- Gênero: Animação
- Direção: Don Hall, Carlos López Estrada
- Roteiro: Qui Nguyen, Adele Lim
- Duração: 107 minutos
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O dragão é um ser mitológico profundamente arraigado na cultura de diversos países asiáticos como a China, a Mongólia e o Camboja. A ele se credita riqueza material e espiritual. Como já visto em narrativas audiovisuais como as adaptações que a Disney fez da lenda de Fa Mulan, o dragão ou lung, é depositário de todas as qualidades que almejamos: sabedoria, coragem, nobreza, força, beleza… ele é considerado um ancestral comum, sendo que, após o reinado da famosa dinastia Huaxia, todos os chineses são considerados “descendentes de dragão”. Eis que a Disney traz novamente o animal mitológico para um filme de animação com Raya e o Último Dragão, filme que seria o grande lançamento de 2021, mas por conta da pandemia Covid-19 foi lançado no VOD premium access e agora está disponível para os assinantes do Disney +.
Seguindo os ingredientes épicos da jornada do herói — ou da heroína, como o fez Brenda Chapman em Valente — Raya é uma jovem princesa de Coração, um dos territórios de Kumandra, o país que se desintegrou por meio de guerras civis entre sua população após o desaparecimento de Sisudatu — o último dragão. Raya e seu pai, Chefe Benja, são os protetores da joia, artefato cobiçado por outros líderes rivais de Cauda, Coluna, Presa e Garra. A jovem se torna próxima de Naamari, princesa deste último reino, e sua jornada começa a partir de um revés provocado pela amiga.
Animação deslumbrante, Raya se passa num país fictício do Sudeste Asiático, algo que lembra a Indochina, com seus palácios e construções milenares de pedra, e emula alguns referenciais da cultura pop, como o deserto de Tatooine ou uma cidade flutuante como em Kung Fu Panda, ou os filmes de artes marciais em uma espécie de templo budista. O primeiro figurino de Raya, por exemplo, remete ao de Kitana, a ninja do game Mortal Kombat.
A princípio, Raya embarca na “quest”, na jornada aventuresca, para salvar o pai, mas os encontros no caminho e os perigos a fazem cair em si, encarar seus medos e se fortalecer. O filme vai cumprindo quase que integralmente as 17 etapas do monomito de Campbell, estrutura que está presente em boa parte dos roteiros de filmes de ação e aventura hollywoodianos. Como aliado ao mesmo tempo que o cálice sagrado, a excalibur ou o “elixir” em si está o último dragão. Este, como relíquia sagrada, simboliza a pureza de propósito e iluminação frente à ameaça.
Longe de ser engajado com pautas sociais contemporâneas em seu discurso, Raya e o Último Dragão até ensaia uma rivalidade que beira um romance entre a protagonista e sua oponente Naamari, mas não se aprofunda, até pela aparente vontade em atingir uma faixa etária bem ampla e fugir das problematizações (sempre bem vindas em produtos midiáticos). Na realidade, Don Hall e Carlos Lopez-Estrada fazem do 59º filme do estúdio uma fábula de aventura clássica, sem prosseguir pelo caminho da emancipação trilhado por Chapman em Valente ou por Jennifer Lee, com o certo tom queer dado a Frozen II.
Trazendo o que de melhor e pior o estúdio do Mickey Mouse oferece quando quer abraçar a diversidade mas não tanto, Raya e o Último Dragão encanta e também decepciona, já que a mensagem que fica é a de “só vamos curar o mundo confiando uns aos outros”. É uma boa mensagem, pacifista mas a construção das personagens e o progresso da aventura em si não tornam a saga tão edificante quanto poderia ser, por mais bonito que seja o desfecho.
Um grande momento
Confronto na floresta de bambus