sucesso e genialidade, aliados à morte precoce, despertaram interesse sobre sua vida. Após uma biografia, publicada em 2011, natural que viesse um filme.

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Jobs estreia hoje nos cinemas brasileiros, mas chega tão cheio de problemas que talvez não consiga agradar nem mesmo os mais fervorosos fãs do empresário.

O principal erro do longa-metragem é acreditar que ter em mãos apenas um personagem de sucesso e conhecido do grande público já garantiria material suficiente para uma boa história. Não é bem assim. Para funcionar, um filme precisa ter uma história básica, uma trama principal que desperte interesse. Contar a história de alguém apenas juntando fatos de sua vida, sem se preocupar na posição e organização de viradas e clímax, não só não funciona, como destrói o enredo.

A pergunta que fica é: faltam fatos interessantes à vida de Jobs? Não. A própria saída e volta dele à Apple já renderia interesse suficiente para sustentar toda a trama do filme. A história até está lá, mas é tratada como mais uma das passagens de vida do protagonista apenas, com importância idêntica a qualquer outra. Acaba diminuída e sem muita função.

Outro grande problema é a personalidade de Jobs. O roteiro não dá refresco a suas aprontações. Sua índole duvidosa, intransigência e uma vontade absurda de sempre se dar bem são tão destacadas que fica difícil não antipatizar com aquela figura, o que, claro, compromete o envolvimento com o filme.

Ser pouco interessante e pouco envolvente faz com que outros deslizes acabem se destacando na tela. Como a obviedade que impera durante todo o filme, seja nas opções de enquadramento, na iluminação ou em elementos repetitivos sem muita função. É o caso do quadro de Einstein, que aparece sempre; da participação de James Woods como professor da faculdade ou a insistência de colocar Jobs estacionando em vaga reservada para deficientes físicos. Como se a genialidade e o caráter de Jobs já não estivessem suficientemente claros e bem demarcados pela trama.

Ashton Kutcher não consegue acertar o tom. Embora a postura do ator seja realmente muito parecida com a do empresário, uma preocupação com o gestual acaba sendo maior do que deveria e o resultado final é algo entre o constrangido e o pouco convincente. O resto do elenco não surpreende, mas também não faz feio.

Uma montagem insegura completa a lista de problemas. Além da escolha de eventos ruins, a conexão entre cada uma dessas passagens também não é orgânica, o que resulta em uma experiência chata e pouco interessante. São poucos os momentos potencialmente emocionantes que conseguem tocar o público. Mesmo com a ajuda da insistente trilha sonora.

Uma pena, porque Jobs é uma figura que, mesmo que contaminada pela arrogância e prepotência, querendo ou não, transformou a vida de milhares de pessoas ao redor do mundo com suas inovações e maluquices. Merecia um filme muito melhor do que esse.

Um Grande Momento:
A última cena.

Jobs_poster

Links

IMDb Site Oficial [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=Vw9E_VATe-k[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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