- Gênero: Policial
- Direção: Daniel Markowicz
- Roteiro: Daniel Bernardi
- Elenco: Piotr Witkowski, Jan Wieczorkowski, Roma Gasiorowska, Antonina Jarnuszkiewicz, Rafal Zawierucha, Pascal Fischer, Marcin Bosak, Nicolas Przygoda, Zuzanna Galewicz, Daniel Namiotko
- Duração: 96 minutos
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Em 1996, Tom Berenger era um astro. Indicado ao Oscar por Platoon, enfileirou sucessos de bilheteria até chegar a um período onde somente os filmes genéricos chegavam até ele. Nesse momento, surgiu um sucesso inesperado, O Substituto, um filme sobre um improvável professor de uma escola infestada de traficantes de drogas; improvável porque esse homem, na verdade, era um mercenário do governo americano infiltrado para desbaratar a gangue. Pois é exatamente essa a trama de Plano de Aula, produção polonesa que entrou em cartaz na Netflix com as prováveis mesmas intenções finais do longa com Berenger: divertir, somente. Aqui, nem uma tentativa de manter o nome de um astro nos holofotes existe, é apenas o passatempo mesmo.
Dirigido pelo mesmo Daniel Markowicz de Bartkowiak, o filme não sobrevive a uma olhada mais profunda na direção de coisa alguma. Se você encarar como uma produção que não lhe acrescentará nada e que você pode assistir num dia de chuva esperando um compromisso qualquer, esse é o programa. Mas se a cinefilia ultrapassar o espectador comum, Plano de Aula não resistirá muito tempo – e nem ficará muito tempo na memória. A Netflix tem investido muito na cinematografia europeia, e a Polônia é um país que raramente passa um mês sem investir em produção nova. A grande maioria tem os atrativos que esse aqui tem, uma proximidade que se estabelece com o público em comunicação e essa intenção de distração ligeira.
Quando digo que o filme não resiste a análise, não me refiro a qualquer preconceito diante de um material dito menos sofisticado, ou apenas algo corriqueiro. O problema de Plano de Aula são os problemas que ele tem, de direção, roteiro, incongruências estéticas e narrativas, sem qualquer lastro exótico que pudessem justificar – ou não – tantos deslizes. Como algo barato que percebemos ser, não no sentido financeiro mas no desleixo coletivo perceptível, o filme falha desde as coisas mais básicas até as mais elaboradas. Em determinado momento, o riso involuntário poderia ajudar a digestão do todo, mas o clima extremamente soturno criado para a produção impede até a diversão de dar as caras.
Plano de Aula é um filme cujo protagonista, além de policial, é um exímio lutador de artes marciais, ou seja, as cenas de ação não se resumem a tiros e correrias, mas pernadas voadoras e ‘gravatas’ a granel. Nesse sentido, viva Força Bruta, que utiliza objetos cortantes de todos os tipos para auxiliar nas tais cenas. Aqui, Damian distribui bordoadas por aí e nenhum problema há nisso, per se; o problema está na péssima coreografia de todas as lutas, que parecem mais um telecatch improvisado do que uma representação de algo físico real. Os contatos entre os corpos muito claramente não são feitos em grande parte das sequências, o que retira qualquer chance de credibilidade das mesmas, e a sonorização evidente só torna tudo mais artificial.
A montagem e o roteiro abrem mão de qualquer coisa parecida com lógica muito rápido, e o espectador segue observando uma história que faz cada vez menos sentido a cada novo bloco de acontecimentos. Um homem que finge ser professor e engabela a todos com muita facilidade, mesmo se infiltrando em uma escola criminosa; uma acusação de assédio sexual sem maiores consequências; uma paixão eterna… que dura exato um ano após a partida de um dos vértices. Sobram elementos ruins para dar conta de tudo em Plano de Aula, uma produção que parece bem pouco preocupada em convencer alguém de sua qualidade, que segue do início ao fim provocando incredulidade de quem esperava algo minimamente decente.
Faltando exatos 6 minutos pro fim da sessão, Plano de Aula se dá conta de que faltou humor no molho. O filme ganha uma rejuvenescida, um fôlego extra que não vinha sendo atingido até então. São diálogos e situações devidamente surreais que atravessam a tela com muita propriedade. Tanto os atores quanto os personagens parecem ter esperado esse momento desde o começo e tem, enfim, a chance de dar ao filme uma outra carga emocional, que não foi perdida com a entrada desse deboche. E aí, o deboche real parece ter sido dos criadores, que não utilizaram esse recurso o tempo todo da produção, e as chances de terem rido do nosso sofrimento em toda duração é bem grande.
Um grande momento
“você tem conhecido mulheres estranhas”