Crítica | Streaming e VoD

Os Infiéis

(Gli infedeli, ITA, 2020)

  • Gênero: Comédia
  • Direção: Stefano Mordini
  • Roteiro: Filippo Bologna, Stefano Mordini, Riccardo Scamarcio
  • Elenco: Riccardo Scamarcio, Valerio Mastandrea, Laura Chiatti, Valentina Cervi, Marina Foïs, Ascanio Balbo
  • Duração: 94 minutos
  • Nota:

Remake de um original sucesso francẽs homônimo de oito anos atrás estrelado e dirigido pelos amigos Jean Dujardin (Oscar por O Artista) e Gilles Lellouche (de Até a Eternidade), entre outros, essa versão italiana para Os Infiéis não se justifica nem consegue trazer a tona o motivo pela realização do primeiro, um mistério insolúvel até hoje. Se esse jogo de esquetes com um machismo bem mal disfarçado já soava patético em 2012, com historietas curtas sobre relacionamentos focadas em situações de traição conjugal, agora nem um certo charme cafajeste restou, deixando no ar apenas uma incógnita ainda maior relacionado ao prazer mórbido que alguns artistas parecem sentir em produzir material vexatório contra si mesmos. A sensação de vergonha alheia percorre toda a produção, e fica o questionamento a respeito das atrizes que leram esse roteiro e acharam minimamente interessante aceitar participação.

Não há valor artístico acompanhando a produção, que parece apenas um projeto para a Netflix barato e de certa retorno fácil; trata-se de um filme rasteiro para consumo ligeiro que não promove qualquer discussão qualitativa quanto à sua própria produção de imagens, estéreis e sem vida na maior parte do tempo. Na metade do trajeto, surge uma mínima fagulha de ideias, mais precisamente o episódio do jogo de basquete. Com a participação da talentosa Marina Foïs (de Polissia), o episódio é o único preocupado em não encarcerar sua personagem feminina num ambiente depreciativo de alguma maneira. Com a ajuda de uma atriz que tenta elaborar um contexto emocional àquela mulher através de suas reações minúsculas, é um momento breve de elevação de um material antiquado.

Os Infiéis (2020) Netflix

O diretor Stefano Mordini está se especializando em remakes, após refazer Um Contratempo em Testemunha Invisível, e em mais um exemplar de numa parceria constante com Riccardo Scamarcio (de Nada Santo e do segundo John Wick), mostra que ainda lhe falta adquirir os passos mais básicos da comédia enquanto realizador; falta a Os Infiéis, além de noção, ritmo do gênero, aquela pegada típica que nos transporta para um ambiente de galhofa, a atmosfera necessária a criação do clima cômico – nada disso existe. Um bilhete passado por debaixo da porta em determinado episódio vislumbra realizar algum grande momento de humor, mas não passa de uma tentativa vazia de realçar alguma característica positiva do filme. Sem timing, no entanto, resta a produção buscar refúgio em um público que não exija algo além de um passatempo fugaz.

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Ainda assim, a tarefa de angariar simpatia ao projeto é complexa. Repleto de situações onde homens machistas são perdoados, exaltados ou vitimizados, impressiona como as mulheres em Os Infiéis são retratadas como chatas, histéricas, descontroladas, quase como se as traições sofridas fossem merecidas. Um manancial de estereótipos para onde se olha, o filme não vende seus personagens como algo além de uma cartilha desprezível de composição equivocada de desenhos. Se nenhum desses tipos que avançam sobre o filme tem uma presença com alguma sutileza ou riqueza de criação, a direção também não tenta elevar o material proposto. A percepção do material apresentado é de que se trata de um genérico de um produto que igualmente não tinha nada para mostrar, nem de engraçado nem de verdadeiro.

Os Infiéis (2020) Netflix

Junto a Scamarcio no protagonismo do filme está Valerio Mastandrea (de Nine), ambos dividindo a liderança nas histórias. Outra dado inexplicável é retirar dos atores seus atrativos físicos e criar tipos desinteressantes fisicamente, alguns podendo ser chamados de feios com tranquilidade. Ora, se são machistas, escrotos, muitas vezes mentirosos, safados absolutos e além disso tudo sem qualquer atributo especial, fica difícil entender o motivo pelo qual esses caras conseguem fazer o que fazem. Como se trata de um produto de apreciação prejudicada, ao final de Os Infiéis a forte sensação de perda de tempo acompanhará o espectador, mesmo com duração tão reduzida. Esse aqui é um daqueles casos raros onde os predicados precisam de uma lupa para serem encontrados.

Um Grande Momento
Não há.

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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1 Comentário
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Mjf Fabio
Mjf Fabio
18/07/2020 14:44

Comentário que fala “machismo” significa que o filme é bom e o crítico é ruim

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