Crítica | Streaming e VoD

Sangue e Ouro

Coletivo de bastardos

(Blood & Gold, ALE, 2023)
Nota  
  • Gênero: Guerra
  • Direção: Peter Thorwarth
  • Roteiro: Stefan Barth
  • Elenco: Robert Maaser, Marie Hacke, Alexander Scheer, Roy McCrerey, Jördis Triebel, Stephan Grossmann, Simon Rupp, Nele Kiper
  • Duração: 95 minutos

A Netflix estava muito interessada na promoção desse alemão Sangue e Ouro que estreia hoje, e ao passar por apreciação, entendemos o porquê. Um desses filmes onde tudo funciona, que é ao mesmo tempo um excelente passatempo e também uma produção esmerada em seus valores, um drama de (fim de) guerra que nos deixa vibrando durante toda a duração e um filme praticamente sem contra indicações mais evidentes. Poderíamos ter mais filmes assim estreando na plataforma, se não parecesse muitas vezes que os títulos estão em zona de batalha por um espaço, e que ele só precisa ficar pronto para ser aceito. Isso não deixa de ser uma verdade, e é exatamente por esses motivos que assistir a algo assim é ainda mais recompensador. 

Dirigido por Peter Thorwarth, do igualmente bem sucedido com eles Céu Vermelho-Sangue, Sangue e Ouro vai por outro lado, mas igualmente oferece diversão ao público pagante. O que temos aqui em maiores doses não é apenas um sentido de urgência, mas uma certeza do sacrifício. Essa sensação segue os personagens do filme e cresce tanto que em determinado momento começamos a duvidar da ordem de protagonismo, porque mesmo eles podem morrer. Uma produção não poderia despertar sentimento mais positivo do que essa insegurança quanto ao próximo passo de seu roteiro cuidadoso, por meio de uma imprevisibilidade difícil de obter. Isso se dá pelo que a própria narrativa oferece aos poucos, um desamparo quanto aos que virá a seguir, tendo em vista que todas as certezas caem.

Sangue e Ouro
Netflix/Reiner Bajo

O nível de execução dessas ideias é bem defendido, e o filme consegue estabelecer um bom padrão entre um ritmo vertiginoso, a cadência de algumas frentes narrativas espaçadas, em uma duração até mínima. É um grupo de personagens na medida, espalhados em ao menos três linhas próprias, que se entrelaçam aos poucos na direção do que Sangue e Ouro move, uma ganância tão desmedida que nem se imagina a próxima inclinação do destino. As pessoas não se preocupam com o horizonte, para o bem ou para o mal, e isso está na conta dos vilões e dos mocinhos também. Por conta desses arroubos intempestivos, tantas decisões do filme são tomadas de maneira equivocada, gerando quedas patéticas, mas absolutamente humanas. 

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A dupla que, até segunda ordem, encabeça Sangue e Ouro é muito precisa no que desenvolve em cena, e em nome de que valores seus tipos estão ancorados. Robert Maaser e Marie Hacke transparecem o cansaço, a obstinação, o medo e a solidão de pessoas que estão no limite que eles estão tentando ostentar. Em meio a um elenco que exala exatidão a todo momento, com interpretações carregadas de estereótipos simbólicos muito bem encarnados, os dois à frente funcionam como uma bússola para toda a equipe. Toda a trupe de vilões é igualmente bem sucedida em seus retratos, mas igualmente eles se sobressaem exatamente por Masser e Hacke se colocam tão frontalmente à disposição de suas sanhas sanguinárias, mas com desenvolvimento margeando um encontro que não precisa ter explicação. 

Sangue e Ouro
Netflix/Reiner Bajo

Aos poucos, a acomodação em torno de sua trajetória não revela nada de muito original, é o mesmo princípio de tantos outros títulos. O que torna Sangue e Ouro algo de brilho diferenciado é a forma como tais desenvolvimentos são encampados, como seus tipos estão sempre no limiar da inexperiência, e como toda a textura da produção exala também esse frescor. Há um empenho no acerto que vai do roteirista Stefan Barth até Thorvarth, passando por toda a equipe técnica, especialmente os responsáveis pela arte, e termina contagiando quem assiste. São pequenos detalhes, como a personalidade forte de Paul, o grupo de mercenários residente da cidade que encampa uma narrativa paralela à tragédia galopante, ao interesse ganancioso de todos por algo que, como já dito, ninguém nem sabe como ou se vai usufruir. 

Esse ímpeto pela posse indiscriminada é um recurso bem divertido que o filme utiliza para mostrar que tal elemento de cobiça é, na verdade, um grande estorvo para quem passa por ele. Ainda que particularmente seja complexo entender também tamanho desprendimento por parte de alguns no desfecho, quem acompanhou a saga de Sangue e Ouro percebeu que ninguém avançou em seus desejos enquanto estavam cegos de ambição. Seria esse um conto moralista em relação a usura? Se for, não foi por ausência de diversão que tal moralismo se encampou em cena. 

Um grande momento

Paul no alto da torre

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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1 Comentário
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VINICIUS RODRIGUES
VINICIUS RODRIGUES
26/05/2023 21:38

Na verdade um roteiro previsível e covarde em alguns aspectos, provavelmente preso a alguma questão de recepção pelo público em alguns casos, muito clichê, nada genial, muito decepcionante, principalmente o antagonista que mais parece um bailão de filme de super heroi

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