Com o final do ano, pipocam, por todos os lados, os balanços de 2009. Entre retrospectivas e comentários, as listas têm sempre um lugar privilegiado, mas como é difícil fazê-las. Depois de assistir centenas de filmes, cada um com um astral e disposição diferentes, é quase um suplício reduzir tudo em uma lista de “os dez mais”.
Enquanto alguns filmes subiam e outros desciam, títulos eram lembrados como indispensáveis e entravam na lista, mas tiravam outros que não poderiam faltar. Depois de muito pensar, lembrar, sentir e, em alguns casos, rever, acabei chegando a uma conclusão.







Claro que a restrição em dez títulos acaba sendo injusta, já que muitos outros mereciam estar aqui. Pelo menos outros dez não listados merecem menções honrosas. É o caso dos dramas O Casamento de Rachel (Rachel Getting Married); Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road), Gigante (Gigante) e Os Falsários (Die Falscher); da ação sul coreana O Caçador (Chugyeogja); das comédias Se Beber, Não Case (The Hangover) e Trovão Tropical (Tropical Thunder); dos biográficos Inimigos Públicos (Public Enemies) e Grupo Baader Meinhof (Der Baader Meinhof Komplex) e o excelente documentário nacional Cidadão Boilesen (Cidadão Boilesen).
Para ficar de olho
Uma das vantagens de cobrir festivais é que entre tantas coisas vistas, estão aquelas que têm um grande potencial de chamar a atenção do público e que ficam na cabeça da gente por tanto tempo que queremos sempre ver mais de uma vez.
Estes são aqueles títulos que me interessaram e ainda não entraram em cartaz nos cinemas brasileiros, mas merecem ser vistos assim que possível. Os escolhidos foram:
10. Maradona (Maradona, 2008. Dir. Emir Kusturica)
Uma figura como Maradona só poderia mesmo ser filmada por outra figura: Emir Kusturica. O diretor bósnio até viaja mais do que precisava, mas traz o Maradona tão pra perto da gente que vale o ingresso.
Só por ser o último filme de Heath Ledger, essa história maluca de um homem que proporciona viagens por sua imaginação promete levar muita gente ao cinema, mas foi o tom a la As Aventuras do Barão Munchausen que garantiu o lugar na minha lista.
Ser adolescente já é difícil, imagine se for morando em uma cidadezinha do interior gaúcho sem perspectivas e ainda tentando entender o suicídio da namorada. O visual do drama é de tirar o folêgo e fica difícil resistir à viagem.
7. Natimorto (Natimorto, 2009. Dir. Paulo Machline)
Nem todo mundo gosta de entrar no universo fantástico criado por Lourenço Mutarelli, mas aqueles que mergulham de cabeça vão adorar o novo filme sobre o encontro de dois fumantes inveterados bem maluquinhos.
Um cinema que tem me deixado curiosa é o uruguaio. Este filme, um western diferente sobre a decadência, a ilusão e o passar do tempo foi uma grata surpresa. Atenção para o trabalho dos atores, sensacional.
O melhor deste filme de terror sobre dois adolescente que descobrem o corpo de uma garota em um antigo hospital é que são os humanos ainda vivos que assustam muito mais do que qualquer evento sobrenatural.
4. Antes Que o Mundo Acabe (Antes Que o Mundo Acabe, 2009. Dir. Ana Luiza Azevedo)
Só por ser um filme infanto-juvenil brasileiro, a história de um menino que descobre o amor e um pai perdido pelo mundo já merece a menção. Ser a estréia na direção de Ana Luiza Azevedo também ajudou.
O cinema sul-coreano vem chamando minha atenção há algum tempo e Mother é mais um exemplo de que devemos mesmo conferir o que há de novo por lá. Essa é “só” uma das melhores histórias sobre o amor materno que eu já vi.’
Se existe alguém que consegue tratar qualquer assunto com delicadeza, é Campanella. A mistura das histórias de um amor não realizado e de um estupro seguido de morte é o melhor exemplo disso.
Em uma viagem visualmente estonteante e proporcionalmente angustiante, conhecemos as raízes do nazismo. Se Haneke já conseguia passar seu recado, aqui ele surpreende.
Alguns outros títulos interessantes que ficaram de fora são os brasileiros Mangue Negro, Sequestro e A Falta Que Nos Move, o canadense Eu Matei a Minha Mãe e o chileno Malta com Huevo.
Os curtas do ano
Os festivais também são ótimos para conhecermos um pouco mais sobre a produção de curtas-metragens nacionais, já que o acesso a estes pequenos filmes é tão complicado por aqui.
Apesar da safra ter sido inferior à de outros anos, entre os nomes que chamaram minha atenção estão:
10. Pra Inglês Ver, de Vitor Granado e Robson Dias
A estranha exploração do turismo nas favelas do Rio de Janeiro e como ela pode ser humilhante para uns e lucrativa para outros.
9. Olhos de Ressaca, de Petra Costa
A história de um amor de muitos anos, que sobreviveu ao tempo e ainda está ali.
8. Amigos Bizarros do Ricardinho, de Augusto Canani
Ricardinho era uma figura estranha, mas muito mais estranhas eram as histórias de seus amigos.
7. Ernesto no País do Futebol, de André Queiroz e Thaís Bologna
Um menino argentino se muda para o Brasil com os pais e tem que sobreviver aos efeitos da antiga rixa entre os dois países com os colegas da escola.
6. Ave Maria ou a Mãe dos Sertanejos, de Camilo Cavalcante
A poesia das seis horas da tarde, a hora da Ave Maria, no sertão nordestino.
5. O Teu Sorriso, de Pedro Freire
Um casal maduro, recém-apaixonado, passa os dias se amando como se fossem dois adolescentes.
4. DoceAMARgo, de Rafael Primot
Após um acidente, um casal espera pelas surpresas da vida.
3. A Invasão do Alegrete, de Diego Müller
Uma brincadeira, fruto da antiga rixa entre duas cidades vizinhas do Rio Grande do Sul, causa a maior confusão.
2. Josué e o Pé de Macaxeira, de Diogo Viegas
A velha história de João e o Pé de Feijão é recontada com símbolos e músicas bem característicos do sertão nordestino.
1. Recife Frio, de Kleber Mendonça Filho
Uma mudança climática muda a rotina dos moradores da antes ensolarada cidade do litoral de Pernambuco.
O que não precisava
Agora que já falamos dos melhores, está na hora de listar aqueles que não precisavam ter existido. Entre os muitos títulos, os menos necessários do ano foram:
Adaptação envergonhante de desenho japonês.
Mais um capítulo da série sobre adolescentes que fingem ser vampiros, não gostam de mulher e sofrem com a falta de camisa dos lobisomens.
Adaptação fraca (e mutilada) de um livro também fraco.
7. Surpresas do Amor (Four Christmases, 2008. Dir. Seth Gordon) Filme besta de Natal que não consegue resistir a uma escatologia.
Brincadeirinha com mortos e encarnações que não funciona.
A história de um alienígena com cara de parede que está na Terra para destruir tudo.
Mais um dos enaltecedores filmes em que Will Smith tenta salvar todo mundo.
Terror francês que tenta assustar, mas só consegue fazer rir.
História batida e sem graça que ainda consegue ser prejudicada pelo excesso de plásticas da protagonista.
Muitos efeitos, muitos personagens, muitas histórias e um conjunto completamente vazio.
Outros que também me decepcionaram foram Halloween – O Início, Um Ato de Liberdade, Donkey Xote e Budapeste. Isso sem falar naqueles que de tão ruins, nem ficaram registrados.