- Gênero: Drama
- Direção: Paxton Winters
- Roteiro: Joseph Carter, Wellington Magalhaes, Paxton Winters
- Elenco: Bukassa Kabengele, Cassia Gil, Débora Nascimento, Léa Garcia, Raphael Logan, Jefferson Brasil, Rayane Santos, José Loreto, Thiago Thomé, Shirley Cruz
- Duração: 100 minutos
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Pacificado é um filme antigo. Não porque ele passou muito tempo percorrendo o percurso dos festivais e demorou a chegar aos cinemas, e nem porque está falando do Rio de Janeiro das Olimpíadas e da ocupação dos morros pela polícia num movimento bizarro chamado pacificação. Sua antiguidade vem do modo como olha para o seu objeto. Assistir ao longa de agora é como assistir a um filme de antes, que ainda expõe as comunidades da mesma maneira, sem critérios reflexivos. Deixando claro que essa é uma história do outro, evidencia-se o olhar externo, com suas impressões e extravagâncias.
Esse ser de fora é Paxton Winters, que tem em mãos uma boa história e habilidade para pensar e executar quadros. Em sua defesa, é possível perceber o esforço com que ele, um diretor estadunidense, se mantém afastado da violência explícita, marca do cinema onde seu filme facilmente pode ser inserido. Porém, ao mesmo tempo, não há uma racionalização sobre o quanto outras passagens e eventos, mesmo que não explícitos, são igualmente violentos. Isso sem falar na estigmatização, na definição de papéis limitados e, não raramente, trágicos.
Tati é um exemplo dessas vidas no calvário, passando por decepções, agressões, abandono e medo. Até mesmo os poucos momentos felizes são seguidos de algo negativo, como se ela fosse impossibilitada de ser feliz. Apesar do desenho derrotista e cansativo, há algo que nos conecta à personagem: Cássia Gil, atriz não-profissional que está por trás dela. A então menina, que está quase sempre com a câmera perto demais, consegue se relacionar bem com ela e sabe equilibrar o drama sem deixar escapar os seus traços adolescentes. Gil, aliás, está bem acompanhada. A bem da verdade, o trabalho com os atores em Pacificado se destaca, com boas participações de nomes conhecidos como Débora Nascimento, Léa Garcia, Jefferson Brasil e Bukassa Kabengele.
E há, também, a fotografia de Laura Merians, sempre muito impressionante, ciente da luz e dos espaços, graficamente pomposa aqui e ali, e bem posicionada nos momentos de tensão e angústia. Mas, temos aqui outro mas, a quem serve a estetização? Entre todos os flares, planos poéticos de um transe ou uma escadaria, há o julgamento, a comiseração e a exotização involuntárias. Em Pacificado, Winters, e os roteiristas Joseph Carter e Wellington Magalhães escolhem falar de sofrimento, de desgraça, e não há porque, ainda hoje, depois de tanto se pensar em imagem e no significado das imagens, isso ser filmado para ser belo.
É a questão do descompasso, da extemporaneidade que não para só aí. Estar em um lugar não é ser do lugar, mostrar que soube ouvir é ir além, é saber que você está tentando o tempo todo mudar a sua própria percepção, mas que ela continua sendo a sua forma de ver algo, e ela sempre vai estar muito contaminada com uma centena de coisas com as quais você tem que se atentar todo dia. Winters ouviu, tentou, deu duro e até fez o melhor que pode, mas errou por acreditar que conhecia muito e sabia o que tinha que evitar.
Em Pacificado está o retrato superficial e sem nuances de uma realidade onde ele não enxerga outras possibilidades. Está também a violência da qual tanto fugiu, em formas duríssimas e perpétuas, contra aqueles que têm muito menos chance de se defender por ainda nem terem idade para isso. E, mais do que tudo, há, gritando, esse olhar de fora, que pior do que falar pelo outro, toma dele a voz.
Um grande momento
A primeira pizza