Crítica | Festival

Portuñol

(Portuñol, BRA, 2020)

  • Gênero: Documentário
  • Direção: Thais Fernandes
  • Roteiro: Boca Migotto e Thais Fernandes
  • Duração: 70 minutos
  • Nota:

Presupuesto que fazer documentales envolve encontrar personas, como Thais Fernandes (Um Corpo Feminino) vai fazendo no road movie constituído por andanças nas fronteiras Sul do Brasil. Mientras que Uruguai e Argentina tem uma cultura que muchas vezes se confunde com a dos pampas, a documentarista gaúcha vai relevando em Portuñol os caminhos partilhados e vivências que cruzam também a fronteira tríplice do Paraguai, Brasil e Argentina – inclusive jogando por terra esse conceito: “tudo é num só, não existe fronteira territorial para nós, a língua é o que nos identifica e diferencia, valoramos muito oralidade”, cuenta a principio em off Delmira Peres, tekoha avá-guarani.

Sobre essa língua misturada, o português, e o espanhol, que tem algo de quechua e guarani, integra e estreita as distâncias. Podría ter um efeito mais duradouro do que o Mercosul, a difusão do portunhol selvagem que é uma paisagem simbólica – nas palavras da professora da UNILA, a Universidade Federal da Integração Latino Americana onde as aulas são em dois? Uma língua uno, que conflui idiomas.

Portuñol (2020)

Nas cataratas de Iguaçu, nos rios que correm pelos países fronteiriços, ressoam com velocidade, pelas águas e ar as rimas dos rappers guarani. O orgulho dos povos originários que esperam por respeito é rimado e ritmado pelo jovem rapper Fabian Velasquez compõem em espanhol e faz questão de traduzir em guarani para que seus parentes entendam. A cultura como arma de defesa é uma das ideias que norteiam esse muito coeso filme, mapeado alguns especialistas mas especialmente destacando las personas comuns que cruzam o caminho.

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Portuñol engaja e rende más y más desdobramentos, deixando a boa sensação de que a cineasta ainda teria potencial para subir para a Amazônia, por exemplo, e descobrir mais personagens instigantes. Como o comerciante Gerson que todo o dia cruza países, com a família no carro, saindo de Puerto Quijarro na Bolívia até Corumbá no Brasil para vender suas mercadorias na feira , mencionando o quanto acha importante está podendo falar o quanto as pessoas que vivem na fronteira são tratadas de maneira marginalizada, já que é um lugar para as cruzar, apenas de passagem.

Portuñol (2020)

A Pachamama, divindade mãe da cultura andina tem muito que a ver com a própria noção de pertencimento a esse lugar que é a Latino-America para aquellos que são ‘hispanohablantes’. Para os brasileiros, até por viverem num país com dimensões continentais, fica sendo complexo e até difuso o se identificar como sulamericano e compreender lo que os une. A cineasta desvia dos percursos fáceis, deixando questões que sempre norteiam esses territórios fronteiriços – conflitos de terra, tráfico de drogas, atividades milicianas – para se deter nas vivências das pessoas. Dos depoimentos sobre não sentir a delimitação das “fronteiras secas”, onde se passa de um país para outro pois vivenciam uma cultura digamos que híbrida. E assim, Portuñol coutinhanamente entra no universo das famílias, tribos e indivíduos. Enxergando. Abraçando. E hablando con eles, fala de nosostros e desse curioso estado de apartheid dos nossos vizinhos.

Co produzido pela Globo News, o filme tem tudo para romper muitas das limitações físicas que criam verdadeiros muros impedindo que documentários encontrem uma audiência maior, seja na limitação pela distribuição em salas de cinema ou mesmo no VOD. Portuñol participa da mostra competitiva do festival As Amazonas do Cinema e da mostra de longas gaúchos (o gauchão) no Festival de Gramado.

Um grande momento
Encontro com a andarilha e entrevista na van.

[As Amazonas do Cinema]

Lorenna Montenegro

Lorenna Montenegro é crítica de cinema, roteirista, jornalista cultural e produtora de conteúdo. É uma Elvira, o Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema e membro da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). Cursou Produção Audiovisual e ministra oficinas e cursos sobre crítica, história e estética do cinema.
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