(Pai em Dobro, BRA, 2021)
Maisa Silva começou bem novinha na televisão. Com seus cachinhos comandava uma dessas atrações infantis no SBT e sofria bullying de Sílvio Santos. Cresceu diante das câmeras, fez novela e participou de vários programas e estourou nas mídias sociais. No cinema fez dublagem e viveu adolescentes em comédias infantojuvenis que aproveitam histórias requentadas, mas que não deixam de ter um temperinho brasileiro e um carisma a mais por sua presença em cena. Fato é que o carisma de Maisa muda as coisas, e para o bem. Em Pai em Dobro isso não é diferente. Nem quando se fala da história requentada, nem quando se fala da importância da jovem para que tudo funcione.
Dirigido por Cris D’Amato, conhecida por comédias geralmente fora do tom como Lindas de Morrer, Sai de Baixo! O Filme e É Fada!, o longa-metragem conta a história de Vinceza, uma menina que tem um único desejo na vida: conhecer o pai e aproveita a ausência da mãe para sair pelo mundo buscando por sua identidade. O roteiro, escrito por Thalita Rebouças, uma das mais conhecidas escritoras infantojuvenis do Brasil, em parceria com João Paulo Horta, Renato Fagundes e Marcelo Andrade, tem lá os seus deslizes, mas se encontra num humor familiar gostoso inofensivo, que sabe destacar os pontos positivos para esconder aquilo que não consegue encaixar muito bem.
O fato de iniciar o filme em uma comunidade idealizada, completamente fora do padrão, já facilita na construção de uma personagem que estará fora de um padrão contaminado por elementos inescapáveis. A Vicenza de Maisa pode ter ingenuidades e crenças que em outra situação não seriam aceitáveis e invalidariam a história de pronto. Sua jornada em busca do pai é como o seu modo inocente de observar a vida e essa é a desculpa de Thalita e Cris para encherem a história de cor e música, sem dar muita atenção para personagens que surgem fazendo conexões ou forçando situações.
O encontro da protagonista e Paco, vivido por Eduardo Moscovis, ajuda ainda mais o filme, pois há muita química entre os dois. Tanto que todos os esforços para criar um pano de fundo não consegue sobreviver às cenas dos dois e o filme acaba dependendo tanto delas que isso compromete o segundo encontro com Giovani, personagem de Marcelo Médici. Embora a situação vá se desenvolvendo dentro da expectativa, na ansiedade que Vinceza vai estabelecendo por não saber como se dividir entre as novas realidades encontradas, há um carinho que não tem tempo e nem espaço para ser elaborado.
Porém, Pai em Dobro não tem nenhuma pretensão de ser profundo ou entregar algo mais do que diversão e entretenimento passageiros e faz isso com competência. Com sua história emprestada, já vista muitas vezes, o filme tem um andamento gostoso e sabe se aproveitar da fofura. Mesmo que tenha a atenção muito centrada em pontos específicos de sua trama e não consiga despertar o mesmo interesse por suas subtramas, como a da pensão, a do bloquinho do lugar ou mesmo o romance (vamos aqui abrir uma exceção pela rápida passagem de Rayon pela Índia), é uma história que segue bem.
O sucesso das comédias familiares infantojuvenis já é conhecido pela Netflix, distribuidora o filme, e o investimento em Pai em Dobro não foi pequeno. Tanto que não será surpresa nenhuma se daqui a alguns dias o filme estiver entre os mais assistidos da plataforma que, além de apostar no gênero, já vem ensaiando firmar uma parceria com Maisa. Errada não está. Eis aí alguém que já chegou muito longe e tem muito mais caminho para trilhar.
Um grande momento
“Ela tá sentindo a sua falta”.