Crítica | Festival

Parque Oeste

(Parque Oeste, BRA, 2018)
Nota  
  • Gênero: Documentário
  • Direção: Fabiana Assis
  • Roteiro: Fabiana Assis
  • Duração: 70 minutos

Em fevereiro de 2005 a polícia militar de Goiás realizou uma ação covarde e criminosa no Parque Oeste Industrial, em Goiânia, que culminou em mortos, feridos e milhares de desalojados. Eronilde Nascimento, viúva de um dos assassinados, é a guardiã da memória do acontecido, uma liderança no bairro onde foram alocados os remanescentes da ocupação e o foco deste documentário de Fabiana Assis. Parque Oeste é uma versão prolongada (e irregular) do curta Real Conquista, também dirigido por Fabiana e premiado em diversos festivais ao longo de 2017.

O longa-metragem começa de forma instigante, com fotografias da construção da cidade e o comercial de um pomposo empreendimento, mas não sustenta a expectativa quando se volta para cenas da vida doméstica e do dia a dia de Eronilde. A improvável inserção de 300 (“a guerra começou com ressentimento”) até é boa, mas o que realmente acende a chama de Parque Oeste são os registros feitos por Brad Will nas noites de confronto com a PM e no fatídico dia da invasão. A urgência e a baixa qualidade das filmagens, especialmente por conta da pouca luz, geram fantasmagoria, travamento, agonia e aflição.

Parque Oeste
Foto: Divulgação

São estilingues pensando em enfrentar inconfundíveis disparos de arma de fogo, muitos gritos, braços para o alto e covardia praticada pelo estado. Mesmo estado que incentivou a construção daquelas casas. Uma batalha campal desigual precedida por ações desumanas como pressão psicológica, privação do sono, iluminação e direitos básicos e ataques violentos inclusive contra crianças e idosos. Parque Oeste funciona enquanto filme de guerra. Bang bang em plena cidade e ignorado por muitos. É o tipo de coisa que a gente só acredita vendo e enquanto vê fala: “não acredito”. O doc, no entanto, não é bem resolvido para além dessas preciosas imagens de arquivo e algumas outras do momento imediatamente posterior à expulsão dos moradores.

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Real Conquista tem problemas de montagem, mas seus 14 minutos dão conta plenamente da história e da rotina de Eronilde, que aqui, esticadas e frias, se arrastam anticlimaticamente junto com outras cenas sem qualquer razão de existir para além do aumento da duração da obra. É louvável a mobilização social dessa incansável lutadora, mas a cineasta não consegue filmar isso de modo interessante ou encontrar a forma ideal de equilibrar o antes, o durante e o depois do massacre em sua narrativa, que claramente tem o evento trágico (ou no mínimo o lugar onde tudo aconteceu) como protagonista, mas insiste que não.

Um Grande Momento:
O abrigo na casa de estranhos enquanto a bala come.

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[III Mostra Sesc de Cinema]

Taiani Mendes

Crítica de cinema, escritora, poeta de quinta, roteirista e estudante de História da Arte. Também é carioca, tricolor e muito viciada em filmes e algumas séries dos anos 90/00.
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