Crítica | Streaming e VoD

Paraíso Perdido

(Paraíso Perdido, BRA, 2018)
Drama
Direção: Monique Gardenberg
Elenco: Lee Taylor, Jaloo, Erasmo Carlos, Júlio Andrade, Seu Jorge, Felipe Abib, Humberto Carrão, Marjorie Estiano, Celso Frateschi, Malu Galli, Hermila Guedes, Julia Konrad, Nicole Puzzi
Roteiro: Monique Gardenberg
Duração: 110 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

— Não me apresentei. José.
— Odair.

É curioso ver como o exagero pode funcionar tão bem em certas histórias. Em Paraíso Perdido tudo está acima do tom, mas, ao mesmo tempo, é somente naquele tom que sua história faria sentido. Desde que esses dois personagens se apresentam, já se sabe que o brega em sua mais profunda essência estará presente por toda narrativa.

José é o dono de uma boate, onde quase toda a sua família se apresenta: Angelo, o filho mais velho, que nunca superou a partida do amor de sua vida; Imã, o neto transformista que está apaixonado por um homem que não aceitou sua homossexualidade, e Celeste, a neta que descobre-se grávida do namorado que a abandonou. Odair vai parar no local depois de um convite ocasional de Teylor, um outro cantor do local, e, depois de salvar Imã de uma surra na rua, é contratado como seu segurança.

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Isso é apenas o começo de tudo o que Paraíso Perdido, que chega agora às plataformas de streaming, traz à tona. Embalado por uma trilha sonora calcada no brega e cheia de músicas cheias de dor e sofrimento, como é característico no gênero musical é como se o filme seguisse todo o exagero das melodias. Tudo muito caprichado também no excesso visual, em cores fortes e marcantes, com o vermelho e o verde quase sempre em destaque.

O roteiro também é repleto de gratuidades e diálogos pouco convincentes, carregados, assim como as atuações não são nenhum pouco afeitas ao minimalismo. Tudo é grande, grita e sangra exageradamente no longa-metragem de Monique Gardenberg (Ó Paí, Ó) e o impressionante é que isso não cansa, não desinteressa e nem afugenta o espectador. Ao contrário, estimula uma interação com aquele universo de melodrama cafona e com aquela família que está racionalmente tão longe da possibilidade, mas tão perto do real.

Acrescentam bastante ao resultado positivo as atuações de Júlio Andrade, Hermila Guedes, Humberto Carrão e Marjorie Estiano, assim como as interpretações musicais de Jaloo e suas releituras de clássicos do brega como “Impossível Acreditar que Perdi Você”, “Jamais Estive Tão Segura de Mim Mesmo” e “Não Diga Nada”. O mesmo também precisa ser dito da fotografia de Pedro Farkas, da direção de arte de Valdy Lopes e do figurino impecável de Cássio Brasil.

Uma grata surpresa, Paraíso Perdido traz tudo aquilo que, de cara, poderia repelir, mas acaba atraindo e conquistando. De um jeito bem brega, é verdade, mas quem disse que precisaria ser diferente disso para contar essa história?

Um Grande Momento:
Angelo sofrendo com “Minhas Coisas”, de Odair José.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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