Crítica | Festival

O Homem Ideal

Artifícios de felicidade

(Ich bin dein Mensch, ALE, 2021)
Nota  
  • Gênero: Comédia, Romance
  • Direção: Maria Schrader
  • Roteiro: Jan Schomburg, Maria Schrader
  • Elenco: Maren Eggert, Sandra Hüller, Dan Stevens, Jürgen Tarrach, Karolin Oesterling, Marlene-Sophie Haagen, Victor Pape-Thies, Falilou Seck
  • Duração: 108 minutos

“Qual é a coisa mais triste que consegue pensar?
Morrer na solidão”

A ideia do romance customizado, do amor feito sob medida, do companheiro ou companheira ideal ganham tonalidades irônicas, filosóficas e que cativam nas mãos da cineasta alemã Maria Schrader (da série Nada Ortodoxa) com O Homem Ideal. Ele é personificado por Dan Stevens, ator britânico que é fluente em alemão e já havia atuado em outra produção falada no idioma germânico – Hilde, em 2009. A ele se une Maren Eggert, como a Dra. Alma Felser que é cética e sem a menor paciência para ser romântica.

A premissa de O Homem Ideal não é nada realista, afinal, estamos lidando com uma ficção científica que ainda assim traz alguma conexão com o mundo do lado de cá da tela: pesquisadora acadêmica, Alma precisa de financiamento para continuar o trabalho de uma vida e é sutilmente chantageada por um colega de departamento a testar um dos robôs que estão sendo desenvolvidos para substituírem namorados e maridos de carne e osso. O parecer de Alma (nem um pouco adepta a se abrir para a experiência) fará o colega, que integra o comitê de ética da empresa fabricante, ser mais colaborativo e buscar outros fundos para a pesquisa dela.

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O Homem Ideal
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Entre bailados e flertes que soam antiquados ou descompassados na cabeça prática de Alma, surge Tom (Dan Stevens, hipnótico, talvez mais do que Jude Law em AI), pronto para ser levado para a casa dela e usado como um brinquedo novo. E nesse teste drive do amor, Schrader propõe um olhar atento aos amores líquidos, a felicidade artificial e ao sentimento de incompletude que também é parte da experiência humana. A trilha sonora de Tobias Wagner é tão imersiva quanto provocadora no sentido de propor certas rupturas na rotina do “quase casal” ao unir sons metálicos a sinfonias, peças melancólicas ao piano. A afinação de O Homem Ideal é tamanha nos efeitos visuais, fotografia e montagem que escolona bem o efeito que aquele homem aparentemente artificial, mas manifesta rompantes de humanidade.

“Meu algoritmo foi escrito para te fazer feliz”

E claro, como parte do código dos filmes com romance e pitadas cômicas, algumas cenas estão ali, encaixadas entre o segundo e o terceiro ato, para fazer com que a trama de O Homem Ideal não se torne previsível. A história se passa ao longo de três semanas e é de desejar que Alma e Tom, entre percalços, acabem juntos. A memória sensível, os sentimentos profundos e um vinculo que vai se moldando com Tom também ajudam a protagonista do filme a mergulhar dentro de si. A olhar a menina que ela foi quando um dia se encantou por Thomas, um menino loiro e perfeito durante as férias da família num vilarejo na Dinamarca. E é bem mais sobre a mulher que para de buscar a perfeição e aceita que o que tem é bom do que a busca na felicidade no outro.

Um grande momento
A primeira dança com tilt

[Festival Internacional do Rio 2021]

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Lorenna Montenegro

Lorenna Montenegro é crítica de cinema, roteirista, jornalista cultural e produtora de conteúdo. É uma Elvira, o Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema e membro da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). Cursou Produção Audiovisual e ministra oficinas e cursos sobre crítica, história e estética do cinema.
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