- Gênero: Drama
- Direção: Anne Fontaine
- Roteiro: Claire Barré, Anne Fontaine
- Elenco: Virginie Efira, Omar Sy, Grégory Gadebois, Payman Maadi, Elisa Lasowski, Emmanuel Barrouyer, Anne-Pascale Clairembourg, Anne-Gaëlle Jourdain, Cécile Rebboah, Cédric Vieira, Thierry Levaret
- Duração: 98 minutos
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Anne Fontaine parte de lugares comuns e situações facilmente reconhecíveis para estruturar o seu Ronda Noturna. Dona de uma filmografia heterogênea, com títulos como Nathalie X, Como Matei Meu Pai, Coco Antes de Chanel e Agnus Dei, neste drama policial ela aposta na não-linearidade narrativa, no multifoco e em vários pontos de vista para contar a história de quatro pessoas em um evento simples: a transferência de um preso, supostamente terrorista, que está prestes a ser extraditado de volta ao Tajiquistão.
O filme acompanha um dia dos policiais Virginie, Aristide, Erik e o prisioneiro Asomidin Tohirov desde as primeiras horas, alternando as experiências em eventos picotados que vão, ao mesmo tempo, contando suas histórias individuais e estabelecendo uma ligação entre eles. Embora todos tenham suas curiosidades, há um claro interesse à personalidade e ao dilema de Virginie, a ela é dada a função de guiar o longa que percorre por mais de uma vez o mesmo caso de violência doméstica, maus tratos contra um animal, uma batida policial de rua até chegar ao evento fatídico.
![Ronda Noturna](https://cenasdecinema.com/wp-content/uploads/2021/05/Ronda-Noturna_interno2.jpg)
Embora haja toda uma questão política gritando no pano de fundo, com a postura adotada com o imigrante em sua prisão e deportação, Fontaine opta por uma abordagem que privilegia o fator humano, o modo como aquelas pessoas lidam com cada uma das situações e, principalmente, como se sentem com a ausência de posicionamento do Estado com o debate principal. “Deviam ter deixado ele morrer queimado. É menos hipócrita!”, diz a advogada de direitos humanos. Outros temas como machismo, casamento e maternidade também surgem pelo caminho.
No fluxo interrompido, a diretora insere memórias para completar o background de seus policiais, mas prefere não inserir imagens do passado de Tohirov, numa contradição contextual que, por um lado, mantém o tom do filme, mas, por outro, reforça uma falta de espaço que o filme condena. Outra coisa é bastante comum de títulos que apostam no multifoco: o peso da repetição no ritmo da narrativa. Ronda Noturna até consegue se estabelecer bem, porém, ainda que se recupere, se ressente dos retornos.
![Ronda Noturna](https://cenasdecinema.com/wp-content/uploads/2021/05/Ronda-Noturna_interno1.jpg)
O trabalho do quarteto principal é fundamental para o filme. Virginie Efira (Sybil), Omar Sy (Intocáveis), Grégory Gadebois (O Oficial e o Espião) e Payman Maadi (A Separação) encontram a química perfeita. Com personalidades bem delineadas, presos boa parte do tempo em uma espaço delimitado, estabelecem um jogo equilibrado de silêncio, mal estar e tensão. Há cenas inspiradas, como a comunicação pelo olhar, a incerteza da compreensão, os sinais vermelhos pelo caminho.
A forma e o conteúdo de Ronda Noturna podem não ser originais, mas Fontaine sabe trabalhar com isso para estabelecer e reforçar a tensão. O modo como os personagens nos envolvem e como a relação entre eles vai se fortalecendo fazem do filme uma boa opção para aqueles que gostam do gênero. Não é nada que vai ficar para sempre, mas é aquele típico exemplar que parte do esperado para boa surpresa.
Um grande momento
Os seis minutos