Crítica | CinemaDestaque

O Porteiro

Ousadia inesperada

(O Porteiro , BRA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Paulo Fontenelle
  • Roteiro: Paulo Fontenelle
  • Elenco: Alexandre Lino, Maurício Manfrini, Cacau Protásio, Daniela Fontan, Aline Campos, Bruno Ferrari, Alana Cabral, Suely Franco, Rosane Goffman, Cesar Boaes, Heitor Martinez Mello, Juliana Martins, Renato Rabelo, Andrea Veiga, José Aldo
  • Duração: 90 minutos

Mesmo uma comédia popular, com rasgos de gargalhada aberta, são materiais que precisam de um equilíbrio entre a exposição maciça de um gênero e a afirmação de um estado de afetuosidade entre seus personagens, principalmente se estamos diante de um quadro familiar. O Porteiro deve ser a comédia nacional entrando em cartaz no maior circuito cinematográfico em muito tempo (acho que nenhum circuito em 2023 o alcançou), e isso é justificado por essa mistura que, se não é a mais bem azeitada, ao menos é certo de ter encontrado uma voz. Isso acontece principalmente por contar, em seu centro, com o coração de Alexandre Lino, protagonista e um dos idealizadores do projeto que rendeu primeiro um espetáculo teatral de sucesso, e agora aporta nos cinema para repetir o feito. 

É a partir de um diálogo no terço inicial que o personagem de Lino tem com a filha, vivida por Alana Cabral, que o espectador mais atento se conecta a O Porteiro, em seu caminho afetivo. Se o trato com sua esposa Laurizete (uma Daniela Fontan empenhada em provocar nossos instintos) é feroz, Waldisney encontra no reconhecimento da caçula um espaço onde reencontrar sua centralidade. Baseado no que esses dois personagens exalam um pelo outro, a admiração da filha que reflete os esforços de um pai trabalhador, o filme de Paulo Fontenelle consegue acertar uma combinação mais complexa para o cinema brasileiro, iniciada nos Trapalhões. Não perder o olho da piada, ao mesmo tempo em que cria um lugar de conforto para uma classe menos favorecida. 

A ideia de olhar para quem não olhamos no dia a dia é o mote principal de O Porteiro, e não é um lugar restrito à profissão-título. Profissionais da limpeza, síndicos, são ocupações estigmatizadas, e geralmente restritas a grupos específicos da sociedade. O roteiro tenta nos fazer perceber que o imigrante nordestino pode obter mais do Sudeste do que o lugar onde lhes é permitido, mas o filme poderia ir ainda mais fundo nessa questão. Está tudo implícito até o momento onde o protagonista discursa sobre sua condição, o que leva o filme de um pólo a outro, saindo de uma discrição observacional e indo até a exposição extrema. Falta ao filme escolher um lugar ou outro para manter sua fala, ainda que consiga contemplar os dois lugares, em momentos distintos. 

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Não há dúvida que as possibilidades de comunicação da produção são alcançadas. Quando o espectador não está com um sorriso no rosto contemplando as cenas, ou completamente irritado com a personalidade que Fontan imprime à sua personagem, a gargalhada corre solta, muito por conta da interação de uma genial Suely Franco com o elenco. Sua personagem é um achado, e sua postura é a que escancara uma proposta de risco do filme. Fontenelle conta com o público para completar os tempos mortos do filme com os arroubos de diversão desbragada, criando silêncios constrangedores em múltiplos momentos. É uma ideia audaciosa, que funciona em partes e com subjetividade, pois não é todo o público que vai comprar a proposta; no entanto, não há como negar o valor de sua escolha, que delega a O Porteiro um aspecto diferenciado no gênero. 

O espectador pode se sentir deslocado com a possibilidade que o filme apresenta ao tentar criar uma linguagem particular em seu caminho de humor. Afinal, uma zona de risco dentro de uma seara tão atrelada ao descompromisso não será apreciada por todos. Mas, ao encontrar espaço dentro de um lugar tão inóspito quanto o ato de constranger o alheio, O Porteiro se destaca dentre os seus pares, como a franquia Até que a Sorte nos Separe. Não é um caminho simples ou fácil, mas a julgar pelas reações dentro da sessão de imprensa, acredito que o jogo esteja mais fácil de ser ganho do que poderíamos imaginar. Ainda que a montagem precisasse calibrar ainda mais essa estratégia, o que foi conseguido em uma incursão rara é, no mínimo, diferenciado, e sem dúvida corajoso. 

Apesar do coração de O Porteiro ser de Lino e Alana, o fígado de Fontan e o espírito de Franco conduzir as melhores cenas, o filme tem em seu elenco muito bem calibrado um corpo completo. Talvez a maior surpresa atenda pelo nome de Cacau Protásio, que nos oferece o que poderia ser um decalque da Terezinha de Vai que Cola; não é. Fina e consciente, a atriz costura muitas diferenças entre seus tipos populares e enche Rosivalda de um olhar quase cândido na direção de sua obsessão pelo romance. É um tipo chamativo, mas que guarda no fundo do olho uma intensidade e uma busca desenfreada pelo amor a qualquer custo, tão genuína que provoca no público em relação a seu filme algo parecido. Um filme com vontade tão profunda de acertar, que mesmo quando erra, a intenção positiva salta da tela. E a homenagem a uma certa Dona Hermínia, vou dizer… deixou uma lágrima pendurada no canto do olho.

Um grande momento

A primeira aparição de Dona Alzira

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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1 Comentário
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José Oliveira Sampaio
José Oliveira Sampaio
02/11/2023 14:40

Que porra de filme lixo é esse tal de Porteiro, perdi o meu tempo assistindo essa merda de filme, a personagem da esposa do porteiro, pense numa coisa insuportável e sem graça alguma, já o porteiro percebe que ele tenta o tempo todo ser o Mister Bean. Não recomendo nem ao maior inimigo assistir esse lixo de filme.

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