Crítica | Streaming e VoD

A Caminho do Verão

A questão é: para quê? (ou O Desabafo Inoportuno do Crítico)

(Along for the Ride, EUA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Sofia Alvarez
  • Roteiro: Sofia Alvarez
  • Elenco: Emma Pasarow, Belmont Cameli, Kate Bosworth, Andie MacDowell, Dermot Mulroney, Laura Kariuki, Genevieve Hannelius, Samia Finnerty, Ricardo Hurtado
  • Duração: 106 minutos

Vejamos: adolescente desenturmada? Check. Férias na praia? Check. Bullying que se transforma em amizade? Check. Paixão pelo mais avesso dos garotos da cidade? Check. Pais separados interpretados por astros de outrora? Check. Bom, pelo visto, A Caminho do Verão, estreia de hoje da Netflix, engloba tantos clichês do gênero comédia romântica adolescente, que fica sem qualquer motivo o público sentar para assistir um filme tão batido assim, que não leva ninguém a lugar nenhum, nem mesmo o público-alvo. Ao longo de sua longa duração (ou será que só parecia interminável?), o filme avança na sua trama e dá continuidade ao que é proposto. O problema é que tudo em cena já foi visto na base de umas 10 vezes. Por ano. Encostados na Netflix então… 

Vamos tirar o elefante do meio da sala então: você NÃO precisa ver A Caminho do Verão, essa é a imensa verdade. Há anos (hoje, duas temporadas de pandemia depois, já posso usar no plural) monitorando com lupa as estreias de canais de streaming, Netflix em especial – e isso exclusivamente por ser a única a lançar uma média de 10 novidades semanais – e sabemos que filmes como esse existem mensalmente. Todo mês veremos A Bolha, Naquele Fim de Semana, Tratamento de Realeza, O Amor Move Ondas (olha exatamente essa estreia de hoje, nesse título aqui!)… que morrerão rapidamente dentro das plataformas, e seguirão seu destino de irrelevância absoluta para o mundo. E mês que vem, teremos novos exemplos desses mesmos produtos chegando de novo, para consumo rápido e esquecimento ainda mais rápido.

A Caminho do Verão
Emily V. Aragones/Netflix

Porque ver então um filme como esse? Bom, o algoritmo das plataformas e seus números de audiência nos fazem reféns de produtos assim, temos a falsa impressão da necessidade de completar um imenso álbum de figurinhas, sem deixar faltar nenhum. Confesso: quando dou de cara com novos A Caminho do Verão, me pergunto realmente se a profissão que escolhi era a mais recompensadora, de fato. Seria normal jogar o ‘jogo do contente’ e declamar que a qualquer momento vou me deparar com novos Silverton e Bubble no meio da geléia, mas é uma tarefa inglória assistir 30 filmes para peneirar 5 no mês. Isso tudo pra dizer que sim, eu entendo vocês, meus amigos, que se perguntam porque eu não estou assistindo a séries, a clássicos, para me dedicar a um mapeamento do vazio, muitas vezes. Bem… alguém tem de fazer o serviço sujo, não? 

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Dois parágrafos de chororô do crítico (“vai trabalhar no McDonald’s então, cara”… rsrsrs…), A Caminho do Verão continua existindo, com sua protagonista absolutamente deslocada do resto do seu grupo social, em interpretação quase tão ansiosa por socorro quanto quem vos fala. A moça chama Emma Pasarow, tá tentando ter uma carreira enquanto lembra uma mistura de Jennifer Garner com Michelle Rodriguez, mas a notar seu primeiro trabalho em longas, o amadurecimento tá bem longe ainda. Ela ajuda a não termos qualquer empatia com o filme, porque passeia tranquilamente seu desconforto, sua falta de intimidade com aqueles sentimentos tão prosaicos, com um ar eternamente sorridente e pouco à vontade, com um ambiente onde parece não querer estar. Contrasta com ela a óbvia participação esfuziante de Kate Bosworth, uma moça que um dia foi a Emma Pasarow e hoje… bem, hoje ela é coadjuvante de Emma Pasarow, e precisa mostrar serviço. 

A Caminho do Verão
Emily V. Aragones/Netflix

Quem lê essa crítica, talvez um tanto amarga, absolutamente injusta com os sentimentos que esse filme queria despertar, pode vir a ter a falsa impressão de que A Caminho do Verão fosse uma bomba descomunal; o pior é que ele não é. Talvez me incomode muito mais assistir exemplares como esse, que nada tem de catastróficos, a me deparar com um Indecente ou um Traição e Desejo, esse sim, absolutamente tóxicos em tudo que tocaram. Porque A Caminho do Verão não move o mundo para nenhuma parte, não te arrebata nem te apaixona, não te faz deitar a cabeça no travesseiro ganindo de ódio. Ele simplesmente é banal e triste, em sua frágil vontade de manter as peças do quebra-cabeça imóveis, enquanto o mundo passa ao largo de experiências mais enriquecedoras. 

Me deixa melancólico perder tempo assistindo um filme como esse, porque tenho a impressão (errada) que estou em lugar dispensável; me dá ímpeto de desistir, jogar a toalha e aceitar que um cinema tão desengajado em qualquer passionalidade esteja à disposição ganhando biscoitos. No passado, houveram pessoas analisando filmes como Vem Dançar (sim, eu fui pesquisar, não lembrei disso sozinho; um drama “nada” sobre um Antonio Banderas professor de dança) enquanto estreava dois meses depois Miami Vice, do Michael Mann. Ou seja, existirão eternamente milhares de A Caminho do Verão, infelizmente… e eternamente haverá um pobre coitado cortando um dobrado pra escrever um texto crítico de um filme que não está nem aí pra análise, pro cinema, pra mim ou pra vocês, em geral. 

Um grande momento
O diálogo conciliatório entre Auden e Maggie

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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