Crítica | Catálogo

O Nascimento do Mal

Que presente de dia das mães hein...

(Bed Rest , EUA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Lori Evans Taylor
  • Roteiro: Lori Evans Taylor
  • Elenco: Melissa Barrera, Guy Burnet, Edie Inksetter, Sebastian Billingsley-Rodriguez, Kristen Sawatzky, Erik Athavale, Paul Essiembre, Marina Stephenson Kerr
  • Duração: 88 minutos

Como já disse em tantos outros textos (principalmente nos de lançamentos em circuito), o terror ainda é um gênero com forte procura no Brasil. Ainda que, a essa altura, tenhamos tido poucos fenômenos em 2023, nossas distribuidoras continuam apostando nesses filmes como uma espécie de garantia de retorno esperado. Isso faz com que recebamos produtos como esse O Nascimento do Mal, que só o protagonismo de Melissa Barrera, a mocinha dos últimos dois Pânico, justifica o desvelo com o lançamento. As outras justificativas possíveis incluem uma preguiça sem igual para tentar compreender o que o mercado pede, desde que seja atrelado alguma qualidade ao que estreia; o caso aqui é do oposto. 

Enquanto esperamos que filmes badalados e consagrados internacionalmente no gênero sejam lançados aqui, como Speak no Evil, o circuito recebe de braços abertos algo tão genérico quanto esse filme. A produtora Lori Evans Taylor estreia no roteiro e na direção com um projeto que faz muito sentido para o público feminino: o que pode ser mais apavorante para uma mulher do que ser constantemente ameaçada em sua maternidade? Lógico que isso já não é novidade desde o fim dos anos 60, quando Roman Polanski dirigiu o clássico O Bebê de Rosemary, mas não vamos comparar esses dois títulos porque O Nascimento do Mal nem precisa de tanto para empalidecer. A sugestão e a ideia, portanto, são o que de melhor Taylor tem a oferecer. 

O Nascimento do Mal
Diamond Films

De resto, temos uma trama que mais uma vez explora o antiquíssimo plot da casa assombrada por uma tragédia ocorrida no passado, a diferença é que no centro da narrativa temos uma mulher no terço final de uma gravidez de risco. Os clichês, cada mínimo detalhe deles, estão todos arremessados aqui – do marido que conseguiu um emprego novo na universidade local, no trauma que o próprio jovem casal tem em suas vidas, na governanta assustadora que passeia pela casa, nos conselhos a respeito do local ter sido palco de acontecimentos sinistros… é tudo muito cansativo. Se algum frescor é sequer apresentado em O Nascimento do Mal, ele não demora mais que alguns poucos minutos para se dissipar. No geral, estamos diante de um campo onde tudo é requentado, passando inclusive pela protagonista. 

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Melissa Barrera é uma atriz com recursos, temos visto há dois anos seguidos que ela será uma ‘scream queen’ de respeito, a orgulhar Jamie Lee Curtis. Mas reaproveitar sua imagem em alta para um filme tão antiquado e ausente de inspiração, é desgastar a moça, e transformar seu potencial em algo frívolo e que pode ser repetido a qualquer momento. Ainda bem que até ela percebeu que O Nascimento do Mal era apenas um cheque a ser compensado e entregou uma performance bem aquém do que vimos nas duas últimas partes de Pânico. Ao lado dela, um moço chamado Guy Burnet (que estará em Oppenheimer) completa o combo da vergonha alheia. Sozinha, Edie Inksetter tenta fazer o possível para não transformar o desastre em uma chuva de meteoros apocalípticos. 

Diamond Films O Nascimento do Mal

As cenas mais chamativas de O Nascimento do Mal já estavam no trailer, e mesmo lá, já pareciam capengas, o que se confirma. Crianças que aparecem e somem, bolinha que é jogada por debaixo da cama de maneira sombria, portas que batem, pessoas que dormem em banheiras à beira de afogamento… nada disso é suportável, a essa altura. O filme não provoca susto algum, e na verdade o interesse vai se esvaindo cena a cena. Tendo assistido a uma semana antes de escrever esse texto, eu digo que nem o mais aficcionado fã do terror será capaz de compreender sua produção, para além do ‘vamos tirar dinheiro dos incautos’. Ainda existe a possibilidade de sim, ser apreciado pelos amantes do gênero, mas principalmente eles mereciam algo menos aborrecido assim. 

Um grande momento

O voo pela janela

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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