Festivais e mostras

O que ver na 36ª Mostra de São Paulo

Começa amanhã a 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Com a programação nas mãos, agora é a hora de montar a nossa grade de escolhas. Que filmes vamos ver? Quais vamos deixar como segunda opção? Horários que se chocam e cinemas nem tão perto assim parecem sempre atrapalhar as primeiras escolhas, mas com persistência dá para colocar boa parte do que esperávamos ver.

Mas como é difícil escolher entre mais de 350 filmes. Alguns se baseiam no histórico dos diretores, outros no efeito causado nos grandes festivais por onde passaram. Alguns não veem filmes já comprados por distribuidoras nacionais, outros não se importam com isso. Há quem vá pelo elenco ou pelo gênero do filme e há quem goste de escolher simplesmente pelo nome, esperando surpresa mesmo.

Sempre vinculadas ao gosto pessoal, as escolhas, independente do método utilizado, nunca serão as mesmas. Mas, para quem gosta, vamos deixar aqui algumas dicas de filmes que talvez possam ajudar na programação individual.

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Mostra Brasil – Perspectiva

O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho
O longa ganhou os prêmios da crítica, do júri popular e de direção em Gramado; levou o Redentor de melhor filme no Fetival do Rio e é mesmo uma experiência rara que merece ser descoberta e redescoberta, para quem já viu o filme.

Era uma Vez Eu, Verônica, de Marcelo Gomes
Premiado em Brasília com o Candango de melhor filme, foi também o longa de ficção preferido pelo júri popular. Repetindo a parceria Hermila Guedes e João Miguel, conta a história de uma médica recém-formada.

Colegas, de Marcelo Galvão
O grande vencedor do Kikito este ano e também do prêmio especial do júri conta a história de três amigos com síndrome de Down que resolvem fugir do instituto onde moram. Ainda que não seja tão profundo e elaborado, é bonitinho e agrada bastante o público.

A Busca, de Luciano Moura
Escolha do público no Festival do Rio, o filme conta a história de um pai que tenta encontrar o filho recém-desaparecido. No elenco nomes como Wagner Moura, Lima Duarte, que também está em Colegas, e Mariana Lima.

Elena, de Petra Costa
O documentário escolhido pelo público no Festival de Brasília relembra a busca pessoal da diretora pela irmã que partira para Nova York. Quem gostou de seu curta Olhos de Ressaca deve gostar.

Outros que se destacaram no circuito dos festivais nacionais e merecem ser lembrados na hora de montar a programação são o documentário Jards, de Eryk Rocha, melhor direção no Festival do Rio e a ficção Boa Sorte, Meu Amor, de Daniel Aragão, melhor direção no Festival de Brasília. Com atuações premiadas, na seleção também estão Noites de Reis, de Vinícius Reis e O Que Se Move, de Caetano Gotardo.

Perspectiva Internacional

Entre os selecionados estão vários filmes que participaram de festivais, alguns com muita distinção, outros em pequenas mostras paralelas. A verdade é que a grande maioria é um tesouro ainda a ser descoberto, mas alguns destaques já podem ser citados:

A Caça, de Thomas Vinterberg, passou por Cannes concorrendo à Palma de Ouro e levou o prêmio de melhor ator para Mads Mikkelsen. No filme, uma mentira acaba transformando a vida de um homem.

No, de Pablo Larraín, também passou por Cannes, onde ganhou o prêmio da Confederação Internacional de Cinema de Arte, e foi o filme escolhido pelo Chile para concorrer a uma vaga no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2013. O longa encerra a trilogia de Larraín sobre os efeitos da era Pinochet na população do Chile justamente com o último acontecimento de sua história, o pleibiscito que tirou o ditador do poder.

A Bela Que Dorme, de Marco Bellocchio, volta à questão da eutanásia. Esteve em Veneza, onde concorreu ao Leão de Ouro e foi premiado pela direção e a atuação do jovem Fabrizio Falco, que também está presente em A Culpa É do Filho, recentemente exibido no Festival do Rio.

A Feiticeira da Guerra, de Kim Nguyen, também foi o escolhido pelo Canadá para o a vaga no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. A atriz Rachel Mwanza foi premiada em Berlim, onde o filme também foi premiado pelo júri ecumênico, e em Tribeca, que também premiou a narrativa. Conta a história de uma jovem que, depois de ter sua aldeia queimada e seus pais mortos, é treinada como criança-soldado.

A Parte dos Anjos, de Ken Loach, concorreu à Palma de Ouro e ganhou o prêmio do júri. Conta a história de um jovem delinquente que precisa endireitar-se depois de conseguir escapar da cadeia com uma condenação de trabalhos sociais e do nascimento de seu filho.

O Amante da Rainha, de Nikolaj Arcel, agradou em Berlim, onde foi premiado pelo roteiro e pela atuação de Mikkel Boe Følsgaard, e também é o escolhido pela dinamarca para o Oscar. Conta a história do romance entre a esposa do rei e um dos membros influentes da corte.

Além das Montanhas, de Cristian Mungiu, seguiu a tendência do renovado cinema romeno e fez barulho quando passou por Cannes, onde foi reconhecido pelo roteiro, assinado pelo diretor, e pela atuação da dupla de protagonistas Cristina Flutur e Cosmina Stratan. O longa conta uma história de amizade que tenta ser reconstruída.

Laurence Anyways, de Xavier Dolan, narra uma história de amor entre um homem que está prestes a mudar de sexo e a sua noiva. Figurinha carimbada de Cannes, onde foi premiado por seus filmes anteriores, Eu Matei a Minha Mãe e Amores Imaginários, Dolan levou com esse filme a Palma Queer.

