- Gênero: Drama
- Direção: Natalia Beristain
- Roteiro: Natalia Beristain, Diego Enrique Osorno, Alo Valenzuela
- Elenco: Julieta Egurrola, Teresa Ruiz, Arturo Beristáin, Adrian Vazquez
- Duração: 102 minutos
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Em 26 de setembro de 2014, na cidade de Iguala, no México, 43 alunos da Escola Normal Rural Raúl Isidro Burgos de Ayotzinapa a caminho de um protesto foram sequestrados, com nove deles assassinados no local. Os jovens jamais foram encontrados e a história, apesar da luta dos familiares dos desaparecidos e toda a pressão internacional, nunca foi totalmente esclarecida. A tese mais provável é a de que a polícia do lugar, a mando do prefeito à época, sequestrou o ônibus onde estavam e os entregou ao grupo criminoso Guerreros Unidos que os torturou, matou e incinerou os corpos. A terrível história serve para ilustrar uma realidade que assombrou e segue assombrando o México. Hoje, o país conta com quase uma centena de milhares de desaparecimentos forçados e inúmeros familiares que vagam, sem ajuda das autoridades, criando seus próprios mecanismos para buscar alguma pista.
O tema, urgente, chegou ao cinema mexicano e é central em Ruído, de Natalia Beristain. O filme narra a jornada de uma mãe que parte da capital a procura de sua filha desaparecida em uma viagem de férias. Depois de nove meses buscando alguma resposta do Estado, com o ex-marido abatido pela depressão, ela resolve tomar as rédeas da investigação e parte nessa busca que, sabe-se, será difícil. Em algum lugar entre La civil, drama de ação mais direto de Teodora Mihai com o mesmo plot, e Zapatos rojos, sensível longa de Carlos Eichelmann Kaiser sobre um pai que em viagem reversa sai de seu vilarejo para buscar o corpo da filha na capital, a coprodução mexicana-argentina alcança o medo, o horror e a dor.
Muito da conexão com o público se dá pela intensidade da interpretação de Julieta Egurrola (Vermelho Sangue), ótima no papel de Julia, a mãe, mas Beritain trabalha bem os elementos para além da qualidade de sua atriz, ressaltando os silêncios, os espaços vazios e criando representações gráficas para os sentimentos. Ruído abraça o drama, mas tem momentos de ação, expondo a situação por vários ângulos e, embora tenha como foco o desaparecimento forçado de Gertrudes, trata do descaso estatal, grupos de apoio, advogados de direitos humanos, grupos criminosos, corrupção policial e manifestações civis. Por um bom tempo, o filme confia nas imagens e nos sentimentos que tem a capacidade de despertar, evitando a obviedade, mas não segue assim até o final.
Dentre seus pontos positivos está o modo como ultrapassa algumas barreiras no retrato que faz da questão, saindo dos vilarejos, alcançando a classe alta intelectualizada e expondo mais abertamente a questão policial. A maneira como trata a solidariedade entre as mulheres, não só nos grupos que se formam ou nos discursos que se proferem, mas especialmente na figura da jornalista Abril Escobedo, vivida por Teresa Ruiz, da série A Casa das Flores, um mãe que justamente não deixa de ajudar para que a filha tenha um futuro melhor.
Infelizmente, o próprio filme demonstra o quanto esse futuro está distante. Falando de um país onde a violência está tão arraigada e o problema chegou a tal complexidade, não haveria como escapar do pessimismo, mas a luta de muitos continua, e é nisso que reside a esperança de transformação. Ruído mostra que existe quem queira mudar e faça muito por isso, mas não poderia desviar do que existe hoje.
Um grande momento
Saindo do lugar depois do encontro
Uma busca pela verdade que causa dor e sofrimento. Não é fácil conviver com isso.