Estamos de volta ao meloso universo de Lara Jean e Peter e seu namoro perfeito. No último ano do colegial, ele já tem sua vaga garantida para a Universidade de Stanford e ela aguarda ansiosamente a resposta para ir para lá e viver o sonho de uma vida a dois com o amor de sua vida. Com uma estética ainda mais apurada e todo o apego do público infanto-juvenil aos personagens neste terceiro filme da franquia, Para Todos os Garotos: Agora e Para Sempre é um filme que cumpre os seus objetivos de causar sorrisos bonitas, suspiros e fantasias de amor romântico.
Mais uma vez dirigido pelo diretor de fotografia Michael Figmognari, depois do segundo e equivocado segundo filme da franquia, Agora e Para Sempre vem como aqueles filmes de recuperação, como a reparação depois do estrago. E percebe para onde deve olhar e ao que deve dar atenção, embora tenha lá sua “mão pesada” nos momentos em que consegue deixar exposto o patriarcado — no pior sentido da expressão. É importante falar sobre isso em um filme que reafirma um padrão que tem guiado o imaginário popular e estabelecido metas irreais.
O roteiro, adaptado por Katie Lovejoy da obra de Jenny Han, tenta fazer as contraposições entre o que está estabelecido e o que há de diferente, mas nem sempre foge do arraigado. Quando LJ faz uma lista para as atividades para um encontro perfeito e coloca os filmes de ação porque é o que Peter gosta, por exemplo, isso é grave. Mas muito mais grave é a irmã mais nova, uma nova geração, dizer que o cara não vai gostar de fazer artesanato, porque homens vão preferir assistir ao Clube da Luta. Determinação de atividades femininas e masculinas, em pleno século 21. Mas isso é só a ponta do iceberg.
Deixando o contexto para mais tarde, é preciso voltar em como Agora e Para Sempre incorpora o amadurecimento de Laura Jean a todo a sua profusão de rosa e azul bebê, desenhos e emojis. Tudo o que o figurino não consegue fazer, por sua obviedade e completo deslocamento, o diretor traz para a fotografia, que ele também assina, e gradualmente vai assumindo tons menos infantis, com menos luz e contrastes, ainda que sem descaracterizar aquele universo.
Figmognari é um ótimo diretor de fotografia, só que se destaca num gênero completamente diferente. Parceiro constante de Mike Flanagan, fotografou Ouija: A Origem do Mal, O Espelho e Doutor Sono, entre outros, e, em outras parcerias, assinou a foto de filmes como Antes Que Eu Vá, Tarde Demais e Poderes Extraordinários. Quando assume uma trilogia tão afastada, se testa e não faz feio, pelo menos não em sua especialidade. Sem dúvida, tropeça em Ainda Amo Você, quando começa a acumular funções com a saída de Susan Johnson, e isso vem de toda a desambientação e de um approaching invertido ao tema que contaminou o todo e ecoou no específico.
Para Todos os Garotos: Agora e Para Sempre, de certo modo, recupera isso. Há uma significativa associação ao universo criado pelo primeiro filme, com mais apropriações de elementos gráficos e um retorno ao sentido da trama, com a quebra natural do tempo. Além disso, é visível a preocupação e o cuidado — vamos voltar ao contexto — de não tomar os espaços femininos ou exaltar discursos machistas como no filme anterior.
Mas é inegável que o que Agora e Para Sempre tem esse incômodo de reafirmar excessivamente o lance do amor romântico e de determinar o primeiro amor com a eternidade mesmo depois do discurso tóxico, mas vamos colocar isso na conta da “fonte de todos os bens” da paixão infantil que Barthes descreve. Nada que sobreviva à maturidade e à própria vida.
Um grande momento
Assumindo Nova York
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