Barbara, de Christian Petzold, ganhou o Urso de Prata pela melhor direção na Berlinale e é o escolhido pela Alemanha para o Oscar. Conta a história de uma médica da Alemanha Oriental que pretende sair do país e viver o seu amor, que está do outro lado do muro.

Alguns filmes não receberam prêmios tão reconhecidos nos mesmo festivais, ou estiveram em outros eventos menos comentadas, mas agradaram o público. É o caso de Um Ato de Caridade, de Mani Haghighi; A Glória das Prostitutas, de Michael Glawogger, e Em Família, de Patrick Wang.

Entre os documentários, há dois títulos que já agradaram o público: Bully, de Lee Hirsch, sobre o tão comentado atualmente problema do bullying nas escolas, e Lado a Lado, de Christopher Kenneally, produzido por Keanu Reeves e Justin Szlasa sobre o fim da película no cinema com as novas tecnologias e que conta com depoimentos de Danny Boyle, James Cameron, David Fincher, George Lucas, David Lynch, Chistopher Nolan e Martin Scorsese, entre outros.

Voltando para a ficção, também merecem uma atenção especial o longa Dom – Uma Família Russa, de Oleg Pogodin, sobre o reencontro de uma família russa e, para os que gostam de animaçao, o lento mais visualmente sensacional Alois Nebel, de Tomas Lunak.

Alguns diretores também têm a sua força na hora da escolha. Um Alguém Apaixonado, de Abbas Kiarostami, por exemplo, é quase um presente para os fãs do realizador iraniano; Outrage: Beyond, de Takeshi Kitano, marca a volta do diretor japonês para o mundo da máfia japonesa; Reality, de Matteo Garrone, é o novo filme do diretor depois do bem-sucedido Gomorra, e O Gebo e a Sombra, de Manoel de Oliveira, que continua filmando com seus 104 anos de idade.

Para aqueles que querem conhecer os filmes que disputam com O Palhaço, de Selton Mello, uma vaga na lista de indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, além dos já citados anteriormente também estão na seleção da mostra Crianças de Sarajevo, de Aida Bejic, concorrente pela Bósnia Hezergovina; Infância Clandestina, de Benjamin Ávila, pela Argentina; La Demora, de Rodrigo Plá, pelo Uruguai; Perder a Razão, de Joachim Lafosse, pela Bélgica, e o confuso Tiro na Cabeça, de Pen-Ek Ratanaruang, pela Tailândia.

Competição Novos Diretores

Ainda falando sobre os concorrente à vaga de Filme Estrangeiro, na Competição Novos Diretores estão Minha Vida em Nairóbi, de Tosh Gitonga, pelo Quênia; Preenchendo o Vazio, de Rama Burshtein, por Israel e Quando Vi Você, de Annemarie Jacir, pela Palestina.

Entre os outros títulos está o ganhador da Semana da Crítica em Cannes, Aqui e Ali, de Antonio Mendez Esparza e, entre outros, dois longas que andam sendo muito bem comentados: o dinamarquês Sequestro, de Tobias Lindholm, e o sérvio Rua da Redenção, de Miroslav Terzic.

Apresentação Especial

Quem tem vontade de rever alguns clássicos do cinema nacional, a programação deste ano traz algumas boas opções. Carlos Reichenbach, pessoa fundamental para a cinefilia da cidade, recebe uma homenagem no ano de seu falecimento com a exibição de seu longa Alma Corsária.

Outros títulos nacionais também recebem apresentações especiais, como Os Deuses e os Mortos, de Ruy Guerra; As Amorosas, de Walter Hugo Khouri; Iracema, uma Transa Amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna; Adultério à Brasileira, de Pedro Carlos Rovai, e Xica da Silva, de Carlos Diegues

Voltando à programação internacional, o comentadíssimo filme do diretor português Miguel Gomes, Tabu, vencedor do prêmio FIPRESCI em Berlim está na programação. Além dele, Aquele Querido Mês de Agosto, ganhador do prêmio da crítica na 32ª Mostra de São Paulo e uma seleção de seus curtas também estão na programação.

Quem ganha uma mini-mostra especial também é o diretor chilene Pablo Larraín, que com Tony Manero e Post Mortem tem toda a sua trilogia em exibição.

Outros diretores também ganham apresentações especiais, de toda a programação, vale a pena ver o curta La Jétée, de Chris Maker; Muriel, de Alain Resnais; Lawrence da Arábia, de David Lean; Tubarão, de Steven Spielberg, e Nosferatu, de F.W. Murnau, que tem exibição especial no Parque do Ibirapuera. Também é uma boa chance de conferir o novo título do diretor Amos Gitai, Canção para o meu Pai.

Retrospectivas

Andrei Tarkovski e Minoro Shibuya ganham retrospectivas e a vontade que fica é a de ver todos os filmes dos dois. Quem tem um filme favorito, pode optar por ele, mas quem ainda não conhece e quer conhecer, vale tentar passar um dia todo na Cinemateca.

O russo Sergei Losnitza também ganha uma retrospectiva. Seus filmes Na Neblina e Minha Felicidade são imperdíveis.

Vão Livre do MASP

Como já é tradição, o vão livre do MASP vira um cinema durante a Mostra. Neste ano, o nome da programação especial é o diretor Roberto Farias, com os três filmes de ação: Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa e Roberto Carlos a 300 Km por Hora. O filme É Simonal, de Domingos Oliveira, e outras musicais completam a seleção.

Claro que esses são alguns dos muitos títulos a serem descobertos e, talvez, nem agradem tanto por aqui, mas uma Mostra de verdade nunca seria a mesma sem muitas surpresas no meio da programação. No final das contas, para aquele horário livre que parece impreenchível, entrar em uma sala aleatória, sem saber absolutamente nada sobre o que vai ver, é sempre um dos melhores jeitos de viver o cinema.

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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