- Gênero: Comédia
- Direção: Louis Leterrier
- Roteiro: Stéphane Kazandjian
- Elenco: Omar Sy, Laurent Lafitte, Izïa Higelin, Dimitri Storoge
- Duração: 119 minutos
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Filmes com duas pessoas muito diferentes que acabam unidos em uma mesma missão policial não são raros no cinema. Em Os Opostos Sempre se Atraem, estreia de hoje da Netflix, Ousmane Diakité e François Monge são esses caras com personalidades contrastantes obrigados a investigar um assassinato estranho que aconteceu próximo ao trilho do trem em Paris. Enquanto um é o comissário esquentado que quer resolver tudo sozinho, o outro é um tenente que não consegue sair do lugar na carreira por suas compulsões e narcisismo. Ambos já estiveram juntos antes e agora são reunidos novamente por causa da metade de um corpo e precisam descobrir o que aconteceu com o resto dele.
Se o tema é batido no cinema em geral, também já rendeu alguns bons — e mais autênticos — filmes franceses. Com uma cara mais internacionalizada, vamos dizer assim, o longa estrelado por Omar Sy, astro da série Lupin, também disponível na Netflix, e de longas como Ronda Noturna e Intocáveis; e por Laurent Lafitte, de Elle, pode até ser muito específico e ter um contexto identificável e indiscutivelmente justificado, mas traz para a tela características de filmes estadunidenses de ação e comédia dos anos 1980/90 que só se atualizaram na capa e, de certa forma, perderam o viço.
Porém, entre tropeços, há uma boa primeira metade ali, desde que a atenção esteja voltada para a diversão. A dinâmica entre Sy e Lafitte funciona justamente pela relação atrapalhada entre ambos, pelo modo como não conseguem se acertar nos métodos e como fracassam em suas ideias. Cenas simples como a notícia com as galinhas ou mais exageradas como a da chave do carro prometem algumas boas risadas, mas elas vêm mais espaçadas do que o roteiro assinado por Stephane Kazandjian acredita que viriam.
Por outro lado, a direção de Louis Leterrier (de filmes como O Incrível Hulk, Truque de Mestre e a ousada refilmagem de Fúria de Titãs) aposta também na ação e tem até boas sequências de luta e perseguição, com direito a ringue, emboscada e explosão de carros, o que sustenta Os Opostos Sempre se Atraem em seus momentos mais fracos e, o mais importante, depois que um certo cansaço recai sobre o filme após as revelações serem feitas.
Talvez, a grande questão por trás do longa esteja em sua conotação de denúncia. É inquestionável que a comédia é um ótimo veículo para tratar de assuntos prementes e graves que acometem a sociedade. Essa é a intenção aqui, e há urgência naquilo que se trata, principalmente quando se vê que há menos de um mês uma candidata de extrema direita com a imagem ligada a ideias racistas e antissemitas esteve muito perto de ganhar as eleições presidenciais francesas. Essa é a temática de Os Opostos Sempre se Atraem (péssima tradução de título, considerando-se isso, aliás, uma vez que o título original é “Loin du pèriph”), mas há pouca habilidade em tratar tudo isso em conjunto.
Pensar em um filme com abordagens antiquadas para falar de questões de gênero, por exemplo, tentando ao mesmo tempo desenhar o ressurgimento do fascismo é incongruente, ao mesmo tempo há uma dificuldade em definir alguns dos personagens e dar credibilidade a algumas das relações, por mais que seja importante estabelecer esse jogo. Assim, a impressão que fica é a de que o longa quer muito deixar sua mensagem, mas sem ter certeza de onde apostar as suas fichas. Resta, assim, confuso entre a diversão e o contexto e, claramente, não era isso que queria.
Um grande momento
Mão besuntada